29.1.03

Debate

-- Adoro arte de vanguarda.
-- Tudo bem, mas você entende?
-- Não é questão de entender, é de interpretar.
-- Eu acho que a gente só interpreta algo que foi capaz de, em alguma medida pelo menos, entender.
-- Não é isso... A vanguarda mexe com o caldeirão cultural, é importante.
-- Tudo bem. Mas não precisa fazer isso com o dinheiro do contribuinte.
-- Por que não?
-- Existe algo mais incompatível que vanguarda e governo?
-- Você é um reacionário mesmo.
-- Por quê? Só porque gosto de ver coisas com começo, meio e fim?
-- Os teóricos do teatro alternativo, por exemplo, mexem com idéias, cara, não estão aí para estruturas carcomidas.
-- Não se irrite. Eu até gosto dos textos deles. Pelo menos o que escrevem eu entendo. Já o que encenam...
-- O público tem que participar mais, tem que haver mais interação com o palco.
-- O teatro não é a internet. Na internet é que tem que haver essa interação nivelada. Aliás, a internet é que é de vanguarda. Esse negócio de reinventar a roda no teatro cansa, você não acha?
-- Você precisa ficar mais aberto a experiências.
-- Pode ser, mas que experiências? Existem experiências e experiências, se é que você me entende.
-- Não entendo.
-- Não considero ofender o público, fazê-lo ir para o palco pagar mico e matá-lo de vergonha, por exemplo, uma "experiência".
-- Se dependesse de você, nosso sistema ainda seria geocêntrico.
-- Não exagere.
-- Ah, chegamos. Vamos ver o quê? "Cidade dos Sonhos" ou "2001"?
Pausa.
-- Olha... que tal um jantar naquele restaurante francês? Você come um prato exótico e eu, um filé...


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