Sobre teus olhos (a verdade)
(para a querida C.)
Quando as luzes se acenderam,
mirei teus olhos, enfim, em meio à neblina e ao caos:
duas pérolas negras e rutilantes, imperscrutáveis,
projetando-se da ostra selvagem de tua alma.
Ah! Deus! Olhos como estes
trespassaram meu peito nu e indefeso
há muito, na aurora de meu desejo
E me abandonaram para morrer
Num campo de batalha fumegante, tomado de cólera.
Mas...
Oh, como eu te desejo, amazona,
Vestida do mais puro ébano, dançando em transe no ritual
-- como se cavalgasses o Futuro --
E deixando tuas madeixas negras valsarem também
sobre teus belos ombros
Cheias de alegre despudor, indomáveis e magnéticas.
Sim, olhos como estes já rasgaram meu combalido coração
E me pergunto -- irreversivelmente atraído --
se não vais parti-lo também.
Mas o guerreiro está vencendo o poeta
E quer acorrer a teu castelo para jurar-te vassalagem
Ou simplesmente conquistar-te no campo, numa justa arrebatante.
Beijarás o cavaleiro? Tomarás o poeta em teu regaço?
Ou usarás teus olhos, ao mesmo tempo inexoráveis e compassivos,
para enxergar o amor do homem por trás deles?
Chega: eis-me aqui. Faze de mim o que quiseres.
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