O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO
CAPÍTULO VII
Rua General Glicério, 43. Um prédio antigo. Apartamento 902. O porteiro deu um mole, ele entrou. Elevador com porta pantográfica, assustador. Corredor às escuras. Frio. O vento da tarde chiava por entre basculantes enferrujados.
A campainha pareceu não funcionar. Ele bateu então na porta.
Um toc-toc veio caminhando hesitante para a porta. Mais alguns segundos e a chave começou a ser girada; de repente, parou.
-- Quem é? -- Uma voz de homem, rouca.
-- Um amigo de Daniela.
-- Quem?
-- Jon. Vim lhe devolver um livro.
-- Ah.
A chave terminou de girar. Surgiu um cego, segurando uma bengala de madeira bastante gasta. Óculos escuros, sem camisa, uma calça cinza desabotoada sob a barriga. Pele bem clara, cabelos grisalhos já rarefeitos.
-- Boa tarde. Desculpe minha hesitação. O Rio de Janeiro anda violento demais.
-- Não há o que desculpar.
-- Sou Joachim, pai de Daniela. Prazer. Sinto, mas ela saiu.
-- Jon Lord Oliveira. Vim deixar este livro com ela -- Depositou-o nas mãos do velho. -- Tudo bem, posso telefonar depois. Obrigado.
-- Que livro é?
-- É um da Simone de Beauvoir...
-- Ah, o do conde Fosca, não é?
-- Sim, é.
-- Hum. Mais um.
-- Mais um o quê, senhor?
-- Oh, nada, nada. Eu só queria saber quantos anos iria viver o conde (se ele realmente existisse) se conhecesse Daniela.
-- Parece uma questão interessante.
-- Certamente o é. Mas não sei se você vai gostar de conhecer a resposta. Boa tarde.
O velho fechou a porta e Jon ficou parado ali, cismando.
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