27.11.06

Ontem eu acompanhei na guitarra meu velho partner Hélcio Luiz num show no clube que freqüento. Fiquei feliz ao perceber que ainda sabia tocar todas as músicas do nosso repertório e até fiz umas firulinhas no meio de algumas. Realmente, tocar um instrumento é como andar de bicicleta: impossível esquecer. Eu ia apenas dar uma canja, mas toquei durante quatro horas amarradão.

Depois que a Elis me disse que estou encaretando, só escrevendo e deixando a música de lado, estava mais que na hora de praticar um pouco.

21.11.06

É só ler de leve nas entrelinhas do noticiário político para perceber que nenhum de nossos supostos representantes parece interessado no bem-estar do país. Pensam com seus egos inflados, suas vaidades, jogam o jogo usual e dançam a mesma dança de sempre para ficar por cima da carne seca.

É o espectáculo do desapontamento.

14.11.06

Só restou o poema
e o meio-fio onde desabar;
melhor deitar sobre a relva
e contar estrelas-miragens.

É como canta o Jim Morrison:
o fim do riso
e das mentiras suaves.

Eu sou um cão vagabundo
encharcado de chuva
na sua varanda silenciosa
sentindo falta
de suas mãos doces.

13.11.06

Não gostar

Você brandiu a varinha
e tornou meu amor em velho pergaminho
levado inconsolável
aos solavancos
por uma tempestade de areia.

Cicuta perde
arsênico perde
letal é a rejeição
banal, a solidão
e eu odeio essa angústia clichê que estou sentindo.

são lúgubres
as cavernas da culpa cristã
cheias de morcegos
dentro dos ventrículos;
eu pranteio a morte dos velhos deuses
trocados pelo medo do prazer
trocados pelo horror à vida
e pela evisceração do desejo.

Para mim foi o bastante
perceber seu pavor;
será doravante meu lema
o não gostar.
Como meu amor-pergaminho amarelento
esquecido nas areias escorchantes
vou endurecer e quebrar
e aguardar a escuridão.

6.11.06

Hoje este blog faz cinco anos no ar.
A todos vocês que o acompanham, meus agradecimentos mais profundos.
Um beijo especial para Cora e Elis, que me incentivaram a criar este espaço.
Minha coluna mais recente no Info Etc:

16-10-2006

"ATENDIMENTO NOTA DEZ

André Machado

Toca o telefone na casa do dr. R. Sua mulher atende ao passar pela sala.
- Bom dia. Estou falando com a residência do dr. R.?
- Sim.
- A senhora é a esposa?
- Sim.
- Aqui é a administradora do cartão de crédito X, senhora. Está constando nos nossos computadores que o dr. R. tem uma dívida com o cartão no valor de R$***. Nós gostaríamos de estar lhe oferecendo um parcelamento que ele poderia estar pagando...
- O dr. R. não está interessado em parcelamentos de qualquer espécie.
- Como...?
- Ele não "vai estar quitando" esta dívida.
- Mas, senhora... a dívida a que estou me referindo é antiga... o nome dele já está constando no SPC e no Serasa...
- Ele não liga a mínima para Serasa ou SPC.
- Senhora, mas se ele não pagar a dívida não estará mais entrando em condições de estar fazendo compras a crédito.
- Ele não "vai estar pensando" tão cedo em "estar fazendo" compras a crédito, moça - responde a esposa, sibilando de raiva.
- Senhora... por gentileza... a senhora poderia estar passando o telefone para o dr. R.?
- Não poderia, não. Ele não está no momento.
- Então como eu poderia estar fazendo para estar contactando-o?
- Olha, minha filha, talvez você queira "estar procurando" um centro espírita. O dr. R. já "está se deitando" num túmulo há mais de dez anos.

&&&

Na loja da operadora de telefonia celular, a dra. S. entra explicando que precisa falar com uma atendente. Pacientemente, pega uma senha e espera na fila. Ao ser chamada - quase uma hora depois - para a mesa da atendente, vai direto ao assunto.
- Quero cancelar este telefone celular de meu pai - começa.
- Sinto muito, senhora, mas não vou poder estar procedendo ao cancelamento do celular - responde a atendente, muito solícita. - É preciso que o titular da compra esteja vindo aqui e providenciando o cancelamento ele mesmo.
- Mas, moça, neste caso isso será impossível. O titular não pode comparecer à loja. Você compreende, ele faleceu há dois dias.
- Senhora, me desculpe, mas não é possível estar cancelando... só mesmo com o titular.
- Você está vendo este papel aqui? - devolve a dra. S., tirando um documento da bolsa. - É o atestado de óbito original de meu pai. Ele está MORTO. Como pode comparecer a esta loja?
- Lamento, só estaremos podendo proceder ao cancelamento do celular com a presença do titular... A senhora não gostaria de estar passando o celular para o seu nome, ou outro membro da família?
- Ah, para isso podemos dispensar a presença do titular, né, minha filha? Muito bonito. Pra comprar, pode tudo, pra cancelar, só na filial do inferno.
- Mas minha senhora... certamente que alguém da família...
- Não quero um novo celular. Nem meu marido. E nossa filha só tem um ano de idade. E meu celular é de outra operadora, graças a Deus... Não, eu só quero cancelar o celular de uma pessoa que já morreu! Que parte de "já morreu" você não consegue entender?
- Lamento, mas...
A dra. S. não a deixa terminar. Pega o celular do pai, bota-o na mão da atendente e, levantando-se:
- Então, por favor, fique com o celular dele. Quem sabe um dia ele não te telefona e aí pede o cancelamento direto do além para você? Faço votos que ele te ligue, viu? Passar bem.

&&&

Os diálogos acima ganharam alguns retoques. Mas ambas as histórias são absolutamente verídicas.

&&&

Eu já tinha falado dele aqui, mas agora é oficial: foi lançado em português o Suse Linux Enterprise 10, cujo foco é voltado para as empresas. Uma das atrações da distribuição é a virtualização nativa no sistema, baseada na ferramenta de código aberto Xen 3.0."

1.11.06

Um dia de sol
na baía de Guanabara
basta

Flanar
com um livro no colo
sobre as águas milenares
basta

Olhar
para a fêmea de ombros
de alabastro
que olha para
a baía de Guanabara
basta

Receber
o afago do vento
e deixá-lo levar
os problemas em casa
basta

Ser um
com a paisagem
basta

para saber que existe um Coreógrafo cósmico.