11.6.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XXIV


Depois de uma pausa, Jon começou:
-- Daniela me diz que tenho de pedir por ela, mas não deu detalhes...
-- Ah, não basta simplesmente pedir, jovem Jon -- respondeu o Livre-Arbítrio. -- Terá de resolver um dilema. Ou vários...
E, estendendo a mão sobre uma grande travessa reluzente, mostrou a Jon vários futuros possíveis. Num deles, estava casado com Daniela, com cinco filhos e morando num subúrbio feio, numa casa eternamente em obras, úmida, lúgubre. Noutro, os dois se entregavam a traições e agressões mútuas, o que resultava num divórcio para lá de litigioso. Noutro ainda, Daniela matava Jon por ciúmes de uma amiga escritora. Em todas as imagens dos dois juntos, havia uma espécie de urucubaca onipresente -- embora em alguns casos eles conseguissem vencer os problemas e viver juntos em relativa harmonia até ficarem bem velhinhos.
O futuro de Jon sem Daniela, que foi mostrado a seguir sobre uma tábua de carne polida, era melhor, mas nem sempre. Em alguns prognósticos ele se destacava no jornalismo, abiscoitando alguns prêmios Esso e chefiando um grande jornal; noutros se tornava um celebrado escritor. Mas havia imagens que o mostravam se entregando ao álcool e às drogas. A maioria das relações em que se envolvia não durava, embora houvesse ao menos um exemplo de casamento sossegado com uma jovem morena que ele acreditava não conhecer ainda.
Por fim, aquela estranha figura no jardim encerrou a sessão com um gesto.
-- Seu futuro pode estar entre estes. Ou não. Tudo depende de mim, ou de como você me manipular -- disse o Livre-Arbítrio. -- Mas saiba que nenhum caminho é sem dor.

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