Chego para tocar no sábado e o Hélcio, meu parceiro tecladista, olha para minha cara assustado:
-- O que é que houve?
-- Como assim, o que é que houve?
-- O Marcos [batera] está de mau humor e você chega com essa cara de desânimo... A noite hoje vai ser braba -- responde ele, com um sorriso amarelo.
Às vezes é duro você ter amigos que conhece há quase trinta anos. Não importa quanto tempo fique longe deles, sempre acertam o que se passa na sua cabeça, por mais que se tente disfarçar (e eu nunca fui bom nisso).
-- Ah, cara... -- retruquei, plugando a guitarra. -- Vamos tocar, que é melhor.
Meus companheiros de banda foram gentis comigo. Concederam-me um bom momento de rock and roll, em que soltei todos os demônios com "Johnny B. Goode", e depois uma alma solidária da platéia pediu um blues. Foi atendida com gosto. Naquele dia eu estava totalmente blue, mesmo. ;-)
Nada como uma dose de rock para a gente acreditar que terá outra chance.
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