É chegada a hora
Ah, como desejo beijar tua boca no escuro
e grudar-me nela como gruda na pele do leão
o sangue de velhos combates cicatrizados;
e ali sentir o frescor de tua essência arfante
como a brisa tênue na tarde da savana.
Tua boca há de ser um dia meu consolo
e sutura para uma face varrida pelos desígnios dos deuses;
deixar-te-ei as marcas de um homem devastado
mas também a chave para o cofre maltratado da paixão.
Beijarei-a como Salomé beijou a boca de Iokanaan,
no afã de ouvir seu último suspiro;
serei misericordioso, porém, e viverás para contar
que um dia um poeta te beijou no escuro, e tua vida mudou
e o ar se coloriu de âmbar
e da banheira se espargiu absinto
e o dia espreguiçou-se e permitiu à lua nova reinar mais tempo.
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