28.10.04

Marat, onde está o "Amigo do Povo"?
Robespierre, escondeste a pena das sentenças?
Danton, esqueceste a audácia e adotaste a tibieza?

Ó revolucionários! deveis retornar para verdes
a igualdade dos miseráveis
a fraternidade dos corruptos
a liberdade dos poderosos.

Guilhotina, dizeis? Qual!
Aqui nos trópicos
ela é a lâmina tripla da gilete
que torneia pescoços bem-nascidos
e só.

se brancura é sem mácula
por que meus pêlos alvos se tornaram
durante o eclipse
e na mesma noite da tribulação vil-metálica?

ah, que o limbo seja multicolorido
qual doce em parque de diversão
e que apazigue os sem-esperança
esquartejados pelos fiéis do Mercado.




25.10.04

Semana passada fui ver minha filha Jessica se apresentar com o coral de sua escola. Foi no Teatro Municipal de Niterói. Fui esperando assistir a um show de colégio -- e fiquei boquiaberto ao ver o altíssimo nível do trabalho. O coral juvenil, onde ela canta, deu um show de afinação, ritmo e carisma, num clima de excelente astral. Corujices à parte, é o André músico que escreve estas linhas: foi emocionante ver as versões do coral para "Mercedes Benz" e "Conversa de botequim", entre peças do século XVI e outras canções. Uma coisa. O teatro aplaudiu longamente e eles deram um merecido bis.

Na saída, abracei Jessica emocionado e mostrei quão orgulhoso estava ao saber que a saga musical de nossa família continuava (meu avô materno tocava diversos instrumentos e foi no violão de minha mãe que exercitei os primeiros acordes, aos 11 anos, para logo em seguida ser fisgado pelo tal de roquenrou).

19.10.04

Chega!
vou dormir sob a amendoeira
que labutar é amargo;
quero que o mar leve meu corpo
e o faça uno com as ondas e plânctons
preocupados apenas
em passear entre dois azuis.


18.10.04

pediu um drinque e ficou ali
ouvindo a banda
e segurou algumas lágrimas
por haver se tornado platéia
e pior -- platéia com a memória
de alguma glória sob os holofotes.
Não mais podia, como Townshend,
empunhar sua guitarra e tocar
exatamente como dantes.
Mas podia lembrar.
E isso doía mais.
Ela devia ser um fotograma de cinema
pois na noite suja e entrecortada por rajadas
estava linda, intocada pela fumaça das conversas ralas
e ele ficou perturbado
como não ficava desde as tempestades da adolescência
e seus globos desceram das órbitas,
rolando até os pés da mais desejada
e se misturando à doçura que ela derramava sem sentir.



7.10.04



Olhaí eu e mestre Aroaldo Veneu no lançamento de nosso livro, na Livraria da Travessa em Ipanema. Noite divertida, com direito a um chope depois para comemorar. ;-)