26.2.02

Dois lindos devaneios: um da Crib Tanaka, outro da Alessandra Archer.

"Procurou versos espalhados em sua memória para tentar escrever uma canção. Não gostava de rimas, terminações que soavam como refrão de música de missa. Procurou achar a dor que descrevera na mesa de bar, mas o papel desmanchara-se. A testemunha única não resistira aos poemas que saíram dela em forma de rios. Tentou então, exalar de novo cheiro de margaridas pelos cabelos. Em vão. Sentada como criança triste, fazia bico até. Tentando escrever, terminou traçando linhas, formou desenhos. Tinha a vista turva, sentia-se abandonada. Ela mesma saíra de si e não avisou quando voltaria." (Crib Tanaka)

"Sabia que era perigoso falar sobre o assunto, ainda tão vivo. Era uma descoberta quase explosiva e feliz. Quis usar palavras, mas não as encontrou sublimes como pretendia. Porque assim precisavam ser para que expressassem com dignidade a lua daqueles humores. Era vontade esparsa de viver. Comera alguma fruta para amenizar a ansiedade. Sentiu-se liberta do porto de seus conhecidos e rotineiros sentimentos. Alargou-se. Mesmo assim, imaginou uma briga inexistente. Mas ao longe, bem ao longe, ouviu um rugido de uma porta batendo fortemente. Tampou os ouvidos, fechou os olhos e deixou aquele beijo urgente escapar. Não ouviu mais nada. Os olhos ficaram secos, o coração acelerado, as mãos um pouco trêmulas. Refez uma palavra-cruzada jogada no porta-revistas no canto da sala. Ouviu
um bêbado cantando uma bela canção. Dormiu embriagada pelo vento molhado da madrugada que era o que ainda restava de beleza naquele dia." (Alessandra Archer)

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