28.2.03

É mergulhado aí que pretendo passar os próximos dias ;-). E descansando à beira d'água.
Bom carnaval a todos!



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27.2.03

A edição Urbanidades do supimpa site Falaê está dez! E em breve vou estrear por lá a "Coluna do Cadafalso", com crônicas variadas, em princípio abordando lugares e cotidianos do Grande Rio. O super Augusto Sales, como sempre, editando que é uma beleza. Augusto me informa que vou estrear a coluna junto com a do guitarman. Uma grande honra.

26.2.03

Ótima, ótima, ótima idéia esta da Rossana Fischer. Vale conferir, o template é bonito e já vem com lista de blogs pré-pronta ;-)


Quer entrar para o mundo dos blogs
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25.2.03

Blue story

Alessandra Archer e André Machado

Estava treinando tons de azul para pintar um vaso de cerâmica. Possuía a doçura no olhar que ele tanto admirava. Considerava-se uma artista de valor, e era. Mas não perdera a docilidade: não fora enfeitiçada pelo vício da vaidade.

Ele estava deitado, vendo-a escrever. Não treinava os tons de azul com o pincel; buscava-os com seus alternantes estados de espírito. Um parágrafo cian aqui, três palavras cobalto ali, um poema anil, um desabafo marinho.

A tela do computador de repente se encheu de cores. E o programa de desenho nem estava aberto.

Mas ela só encontrou o tom de azul que realmente desejava quando ele beijou sua nuca e tocou-lhe os seios delicadamente.

24.2.03

Do meu chapa Gustones, hoje de manhã:

"O Rio realmente acabou. Continua lindo, mas um lindo cadáver. Se você não mora aqui e ouve sempre falar, nunca veio, e sonha vir conhecer, esquece. Sério mesmo, esquece. É dificílimo um lugar onde você não seja assaltado, atacado, achacado, corrompido, pressionado. Todos em volta parecem querer seu dinheiro: assaltantes, pedintes, mulheres que usam criança no colo, pivetes, camelôs e até mesmo policiais. Por isso, você de fora, não venha ao Rio. É perigoso mesmo.
Você acha que estou sendo fatalista? Bom, então pensa o seguinte: o que ajuda a evitar que pessoas se tornem criminosas? Emprego e salário. Oito anos de FHC ajudaram a acabar com o primeiro item. O segundo, bom, se eu que sou jornalista já não recebo um salário interessante desde abril de 2001, imagine quem é balconista (não que eu ache a primeira profissão mais digna que a segunda).
Aí vêm os seqüestros e ajudam a afastar o empresário que, se não gera salário, pelo menos gera emprego. Lembrem bem, muita gente já deixou de se instalar aqui, apesar do propagado crescimento da indústria fluminense (crescimento no qual eu me recuso a acreditar) nos últimos cinco anos. Junto com os seqüestros, a insegurança, a violência, o desemprego. E para arrematar de vez, vem a governadora e AUMENTA O ICMS! Sério! Aumenta o imposto que em diversos outros estados vem sendo reduzido - alguns dão até isenção temporária para atrair empresas.
Tudo para arrecadar verba que, se não for para colocar na Suíça, no mínimo é para políticas assistencialistas/paternalistas.
Sim, o Rio de Janeiro acabou. A população criminosa está finalmente alcançando a não-criminosa em termos de números. Logo seremos meio a meio."

22.2.03

Pedinte

A solidão lateja hoje. Tum-tum-tum.
Cada têmpora é um latão desgovernado
cheio de sangue arterial
descendo por paralelepípedos cercados de espinhos.

Amiga querida, eu preciso muito de você.
Me empresta uns centavos do seu amor?
Só um trocadinho, vai.

Está tão cinza-chumbo aqui.
Beije minha boca, por favor.
Faz de conta que eu sou aquele canalha
que você secretamente idolatra.

Colo. Seu colo quente para debelar o tremor.
ah, como eu tenho sonhado com ele.
Seja gentil, só esta noite.
Disfarce sua beleza e crueldade.
Finja que eu não te amo desde o Gênesis.

21.2.03

April is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Winter kept us warm, covering
Earth in forgetful snow, feeding
A little life with dried tubers.


(TS Eliot, "The burial of the dead")

20.2.03

Vamos cantar, moçada ;-))

Os belicistas -- "Já sei Bombardear"
(W. Bush, Collin Powell)

Já sei bombardear,
já sei armar o missil
agora só me falta atirar
já sei invadir, já sei peitar a ONU agora só me falta explodir

Não tenho paciência pra negociação
eu tenho é mania de perseguição

Não ouço ninguém,
acuso todo mundo o Bin Laden e o Hussein
Não livro ninguém,
exploro todo mundo, acho que o mundo é meu também

Já sei derrubar,
já sei jogar a bomba na tua base militar
Eu sou o juíz,
e não tô nem aí pra tantas vidas de civis

Peguei experiência com o Afeganistão
Se antes eu falhei, agora num erro não.

Não ouço ninguém,
até o Collin Powell tá igual a mim também
Não livro ninguém,
primeiro o petróleo depois Amazônia também

Eu tô querendo, Saddam Hussein
Eu tô querendo, tudo o que tiver
Tô te querendo, não tem pra ninguém
Tô te querendo, petróleo do Hussein...

19.2.03

Receita de madrugada de carnaval

O vestido vermelho
as franjas perto de seus seios arrebitados
o campinho cercado de árvores
a cerveja derramada
o beijo suado, trêmulo, molhado
as marchinhas no salão de background.

A conversa sinuosa sobre o outro em sua vida
o desejo de se entregar e esquecer
os jogos de psicologia barata
as carícias ardentes.

O passar desapercebido das horas.
A manhã
a banda descendo em direção à lagoa
seu último abraço, apertado, alegre-triste.

Ah! musa efêmera dos festejos da carne,
seu nome se perdeu na neblina do tempo,
mas não seu toque, sua pele, sua língua,
que até hoje batucam, doces, em meu cérebro.

18.2.03

Cortesia de mestre C@t: o primeiro bug da história, de 1945.


14.2.03

Carta aberta a meus credores
(com exceção de M. N., o único agiota de coração mole do cosmo)

Ó corvos de plantão!
Ó gralhas sem cor nas cornijas da infâmia!
Ó sorrisos invisíveis de hienas!
Ó cupins e traças e vermes e todas as criaturas rastejantes!
Dizei!
Dizei de uma vez por todas se desejais meu sangue,
que hemácias, leucócitos e plaquetas, tenho-os à farta.

Oh! com mil diabos! O ouro não me aprecia, podeis entender?
Óbolos e dobrões escorregam de minhas palmas
como a amante interesseira da cama no primeiro dia de penúria.

Tomai meu sangue, bebei-o, fazei com ele farofinhas suculentas
e deixai-me esperar por Ela sossegado.
Ah! em algum desses paraísos diáfanos
inventados pelos homens medrosos
o ouro deve valer o mesmo que o caráter de Judas
e ser chutado sem piedade como os reles seixos do caminho.
Maldito ouro!
Maldita mais-valia!
Antes nascer esponja e filtrar a podridão dos oceanos
a visitar-vos com sorrisos falsos e mentiras sérias
e espargir um milhão de explicações perfumadas de insolvência.

Ó abjetos cobradores de call-centers!
Ó amaldiçoados oficiais de justiça!
Ó abutres pestilentos do fisco de todos os séculos!
Só me resta orar para que aqueles que vieram de mim
Jamais tenham de viver, como eu, entre vós.

13.2.03

E depois dizem que a matemática é o pensamento sem dor...

12.2.03

Eis o poema que enviei para a campanha do Flávio (veja post abaixo):

A repetição

Entre os arbustos em chamas
a criança finalmente percebeu
o sentido do horror:
rios de sangue
risos de soldados-estupradores
água suja
e nenhum colo.

Sempre houve deuses da guerra
nas mitologias do mundo
e eu sempre me perguntei
que seres tais deuses governam
depois da terra devastada.

Mas os governos dos homens não aprendem
e nos condenam a repetir a História.
Ah! Cobiça insaciável!
Retira ao menos desta vez tua face de fuinha
do coração dos espíritos fracos da velha águia
e poupa-nos do déjà vu das fauces da Morte.

10.2.03



Veja tudo sobre esta excelente iniciativa contra a arrogância americana aqui.
Depois de quase um mês e meio da família inteira de Wal lá em casa, fiquei pensando que títulos de filmes se adequariam à minha falta de privacidade geral (que, felizmente, está em vias de acabar ;-))

1) 007 -- Um mês não é o bastante
2) Os outros (o retorno)
3) Eu tu ele ela ela e um monte de crianças
4) 13 familiantasmas
5) Noites de casa cheia
6) Fale com elas (pelo amor de Deus)
7) Tudo sobre minha sogra, minha cunhada, minhas sobrinhas...
8) The (endless) hours
9) The sogra remains the same
10) Separações

7.2.03

Cá estamos em 2003, e as sementes da guerra brotam mais uma vez. É como disse Platão: só os mortos vêem o fim das guerras.

5.2.03

Fui ver o segundo "Senhor dos Anéis" e quase dormi, mesmo com batalha de Rohan e tudo. Maldita curiosidade. O livro continua a ser infinitamente melhor.
Já "O chamado" é bem interessante. Um filme que assusta e deixa a gente angustiado. Mas Wal ainda quer esclarecer alguns pontos obscuros que ficamos discutindo no jantar após a sessão. Não os exporei aqui para não revelar nada a quem ainda não viu. A premissa do filme é relativamente simples: uma fita de vídeo que, uma vez assistida, condena à morte seu espectador. Mas a personagem principal quer ir mais fundo na história (é jornalista) e se depara com algumas coisas terríveis.
Por fim, eu e Jessica fomos ver o novo 007 ("Die another day"). Eu ri à beça -- as mentiras da série estão cada vez mais estapafúrdias -- e achei Halle Berry lindíssima. Mas o filme anterior, "O mundo não é o bastante", foi melhor.

4.2.03

Intranqüilo

Amar você
mexe com todas as minhas partículas.
Os fótons da alma dançam inebriados
e, ungidos pelo tesão,
conseguem estar em dois lugares ao mesmo tempo,
o céu e o inferno.

Não existe amor tranqüilo;
ou o coração salta num intrincado balé à beira das escarpas
ou pita, sossegado, o cachimbo do tédio.

A vida é bela no transe do seu beijo
mas esmaece com a distância dos olhares.
O jogo dual me consome e compreendo
que a saída é quedar-me só
e criptografar a torrente de desejo.