Às vezes uma viagem de trabalho pode ser um oportuno distanciamento dos problemas cotidianos. Em especial se você pode chegar na noite anterior à missão propriamente dita e descansar um pouco num hotel. A gente fica um pouco com a gente mesmo e experimenta a essência dos dois lados da solidão: aquele em que, digamos, se saboreia sozinho um jantar, parando para filosofar em silêncio entre uma garfada e outra, ou para explorar os arredores desconhecidos num passeio sem destino. E aquele em que sentamos na cama, controle remoto na mão, e nos damos conta de como, no fundo, os quartos de hotel são todos iguais; de como a televisão pode ser aquele abismo amorfo que nos olha de volta; de como fazem falta as trapalhadas de sua família na periferia daquele filme denso a que você quer assistir apenas para entrar em contato com suas emoções perdidas no tempo.
Então, liga-se para casa, meio que tentando esconder a própria aflição, e ouve-se do outro lado da linha a voz da filha entre risadas e traquinagens -- o som da despreocupação absoluta. E pronto, estamos salvos.
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