30.5.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XIII


No encontro seguinte, Jon teve uma sensação estranha.
O corredor escuro agora lhe pareceu um labirinto. De repente, ele não sabia mais qual era a porta do 902. No elevador cruzara com um sujeito estranho, alto, moreno, barbudo, de óculos. O homem entrara esbaforido à medida que ele saía para o corredor, e, estranhamente, parecia não vir de lugar nenhum do corredor. Parecia ter saído, sabe-se lá, de dentro da caixa da mangueira de incêndio. Exalava um bafo de cerveja e levava uma edição gasta de “O Túnel”, de Ernesto Sábato. Os olhos eram negros e angustiados; ele mediu Jon de alto a baixo enquanto se postava numa posição curvada e desajeitada, com a mão que segurava o livro pousada, torta, sobre a cintura.
Jon sentiu arrepios naquela fração de segundo.
A porta do apartamento estava entreaberta. Ele entrou e a primeira coisa que ouviu foi a risada cristalina de Daniela. Ela estava ao telefone, aparentemente conversando com uma amiga, já que falava dos atributos físicos de um homem. Desligou pouco depois e voltou-se para Jon.
-- Oi, querido -- Abraçou-o.
-- Tudo bem? -- Depois de um beijo e uma pausa: -- Tem umas figuras esquisitas nesse seu prédio, não? Acabei de ver um sujeito barbudo que pareceu surgir do nada aí fora...
Ela deu de ombros.
-- É, são os efeitos colaterais da minha experiência.
-- É a tal viagem de que você me falou?
-- É, mais ou menos. Senta aqui -- apontou para o sofá.

Nenhum comentário: