20.2.02

O erro

Eu me dei de presente a ti
Mas não me desembrulhaste ansiosa
Como, inocente, pensei a princípio.
Deixaste-me na estante, quieto e taciturno,
Enquanto me fitavas com nítida desconfiança.
Pois meu presente tem, é claro, um passado,
E abri-lo representa tomar nos braços
Tudo o que vem com ele.

Então fiquei ali
De frente para o relógio na parede
E ao lado do calendário,
vendo passar a procissão de embrulhos mais amados do que eu.
Alguns te decepcionaram
Outros te deram prazer, por um tempo,
E uns poucos mereceram -- por vezes sem perceber --
tua paixão fulminante.

Num dia úmido de inverno, então,
Desviaste os olhos da hipnose a cabo
E te deparaste com aquele pacote embolorado na estante.
Cheia de tua solidão, furiosa com tua mais recente escolha,
Tomaste-me de chofre,
Rasgando em finas tiras o papel
E agarrando o meu coração.

Ah! mas que surpresa tiveste!
Ora, achavas que ele bateria ainda?
Sim, tal poderia ter sido a melhor panacéia para tua pobre alma
Mas esperaste diligentemente até o absoluto fim
Do prazo de validade.

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