25.1.02

Gostaria de dedicar este poema a minha amiga Alessandra Archer, que conheci recentemente:

Supercondutividade

Às vezes a vida é supercondutora
E nos leva flutuando
Para o desastre;
Às vezes, somos nós que nos isolamos
Na vã tentativa de ludibriar
Voltagens e voragens sebentas.

Temperaturas em montanha-russa
Cobrem teus neurônios na madrugada
-- São eles a suprema instância
Sobre o destino que tememos
E ainda assim nos infligimos,
Eufóricos e desesperançados.

De que adianta esperar pela calmaria
Se sabemos já fabricadas de antemão
As gotas de ácido prateado?
Gritemos com a tempestade, pois
E com ela nos vistamos
E das nuvens-juízes façamos procissão
Para que, no fim,
Reste apenas vida -- vida, ainda que inchada
E combalida
Mas -- tecida em sal e despojos -- vida.

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