Do diário de Robert Wilde, II:
Como podia ele viver num esquema social que reprimia violentamente sua natureza apaixonada? Por que não podia querer se entregar ao sentir a doçura infinita da voz tímida e baixa de sua amiga ao lado, e querer se entregar de novo ao ouvir as inteligentes reflexões da fascinante mulher sentada a sua frente? Por que a paixão não podia flutuar como a seta de Eros, em todas as direções, ao sabor do vento e das forças místicas do acaso?
Em dias como aquele, sonhava não ter coração e resfriar sua natureza impetuosa em números e equações. Mas aquela mulher fascinante diante dele continuava a falar e, para ele, ela era o ser mais bonito em todo o planeta naqueles minutos. E sua inteligência desnudava em palavras bem ponderadas o que ia em seu ser atormentado. Enquanto isso, uma simples pergunta e o toque fugaz em seu antebraço faziam-no pender para a morena a seu lado -- e sua doçura, mais pressentida que provada, era ainda assim mais pungente que a calda escura e tépida na salva de prata próxima.
E havia ainda a escultura platinada à esquerda, que nada dizia mas era perfeita, carne esculpida por Fídias que faria Páris abandonar a escolha de Afrodite no concurso fatídico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário