13.11.01

Para falar um pouco de rock and roll: não sei se alguém parou para ver, mas semana passada o Multishow exibiu no Carlsberg Music Live um show do Peter Frampton em Detroit em 1999. Fui olhar. Não sou um grande fã de Frampton, mas gosto do som dos anos 70. Dos anos 60 e 70. E o cara envelheceu mal, rapaz, tanto que quando ele entrou no palco, não reconheci. Só pelo "Please welcome Peter Frampton!!". Quase careca, enrugado e meio encarquilhado, de óculos, ele, no entanto, não perdeu o pique e fez um belo show. Cantou seus maiores sucessos e bons petardos da época do Humble Pie, como "I don't need no doctor". E solou horrores (coisa que musiquinhas como "Baby I love your way" não nos deixavam ver nos seventies). Em suma, foi um show de rock honesto. E a banda era sensacional. Só mais três caras além de Pete: Chad Cromwell na batera, John Regan no baixo e Bob Mayo nos teclados. Este último deu vários shows no piano elétrico, mandando ver e combinando bem com a guitarra de Frampton. E foi bom ver John Regan no baixo -- um dos fundadores do Frehley's Comet, a banda do guitarrista solo do Kiss, Ace Frehley, no fim dos anos 80. Por falar nisso, rolou também no fim de outubro no mesmo programa "The Last Kiss", show da Farewell Tour dos cavaleiros mascarados Frehley, Paul Stanley, Gene Simmons e Peter Criss. Aí eu não pude deixar de ver, de vez que sou kissmaníaco de carteirinha desde os 15. O Ace, aliás, é uma de minhas principais influências na guitarra. Tem um jeito de solar melodioso, apesar de pesado, e não é um "piloto de guitarra", como dizia um professor de violão meu -- aqueles caras que solam tão rápido que você tem a impressão de que a rotação do disco está aumentando no meio da música ;-). Ex-alcoólatra e com o currículo de um mau-elemento do Bronx na juventude, Frehley foi motorista de táxi em Nova York antes de tirar a sorte grande e juntar-se ao Kiss. Reza a lenda que ele estava meio doidão quando atendeu a um teste para guitarristas anunciado nos classificados do "Village Voice" em 1972 e usava um tênis de cada cor na ocasião (um vermelho e outro laranja), quando inclusive teria furado a fila, ligado a guitarra e mandado ver. A audácia funcionou. Também são dele alguns dos grandes climas roqueiros nas letras da banda, como este:

It's time to leave and get another quart
Around the corner at the liquor store
The cheapest stuff is all I need
To get me back on my feet again
Ooh, it's cold gin time again
You know you always will
Yeah, it's cold gin time again
You know it's the only thing
That keeps us together

("Cold Gin", de 1973)

Por que amo uma das bandas mais criticadas do rock? Por um pouco de tudo: o show cheio de efeitos, o clima de super-heróis que os caras inventaram para si mesmos, mas principalmente porque todos eram pobres (o batera chegou a ser entregador de carne para açougues) e jamais esconderam que o que queriam mesmo eram ficar famosos, transar horrores na estrada e ganhar muito, muito, muito dinheiro. "Se não ficarmos ricos com esse negócio, vão ter que me internar numa cela acolchoada", disse uma vez Peter Criss. E eu aprecio essa sinceridade terra-terra. (Talvez por ser jornalista e, como todo jornalista, um duro.) Nada contra os grandes filósofos da contracultura, mas para mim roquenrou é sangue, suor e muita diversão. "Por que perguntar algo sobre política a um roqueiro?", disparou certa vez Simmons. "É o mesmo que perguntar a Al Gore se ele sabe tocar contrabaixo". O mesmo Simmons sintetizou essa besteira de elitizar ou legitimar alguma filosofia ou tendência via rock numa entrevista em 1978: "Não venham nos dizer que somos os reis do mau gosto. O rock sempre esteve mergulhado nele, desde Elvis". Eu concordo. E nem por isso deixo de curtir "Jailhouse rock" e outros clássicos. A própria letra da seminal "Rock around the clock", cantada por Bill Haley e seus cometas, dizia: "vista seus trapos mais folgados e junte-se a mim, meu bem/ Vamos nos divertir quando o relógio bater a uma". É tudo.

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