31.3.03

Leia tudo sobre o seminário sobre direito na web aqui.

29.3.03



Eu e o filósofo da internet John Perry Barlow, fundador da Electronic Frontier Foundation, professor do Centro de Internet e Sociedade da Universidade de Harvard e ex-letrista do Grateful Dead. Foi muito legal entrevistá-lo. Trata-se de um dos livres-pensadores mais originais do mundo digital. E uma pessoa simples e receptiva. Pediu humildemente desculpas por se fazer esperar. Se todos os entrevistados fossem assim...

Agora, o melhor não é entrevistar o John. O melhor é entrevistá-lo e ser clicado por Cora Rónai. A foto é dela.

Outras imagens do seminário sobre direito na rede:



Gilberto Gil e Barlow num debate histórico sobre idéias na web



Tia Cora com a turma da pesada de "advogeeks" do Brasil e dos EUA: atrás, Barlow, Larry Lessig, Charles Nesson e Yochai Benkler. Na frente, Max Fontes, Jonathan Zittrain, Terry Fisher, Joaquim Falcão, Cora e Ronaldo Lemos.



A editora Donna Wentworth (ao lado do professor Nesson), postando ao vivo o seminário para o blog Copyfight.

26.3.03

Há ocasiões em que, ao reportar um evento, a gente se sente no meio da História em movimento. É uma das coisas boas de ser jornalista. Estou enfurnado esta semana num seminário sobre o futuro jurídico da internet, em meio a alguns dos principais luminares de universidades como Harvard, Stanford, NYU, e de gurus do ciberespaço como John Perry Barlow, da Electronic Frontier Foundation. E as idéas fluem como o vento, em todas as direções, e maravilham os ouvintes, e nos fazem refletir que há esperança, apesar da guerra de Bush. Sensação igual, só a de ouvir e conversar com os pioneiros do software livre, que sempre têm um jeito diferente de olhar o mundo, ou de estar no meio de inventores de linguagens de programação, que são, no fundo, os lingüistas dos novos tempos.

21.3.03

Olhamos a televisão e Bagdá brilha como talvez jamais tenha brilhado, nem no tempo em que as águas do Tigre e do Eufrates eram cristalinas e e ainda se suspendiam os jardins da Babilônia.

Mas é uma ilusão: é o open-house dos quatro cavaleiros do apocalipse. São eles os grão-mestres da Nova Ordem.

20.3.03

"They wrote in the old days that it is sweet and fitting to die for one's country. But in modern war, there is nothing sweet nor fitting in your dying. You will die like a dog for no good reason."

Ernest Hemingway

14.3.03

Estive com minha irmã dia desses para tratar de assuntos de saúde (ela é médica) e aproveitamos para botar as fofocas em dia e relembrar nossos tempos en famille, que já vão longe nas dobras do tempo. Sempre fomos bons irmãos, ainda que com vidas separadas (ela hoje mora no Rio, eu fiquei em Nikiti City). Mas quando nos reencontramos depois de longos períodos a conversa corre solta, sem abismos de assunto, o que é um bom sinal. Essas conversas sempre reafirmam, para mim, que uma das mais certeiras decisões da minha vida foi sair de casa e criar meu próprio lar, ser dono absoluto do meu nariz, junto com Wal. Não há nada melhor do que a autonomia, com todas as responsabilidades que ela traz.

13.3.03

Tem dias que realmente dá tudo errado, não é? Hoje minha manhã foi terrível: marquei consulta numa clínica oftalmológica e fiquei uma hora e meia esperando. Munido de toda a minha paciência, cerrando os dentes, pedi o cancelamento da consulta, uma vez que já estava atrasado para um compromisso de trabalho. Mas os problemas com o Tempo não tinham acabado ainda: entendi mal ou me informaram erroneamente o horário agendado para uma reportagem e cheguei lá duas horas antes. Que ótimo. Pelo menos deu para almoçar com calma e retornar para a matéria, que felizmente correu bem. Será porque hoje é dia 13? ;-)

10.3.03

Prenúncio

A festa acabou e as nuvens se reúnem.
Sopra o vento da destruição, com um cheiro
enganador de água fresca.
Eu contemplo o chão sujo, os restos de falsa doçura
os cascos opacos escarrando espuma e ranço
e algo me golpeia com força o peito: a falta de você.

Toda a casa treme; das janelas recém-consertadas
desprega-se a massa nauseabunda.
As folhas fossilizadas são as únicas que dançam
-- como nós dançamos naquela noite --
e beijam os outrora elegantes umbrais
como eu beijei tua nuca no fim da canção.

E as tábuas suplicam para voar livres como as folhas,
exatamente como gemeste ao desprender-te de meu abraço
e fugiste.

Só que tua alma ficou.
E ela não me deixa superar o desejo de ti.
Estou enlouquecendo de amor,
como a casa tudo faz para entregar-se ao vento,
mesmo sabendo que no fim da espiral
não há nada a não ser uma lembrança, um espasmo
mecânico
maquiavélico
mefistofélico.

7.3.03

Traduzido do blog da Tia Cora, que cita também a carta de Leonardo Boff endossando a idéia de Marcos Arruda expressa nesta carta ao Papa João Paulo II:

"Sua Santidade:

Escrevo-lhe hoje devido a um sentimento de grande urgência. Como Sua Santidade sabe, os Estados Unidos da América estão prestes a iniciar o que pode ser uma das mais cataclísmicas guerras da História, usando armas de destruição em massa sobre a população iraquiana, cinqüenta por cento da qual tem menos de 15 anos de idade.

Estimativas tímidas dão conta de que tal guerra resulte nas mortes de 500 mil iraquianos. Parece claro que, neste momento, Sua Santidade é a única pessoa na Terra que pode pará-la. De fato, sua presença física em Bagdá evitará a iminente matança de centenas de milhares de seres humanos e forçará a comunidade internacional de nações a identificar e implementar uma genuína resolução de paz contra tal agressão antecipada e sem precedentes.

Eu imploro a Sua Santidade que viaje a Bagdá e permaneça lá até que uma solução pacífica para a crise tenha sido posta em prática. As vidas das pessoas no Iraque estão em suas mãos -- assim como o destino do mundo.

Com esperança,

Marcos Arruda
Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS)
Rio de Janeiro - Brasil
Economista e educador
Membro do movimento Fé e Política"


João Paulo II, embora seja um Papa extremamente conservador, é um político hábil e um homem de coragem. Se tomasse tal decisão, estaria mostrando aos americanos e seus cachorrinhos europeus o que é ser um grande líder. E Deus sabe como estamos precisando de bons exemplos ultimamente.


6.3.03

Se você ainda não viu "As Horas", não aconselho a leitura deste post. Mas se já viu, leia e diga se concorda.

Fui ver "As horas" no domingo. Estou até hoje maravilhado e perturbado. O filme é sublime e letal em sua beleza. As três atrizes -- Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep -- dão um show, com destaque para as duas primeiras. O olhar de Kidman como Virginia Woolf hipnotiza o espectador desde as primeiras cenas; as sutilezas de sua mente fulgurante e ao mesmo tempo turva se refletem em cada gesto, do fumar um cigarro à escolha nervosa de uma caneta. O desespero quieto e ordeiro de seu marido, Leonard Woolf, interpretado por Stephen Dillane, se opõe à liberdade, à anarquia espiritual de Virginia, simbolizada, entre outras coisas, pelas páginas do manuscrito de "Mrs. Dalloway" espalhadas pelo chão do quarto. A sombra da morte permeia as três histórias contadas, e, embora em certo ponto Virginia diga ao marido que alguém tem de morrer em sua ficção para que os outros valorizem mais a vida, é a pulsão de morrer (ainda que depois de se ter vivido plenamente) que move os personagens principais, ainda que não o façam todos e alguns usem para a Ceifadora o disfarce da libertação de uma situação. É arrepiante o momento em que Leonard pergunta a Virginia quem vai morrer na história e ela responde "the poet, the visionary", ao mesmo tempo se referindo a um personagem e a si mesma, como se soubesse, em 1923, que dezoito anos depois se afogaria numa gélida manhã em Sussex (e talvez soubesse, já que àquela altura tentara se matar duas vezes).
Ah, e Ed Harris rouba absolutamente as duas cenas em que aparece. A música onipresente de Philip Glass torna a fita ainda mais densa.
Há quem diga que o filme foi feito sob medida para ganhar o Oscar (até acho que vai), mas não concordo -- ele realmente deixa marcas e é uma tradução perfeita para aqueles momentos em que achamos que não há saída para nossas vidas (e o mundo, pelo que se vê, está passando por um desses momentos). Entrei no cinema achando que ia derramar algumas lágrimas, mas no fim, foi minha alma que chorou silenciosamente, o coração opresso, tentando bater mais discretamente para que sua angústia não transbordasse. Mas toda essa tristeza leva à contemplação, e é da contemplação que precisamos para perceber, em certas fases da vida, que nem tudo está perdido.