Nada como um pouco de merda jogado no ventilador de vez quando. Concordem ou não, todos os que gostam de poesia têm de ler a Carta Aberta aos Poetas Brasileiros do Alexei Bueno, publicada hoje no Caderno B do JB. A entrevista de Bueno, no mesmo lugar, também é excelente. Veja alguns trechos sensacionais da carta-manifesto:
O Brasil continua, até hoje, atolado na Escola do Recife e no Positivismo. É o fetichismo da objetividade, que serve de base para as maiores sandices críticas entre nós. (...) Há subjetividades muito mais exatas e diretas que mil objetividades.
Toda a grande literatura é continuidade e sobretudo ruptura.
A ''verdadeira'' poesia brasileira será a de quem a escrever grande, e João Cabral de Melo Neto não merece ser avô dos pigmeus que por aí invocam o seu nome.
Após uma luta feroz para se estabelecer uma liberdade criadora no Brasil empreendida pelos modernistas na vigência do lamentável Neoparnasianismo, acabaram por criar outra camisa-de-força, pior, na nossa literatura, que nega aos que não se filiam a ela todos os territórios expressivos conquistados após o Modernismo.
O Parnasianismo foi o Concretismo da República Velha positivista. O Concretismo foi o Parnasianismo da ditadura militar. Todos grandes defensores do ''rigor formal'', da ''clareza'' e da ''razão''! Todos muito ''modernos'', essa palavra que não quer dizer absolutamente mais nada!
A Modernidade morreu, viva a arte e a literatura! Que os seus fósseis ladrem a sua ladainha decrépita à vontade. Basta de múmias marqueteiras.
Cabe a todos os poetas desse país, especialmente aqueles esquecidos fora das metrópoles, mas sobretudo aqueles que têm algo a dizer, aqueles que sentem a imperiosa necessidade de dizer algo, pois daí nasceu sempre toda a literatura, e não de ludismos formais, mandar todo esse lixo ao espaço, e iniciar com o novo milênio uma nova poesia, que não será nem ''moderna'', nem ''verdadeira'', nem ''legítima'', nem coisa nenhuma, será grande quando o for, e moderna e verdadeira e legítima porque o foi. O espírito sopra quando e onde quer, e para nós há três milênios de riqueza poética às nossas costas, um fabuloso desprezo ao nosso lado e o ilimitado da História à nossa frente!
Ave, Alexei.
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