Fiquem com Oscar em 2005 e sejam felizes. Ou vivam para o prazer, porque, como Wilde disse, nada envelhece tanto quanto a felicidade. ;-)
I believe that if one man were to live out his life fully and completely, were to give form to every feeling, expression to every thought, reality to every dream--I believe that the world would gain such a fresh impulse of joy that we would forget all the maladies of mediaevalism, and return to the Hellenic ideal-- to something finer, richer than the Hellenic ideal, it may be.
(Lord Henry Wotton, em "O retrato de Dorian Gray")
29.12.04
28.12.04
Tenho um coração-prisma
que dispara auras psicodélicas
por todos os postigos;
é-me impossível amar com fronteiras.
não dá para pôr frames
no sentir, no desejar;
não se pode encerrar
o que pulsa
num único quarto
se a gente quer
todos os cômodos
e dizer para aquelas
com as faces que tonteiam:
"um beijo, suplico."
Não à posse;
sim à liberdade sem fio
sim aos ímãs femininos
que me fazem chorar de tanta beleza.
que dispara auras psicodélicas
por todos os postigos;
é-me impossível amar com fronteiras.
não dá para pôr frames
no sentir, no desejar;
não se pode encerrar
o que pulsa
num único quarto
se a gente quer
todos os cômodos
e dizer para aquelas
com as faces que tonteiam:
"um beijo, suplico."
Não à posse;
sim à liberdade sem fio
sim aos ímãs femininos
que me fazem chorar de tanta beleza.
27.12.04
Passei o Natal no sítio da família, um lugar repleto de sons da natureza -- de pássaros pela manhã a grilos e rãs noite adentro -- e, não fossem as comemorações natalinas dos humanos, um recanto de quietude interna também. Meu lugar favorito por lá é um velho escorrega de piscina trasladado para baixo de uma mangueira copada e de sombra convidativa. Aproveitei para ler até o fim um clássico: "Enterrem meu coração na curva do rio", de Dee Brown, que conta a história do Velho Oeste do ponto de vista dos índios e mostra como o homem branco mentiu até a medula para ir tomando aos poucos o território das tribos de nativos do continente. Não pude deixar de pensar que Bush e companhia usaram exatamente as mesmas táticas para fomentar a guerra no Iraque. Nada parece ter mudado.
Bom, mas até que a festa foi tranqüila e as crianças curtiram, felizes -- o mais importante. Espero que todos tenham tido um Natal sossegado. E para 2005 e além, vamos torcer para que apareça uma liderança neste país realmente determinada a torná-lo mais seguro, com instituições que possamos legar para as futuras gerações, de modo que elas voltem a compreender o sentido da palavra esperança.
Bom, mas até que a festa foi tranqüila e as crianças curtiram, felizes -- o mais importante. Espero que todos tenham tido um Natal sossegado. E para 2005 e além, vamos torcer para que apareça uma liderança neste país realmente determinada a torná-lo mais seguro, com instituições que possamos legar para as futuras gerações, de modo que elas voltem a compreender o sentido da palavra esperança.
17.12.04
Por falar em eventos na noite, foi legal o lançamento do livro "Paralelos", fruto do site que anda revelando novos talentos na web. Mestre Augusto Sales, meu guitarman preferido Gustones, com Marcele, minha partner em contos Crib Tanaka (belíssima, chegou arrasando) e outros estavam todos lá, autografando exemplares de montão. Também encontrei a querida Ronize Aline na área, sempre simpática e gente finíssima.
15.12.04
13.12.04
Soneto para uma mulher tinhosa
És arguta e generosa
Quando queres agradar
Mas deveras rancorosa
Se te contraria o ar
Eloqüente quando falas,
Tornas púlpito o altar;
Mas revoltas o silêncio
Sem saber quando parar
Pois a última palavra
Queres monopolizar
As idéias de tua lavra
Para ti são o que há
Pois, te digo, já se javra
O tonel a te encerrar.
És arguta e generosa
Quando queres agradar
Mas deveras rancorosa
Se te contraria o ar
Eloqüente quando falas,
Tornas púlpito o altar;
Mas revoltas o silêncio
Sem saber quando parar
Pois a última palavra
Queres monopolizar
As idéias de tua lavra
Para ti são o que há
Pois, te digo, já se javra
O tonel a te encerrar.
10.12.04
As fotos do meu niver:
Elisinha e eu em clima de amasso total no Galeto...
Elis, Fátima e Bárbara: um trio mais divertido que este não existe!
O sortudo aniversariante cercado por suas amigas.
Eu, Renatinha Maneschy e o boa-praça Sérgio.
Da esquerda: Babi, eu, Renata, Sérgio, Luiza, Marcelo Balbio, Fátima e Nelson Vasconcelos.
Babs e eu no meio da bagunça geral e irrestrita.
Recebendo uma rosa com a gozação total da turma.
Elisinha e eu em clima de amasso total no Galeto...
Elis, Fátima e Bárbara: um trio mais divertido que este não existe!
O sortudo aniversariante cercado por suas amigas.
Eu, Renatinha Maneschy e o boa-praça Sérgio.
Da esquerda: Babi, eu, Renata, Sérgio, Luiza, Marcelo Balbio, Fátima e Nelson Vasconcelos.
Babs e eu no meio da bagunça geral e irrestrita.
Recebendo uma rosa com a gozação total da turma.
4.12.04
Chego hoje aos 42 anos.
Ontem houve um chope animadíssimo aqui na esquina do jornal, onde rimos tanto que estou com o maxilar doendo até agora. Brindamos tanto que brinquei que cada brinde me fazia ficar um ano mais jovem. Terminei a noite com 15 anos, com direito a valsa e tudo no meio do churrasco do Felipe na esquina de rua de Santana com Irineu Marinho.
Estiveram presentes a Elisinha, Babi Veloso, Fátima Iocken, Mr. Marcelo Balbio, Nelson Vasconcelos, Cristina Azevedo, Berenice Seara, Fábio Rossi, Renata Maneschy, Cida Calu, Luizinha e Sérgio, Mr. Feroli (que chegou no finzinho) e mais uma galera. Elis me presenteou com um DVD do "Senhor dos Anéis", que adorei.
Na volta para casa conheci a potência do Fatimóvel, o carro da Fátima. Ela dirige com uma desenvoltura invejável; fomos cantando músicas até o outro lado da baía, acompanhando um CD. Fui dormir com um sorriso na cara e não sonhei com nada -- o melhor sono possível.
Hoje vou sair com Wal e as meninas e flanar por Nikiti City (depois do plantão, pois tive que chegar cedo aqui no jornal. Mas tudo bem, não gosto de adiar plantões. Melhor fazer logo).
A vida começa aos 42. Ou melhor, aos 15 ;-)) Oh yeah.
A todos, obrigado por uma noite maravihosa.
Ontem houve um chope animadíssimo aqui na esquina do jornal, onde rimos tanto que estou com o maxilar doendo até agora. Brindamos tanto que brinquei que cada brinde me fazia ficar um ano mais jovem. Terminei a noite com 15 anos, com direito a valsa e tudo no meio do churrasco do Felipe na esquina de rua de Santana com Irineu Marinho.
Estiveram presentes a Elisinha, Babi Veloso, Fátima Iocken, Mr. Marcelo Balbio, Nelson Vasconcelos, Cristina Azevedo, Berenice Seara, Fábio Rossi, Renata Maneschy, Cida Calu, Luizinha e Sérgio, Mr. Feroli (que chegou no finzinho) e mais uma galera. Elis me presenteou com um DVD do "Senhor dos Anéis", que adorei.
Na volta para casa conheci a potência do Fatimóvel, o carro da Fátima. Ela dirige com uma desenvoltura invejável; fomos cantando músicas até o outro lado da baía, acompanhando um CD. Fui dormir com um sorriso na cara e não sonhei com nada -- o melhor sono possível.
Hoje vou sair com Wal e as meninas e flanar por Nikiti City (depois do plantão, pois tive que chegar cedo aqui no jornal. Mas tudo bem, não gosto de adiar plantões. Melhor fazer logo).
A vida começa aos 42. Ou melhor, aos 15 ;-)) Oh yeah.
A todos, obrigado por uma noite maravihosa.
29.11.04
As fotos da turma fantasiada no final do Editor's Day da HP, que aconteceu em Ilhabela semana passada. De cima para baixo: eu de frei Tuck fazendo um "vade retro" para o "vampiro" Ramalho; uma parte da galera pronta para o agito; eu recebendo o prêmio de melhor fantasia (acreditem, o público me elegeu...); com o prêmio; e outra parte da tchurma.
25.11.04
16.11.04
Andei relendo estes dias uns trechos de "Pergunte ao pó", de John Fante, na belíssima tradução do Paulo Leminski. Tenho ainda a edição da Brasiliense, que comprei em 1984 e devorei. Arturo Bandini, o escritor que amava a Los Angeles marginal e a voluntariosa garçonete Camila Lopez, é um personagem inesquecível, que está em algum canto de todos nós.
Não gosto de chamar Fante de escritor "classe B" porque, como dizia seu fã, Charles Bukowski, ele não tinha medo das emoções e era um mestre em descrever as angústias de seu alter ego Bandini. Além do mais, se pensarmos bem, dificilmente nossa vida interior, se exposta, é classe A.
Não gosto de chamar Fante de escritor "classe B" porque, como dizia seu fã, Charles Bukowski, ele não tinha medo das emoções e era um mestre em descrever as angústias de seu alter ego Bandini. Além do mais, se pensarmos bem, dificilmente nossa vida interior, se exposta, é classe A.
6.11.04
28.10.04
Marat, onde está o "Amigo do Povo"?
Robespierre, escondeste a pena das sentenças?
Danton, esqueceste a audácia e adotaste a tibieza?
Ó revolucionários! deveis retornar para verdes
a igualdade dos miseráveis
a fraternidade dos corruptos
a liberdade dos poderosos.
Guilhotina, dizeis? Qual!
Aqui nos trópicos
ela é a lâmina tripla da gilete
que torneia pescoços bem-nascidos
e só.
Robespierre, escondeste a pena das sentenças?
Danton, esqueceste a audácia e adotaste a tibieza?
Ó revolucionários! deveis retornar para verdes
a igualdade dos miseráveis
a fraternidade dos corruptos
a liberdade dos poderosos.
Guilhotina, dizeis? Qual!
Aqui nos trópicos
ela é a lâmina tripla da gilete
que torneia pescoços bem-nascidos
e só.
25.10.04
Semana passada fui ver minha filha Jessica se apresentar com o coral de sua escola. Foi no Teatro Municipal de Niterói. Fui esperando assistir a um show de colégio -- e fiquei boquiaberto ao ver o altíssimo nível do trabalho. O coral juvenil, onde ela canta, deu um show de afinação, ritmo e carisma, num clima de excelente astral. Corujices à parte, é o André músico que escreve estas linhas: foi emocionante ver as versões do coral para "Mercedes Benz" e "Conversa de botequim", entre peças do século XVI e outras canções. Uma coisa. O teatro aplaudiu longamente e eles deram um merecido bis.
Na saída, abracei Jessica emocionado e mostrei quão orgulhoso estava ao saber que a saga musical de nossa família continuava (meu avô materno tocava diversos instrumentos e foi no violão de minha mãe que exercitei os primeiros acordes, aos 11 anos, para logo em seguida ser fisgado pelo tal de roquenrou).
Na saída, abracei Jessica emocionado e mostrei quão orgulhoso estava ao saber que a saga musical de nossa família continuava (meu avô materno tocava diversos instrumentos e foi no violão de minha mãe que exercitei os primeiros acordes, aos 11 anos, para logo em seguida ser fisgado pelo tal de roquenrou).
19.10.04
18.10.04
Ela devia ser um fotograma de cinema
pois na noite suja e entrecortada por rajadas
estava linda, intocada pela fumaça das conversas ralas
e ele ficou perturbado
como não ficava desde as tempestades da adolescência
e seus globos desceram das órbitas,
rolando até os pés da mais desejada
e se misturando à doçura que ela derramava sem sentir.
pois na noite suja e entrecortada por rajadas
estava linda, intocada pela fumaça das conversas ralas
e ele ficou perturbado
como não ficava desde as tempestades da adolescência
e seus globos desceram das órbitas,
rolando até os pés da mais desejada
e se misturando à doçura que ela derramava sem sentir.
7.10.04
29.9.04
Olá, moçada, estou de volta. Tirei um tempinho de férias, para desconectar a cabeça. Aproveitei para botar as leituras em dia. Li "O jogo da mente", um interessante livro de ficção científica envolvendo a badalada teoria do jogo, e devorei "O código Da Vinci", que realmente é impossível parar de ler. Em pouco mais de três dias terminei. E descobri que tinha lá em casa um dos livros citados pelo personagem Sir Leigh Teabing em sua longa conversa com Robert Langdon e Sophie Neveu... Estou começando a lê-lo agora.
13.9.04
27.8.04
25.8.04
20.8.04
Faz tempo que não posto um poema novo aqui, né? Então aí vai, para o fim de semana...
Lanterna oriental
Seus olhos riram
e sua boca tocou a minha
sob a velha mangueira no campus;
ohmeudeus como ela é linda
foi tudo que o estudante perplexo
pôde dizer ao seu peito.
e hoje, cozido pela vida em fogo brando,
quando me lembro dela
eu ainda me sinto um aluno relapso
porque deixei aqueles olhos partirem
porque deixei que me partissem a alma
porque deixei ao silêncio o aparte.
Ah, solidão que me envolve
qual cilindro de fótons severos,
você nada me ensina
a não ser escrever versos
e inscrever meu próprio nome
no pequeno panteão de meus antepassados
voejando sob uma lanterna oriental.
Lanterna oriental
Seus olhos riram
e sua boca tocou a minha
sob a velha mangueira no campus;
ohmeudeus como ela é linda
foi tudo que o estudante perplexo
pôde dizer ao seu peito.
e hoje, cozido pela vida em fogo brando,
quando me lembro dela
eu ainda me sinto um aluno relapso
porque deixei aqueles olhos partirem
porque deixei que me partissem a alma
porque deixei ao silêncio o aparte.
Ah, solidão que me envolve
qual cilindro de fótons severos,
você nada me ensina
a não ser escrever versos
e inscrever meu próprio nome
no pequeno panteão de meus antepassados
voejando sob uma lanterna oriental.
16.8.04
E por falar em lançamento, estarei amanhã na Comdex/SP ao longo do dia, divulgando o livro no estande da editora Campus.
***
Volto do almoço e encontro um cartão postal do verão sueco enviado pela minha querida Maryzinha Fabriani, com um gentil cumprimento sobre essa sensação curiosa que é lançar um livro... Mary, você me emocionou. Obrigado por sua mensagem, é como se você estivesse aqui.
***
Reproduzo aqui a nota de Cora Rónai hoje no Globo sobre o livro que eu e mestre Aroaldo Veneu estamos lançando: "Como converter a sua rica coleção de LPs, fitas cassete e MP3 em CDs de alta qualidade? A pergunta, que foi base de uma reportagem aqui no caderninho, acabou rendendo um livro e tanto, obra do nosso André Machado, jornalista de larga experiência na área, e do físico Aroaldo Veneu, um dos pioneiros na técnica de transposição de musicas de mídia analógica para digital e criador do método LPemCD. “Como fazer CDs de alta qualidade” (Editora Campus/Elsevier, 312 páginas, R$ 45), que acaba de chegar às livrarias, é um guia passo a passo para a confecção de CDs: lá estão todos os macetes que você sempre quis saber mas nunca teve paciência de procurar na internet, explicados de forma clara, simples e bem humorada. De quebra, o livro traz uma versão trial do Nero, um excelente software para criação de CDs."
Obrigado, Cora.
***
Volto do almoço e encontro um cartão postal do verão sueco enviado pela minha querida Maryzinha Fabriani, com um gentil cumprimento sobre essa sensação curiosa que é lançar um livro... Mary, você me emocionou. Obrigado por sua mensagem, é como se você estivesse aqui.
***
Reproduzo aqui a nota de Cora Rónai hoje no Globo sobre o livro que eu e mestre Aroaldo Veneu estamos lançando: "Como converter a sua rica coleção de LPs, fitas cassete e MP3 em CDs de alta qualidade? A pergunta, que foi base de uma reportagem aqui no caderninho, acabou rendendo um livro e tanto, obra do nosso André Machado, jornalista de larga experiência na área, e do físico Aroaldo Veneu, um dos pioneiros na técnica de transposição de musicas de mídia analógica para digital e criador do método LPemCD. “Como fazer CDs de alta qualidade” (Editora Campus/Elsevier, 312 páginas, R$ 45), que acaba de chegar às livrarias, é um guia passo a passo para a confecção de CDs: lá estão todos os macetes que você sempre quis saber mas nunca teve paciência de procurar na internet, explicados de forma clara, simples e bem humorada. De quebra, o livro traz uma versão trial do Nero, um excelente software para criação de CDs."
Obrigado, Cora.
11.8.04
6.8.04
3.8.04
2.8.04
Desde março eu vinha trabalhando num projeto diferente, que me tomou um bom tempo. É o meu primeiro livro -- um livro de informática -- que acaba de sair do prelo pela editora Campus. Chama-se "Como fazer CDs de alta qualidade" e foi escrito junto com o grande mestre do assunto, o físico e músico Aroaldo Veneu. Aroaldo foi minha fonte principal numa reportagem sobre o assunto que saiu no caderno Informática Etc, do Globo, onde trabalho, em fevereiro. Dela surgiu o convite para o livro, em que nos aprofundamos mais sobre a arte de gravar um CD retirando de seus velhos Lps aquelas sujeirinhas e tlec-tlecs para curtir melhor no som as músicas que tanto amamos. Aroaldo sabe tudo do assunto e tem um método todo pessoal, que detalha com um estilo incomparável no livro. Ele deu cursos sobre o tema por vários anos. Eu entrei com meu ofício de repórter. Olha a carinha do livro aí:
Ele já está na lista de lançamentos do site da Campus, aqui.
A noite de autógrafos vai ser no dia 14 de setembro, na Livraria da Travessa, em Ipanema. Quando chegar mais perto, vou postar aqui.
É uma sensação ímpar estar com um livro que você concebeu em suas mãos.
Ele já está na lista de lançamentos do site da Campus, aqui.
A noite de autógrafos vai ser no dia 14 de setembro, na Livraria da Travessa, em Ipanema. Quando chegar mais perto, vou postar aqui.
É uma sensação ímpar estar com um livro que você concebeu em suas mãos.
A pedidos, mais fotos do tour pelo Oriente.
Na entrada do templo em Asaksusa, Tóquio.
Diante do pavilhão de banquetes e festas de uma antiga dinastia em Seul. Neste lago nadam as carpas supernutridas.
Me arriscando diante da guarda imperial em Gyeonbokgung, na Coréia.
Nos dois países o calor estava terrível, chegando perto dos 40 graus. Experimentei sushi de tudo que foi jeito, inclusive de enguia (que é tida como afrodisíaca). A comida japonesa é mais leve; a coreana carrega na pimenta e deixa uma sensação de ressaca no dia seguinte...
Na Coréia vi um belo espetáculo de dança, com bailarinas formando flores com seus leques. Também assisti a uma demonstração poderosa de percussão, com músicos batendo naqueles tambores graúdos que vemos nos anúncios da Samsung. O teatro inteiro treme.
Na entrada do templo em Asaksusa, Tóquio.
Diante do pavilhão de banquetes e festas de uma antiga dinastia em Seul. Neste lago nadam as carpas supernutridas.
Me arriscando diante da guarda imperial em Gyeonbokgung, na Coréia.
Nos dois países o calor estava terrível, chegando perto dos 40 graus. Experimentei sushi de tudo que foi jeito, inclusive de enguia (que é tida como afrodisíaca). A comida japonesa é mais leve; a coreana carrega na pimenta e deixa uma sensação de ressaca no dia seguinte...
Na Coréia vi um belo espetáculo de dança, com bailarinas formando flores com seus leques. Também assisti a uma demonstração poderosa de percussão, com músicos batendo naqueles tambores graúdos que vemos nos anúncios da Samsung. O teatro inteiro treme.
30.7.04
A internet brasileira, wireless ou não, perde parte de seu charme com a partida inesperada do Fervil. Meu caro, vai sossegado que seu brilho, centenas de vezes demonstrado aqui, continuará pelas esferas celestiais.
Quando é que esse governo federal vai resolver intervir no nosso Estado tão amedrontado?
Quando é que esse governo federal vai resolver intervir no nosso Estado tão amedrontado?
29.7.04
Eu diante do palácio imperial de Gyeonbokgung, na Coréia. Um verdadeiro labirinto de construções, com um interessante sistema de aquecimento através de pedras. Nos fundos, há um lago com carpas enormes.
O povo coreano é gentil e o metrô de Seul é muito bem organizado. Esta visão do palácio é exatamente a que se tem ao sair da estação local. É de tirar o fôlego.
26.7.04
Moçada, estou de volta.
Perdoem o longo tempo sumido, é que estive envolvido numa longa viagem -- no sentido literal e no metafísico -- nas duas últimas semanas. Fui a trabalho ao Extremo Oriente -- Coréia e Japão -- onde o sol nasce e derrama sua sabedoria milenar sobre este planeta. Fui a templos budistas, vi monges orarem pelos mortos e o povo pedindo graças diversas ao Iluminado (de saúde a fertilidade); vi as belezas do palácio imperial de Gyeonbokgung, em Seul, um labirinto de construções tecido pelas necessidades políticas de seu tempo; e observei fascinado Tóquio à noite, com um quê da Los Angeles vista em "Blade Runner", os viadutos sem fim, as rodas gigantes criando arabescos de caleidoscópios.
Vi também o futuro frenético da tecnologia, que estou começando a descrever em matérias. Celulares com televisão ao vivo, centros de lazer equipados com tudo que é aparelho, serviços de mapeamento sofisticadíssimos.
O Oriente dá realmente um nó na cabeça ocidental, por mais rápida que seja a visita. Contarei mais nos próximos posts.
Perdoem o longo tempo sumido, é que estive envolvido numa longa viagem -- no sentido literal e no metafísico -- nas duas últimas semanas. Fui a trabalho ao Extremo Oriente -- Coréia e Japão -- onde o sol nasce e derrama sua sabedoria milenar sobre este planeta. Fui a templos budistas, vi monges orarem pelos mortos e o povo pedindo graças diversas ao Iluminado (de saúde a fertilidade); vi as belezas do palácio imperial de Gyeonbokgung, em Seul, um labirinto de construções tecido pelas necessidades políticas de seu tempo; e observei fascinado Tóquio à noite, com um quê da Los Angeles vista em "Blade Runner", os viadutos sem fim, as rodas gigantes criando arabescos de caleidoscópios.
Vi também o futuro frenético da tecnologia, que estou começando a descrever em matérias. Celulares com televisão ao vivo, centros de lazer equipados com tudo que é aparelho, serviços de mapeamento sofisticadíssimos.
O Oriente dá realmente um nó na cabeça ocidental, por mais rápida que seja a visita. Contarei mais nos próximos posts.
3.7.04
Para J.
Tão jovem e tão séria,
dear, você me faz pensar
se rir de nossas convicções
não é um luxo da maturidade.
Ame-se mais; deixe a
gargalhada
vir lá do fundo do abismo
e sacudir as estrelas;
mire-se na desfaçatez
de Tom, o gato,
e refestele sua alma
numa ofurô tépida
encravada no bosque do Devaneio.
Sim, é preciso montar a Vida
e ser hábil com as rédeas
e domá-la;
mas ao fim e ao cabo
é tudo miragem
então guarde as bobagens
na caixinha de jóias
e deite fora as certezas,
que elas são moventes
como as areias do deserto.
Um beijo.
Tão jovem e tão séria,
dear, você me faz pensar
se rir de nossas convicções
não é um luxo da maturidade.
Ame-se mais; deixe a
gargalhada
vir lá do fundo do abismo
e sacudir as estrelas;
mire-se na desfaçatez
de Tom, o gato,
e refestele sua alma
numa ofurô tépida
encravada no bosque do Devaneio.
Sim, é preciso montar a Vida
e ser hábil com as rédeas
e domá-la;
mas ao fim e ao cabo
é tudo miragem
então guarde as bobagens
na caixinha de jóias
e deite fora as certezas,
que elas são moventes
como as areias do deserto.
Um beijo.
28.6.04
23.6.04
Vou sentir falta do Brizola. O velho Briza era o homem certo na hora certa em 1982 para o Rio fazer frente aos militares. Foi minha primeira chance de votar; eu tinha 19 anos. O Rio de então era outro, mais alegre, mais boêmio, eu estava na Escola de Comunicação da UFRJ, a célebre Eco, e vivia intensamente essa boemia.
Na época, alguns colegas da faculdade ostentavam a estrelinha do PT, mas o candidato do partido, Lysâneas Maciel, não tinha nenhum carisma. Além do mais, pelo menos no ambiente da Eco, os petistas eram mais radicais (radicalismo é algo que detesto até hoje), e eu desconfiava. (Apesar disso votei no Lula em todas as eleições para presidente. E adiantou? Hoje temos este governo aí, com esta política (?) econômica que se diz "ortodoxa", mas que prefiro chamar de "tortodoxa".) Quem ia votar no Brizola se mostrava mais discreto. Fiquei com o caudilho, então.
Fui até a um comício dele, na Cinelândia, que reuniu um mar de gente. Anos mais tarde, parei para ouvi-lo dar entrevista em frente ao prédio da Manchete, na rua do Russell, onde eu trabalhava.
Não concordo muito com essa tese de que o Rio começou a degringolar com o governo dele; creio que o chaguismo, nos anos 70, já deixara o estado bem caidinho.
Vai com Deus, Briza. E vê se o Padre Eterno monta uma Cadeia Celestial da Legalidade pra não deixar nenhum espertalhão subir. ;-)
Na época, alguns colegas da faculdade ostentavam a estrelinha do PT, mas o candidato do partido, Lysâneas Maciel, não tinha nenhum carisma. Além do mais, pelo menos no ambiente da Eco, os petistas eram mais radicais (radicalismo é algo que detesto até hoje), e eu desconfiava. (Apesar disso votei no Lula em todas as eleições para presidente. E adiantou? Hoje temos este governo aí, com esta política (?) econômica que se diz "ortodoxa", mas que prefiro chamar de "tortodoxa".) Quem ia votar no Brizola se mostrava mais discreto. Fiquei com o caudilho, então.
Fui até a um comício dele, na Cinelândia, que reuniu um mar de gente. Anos mais tarde, parei para ouvi-lo dar entrevista em frente ao prédio da Manchete, na rua do Russell, onde eu trabalhava.
Não concordo muito com essa tese de que o Rio começou a degringolar com o governo dele; creio que o chaguismo, nos anos 70, já deixara o estado bem caidinho.
Vai com Deus, Briza. E vê se o Padre Eterno monta uma Cadeia Celestial da Legalidade pra não deixar nenhum espertalhão subir. ;-)
18.6.04
De volta de Sampa, onde fui cobrir um interessante concurso de software. Dei sorte, o tempo estava ameno e o frio não atrapalhou. Num intervalo, disputei uma corrida virtual num game center com os competidores. Até ganhei uma bateria de Indy 500, logo eu, que não dirijo por opção. Foi engraçado.
À noite, a festa de premiação teve show de uma sensacional banda retrô chamada Quasímodo.
À noite, a festa de premiação teve show de uma sensacional banda retrô chamada Quasímodo.
10.6.04
Ray Charles, aquele abraço.
Embora os amantes da música sofram, eu sei que você vai para o céu, onde poderá ajudar São Pedro na triagem do Portão cantando "Hit the road, Jack" para todos os espertinhos que acharem que podem curtir o paraíso, e mandando-os ter com o demo. Oh yeah.
E bote todos os santos para dançar:
Hey mama, don't you treat me wrong
Come and love your daddy all night long
All right, hey, hey, all right now
See the girl with the diamond ring
She knows how to shake that thing
All right, hey, hey, Mmm, all right now
Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh
Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good
Mmm, see the girl with the red dress on
She can do the dog all night long
All right, hmm what'd I say, tell me what'd I say
Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say
Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh
It's all right, It's all right right now
Baby, it's all right, Baby, it's all right right now
Baby, it's all right, Oh yeah!
Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, well I feel all right
Embora os amantes da música sofram, eu sei que você vai para o céu, onde poderá ajudar São Pedro na triagem do Portão cantando "Hit the road, Jack" para todos os espertinhos que acharem que podem curtir o paraíso, e mandando-os ter com o demo. Oh yeah.
E bote todos os santos para dançar:
Hey mama, don't you treat me wrong
Come and love your daddy all night long
All right, hey, hey, all right now
See the girl with the diamond ring
She knows how to shake that thing
All right, hey, hey, Mmm, all right now
Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh
Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good
Mmm, see the girl with the red dress on
She can do the dog all night long
All right, hmm what'd I say, tell me what'd I say
Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say
Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh
It's all right, It's all right right now
Baby, it's all right, Baby, it's all right right now
Baby, it's all right, Oh yeah!
Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, well I feel all right
6.6.04
De Paul Auster, ontem, no "Prosa e Verso":
Sinto-me um outsider, como todos os artistas. É isso que significa ser artista — escritor, pintor ou cineasta: você está do lado de dentro, é parte do todo, mas também está o tempo todo dando um passo atrás para observar tudo à distância, sem participar tão completamente como as outras pessoas o fazem. É a bênção e a maldição de ser um artista. Você se sente exilado, excluído da realidade à sua volta. Mas sem a distância, você não poderia escrever sobre isso.
Esta é uma excelente descrição de como me sinto ao escrever um miniconto ou um poema. E é um tipo de solidão terrível, que ninguém, nem a pessoa que vive com você há décadas, apaga.
Quando sai um poema, um conto, uma parte da angústia se recolhe temporariamente; mas quando o tempo se fecha na alma e sobra apenas a angústia de fitar uma parede, é o inferno.
Sinto-me um outsider, como todos os artistas. É isso que significa ser artista — escritor, pintor ou cineasta: você está do lado de dentro, é parte do todo, mas também está o tempo todo dando um passo atrás para observar tudo à distância, sem participar tão completamente como as outras pessoas o fazem. É a bênção e a maldição de ser um artista. Você se sente exilado, excluído da realidade à sua volta. Mas sem a distância, você não poderia escrever sobre isso.
Esta é uma excelente descrição de como me sinto ao escrever um miniconto ou um poema. E é um tipo de solidão terrível, que ninguém, nem a pessoa que vive com você há décadas, apaga.
Quando sai um poema, um conto, uma parte da angústia se recolhe temporariamente; mas quando o tempo se fecha na alma e sobra apenas a angústia de fitar uma parede, é o inferno.
4.6.04
O artista britânico David Hockney diz que, na era digital, já não se pode mais acreditar na informação de uma fotografia. Fico imaginando o que diria o filósofo Walter Benjamin (1892-1940) se estivesse escrevendo hoje seu magnífico estudo "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica". Nele, ele analisava as relações entre fotografia e pintura -- enquanto esta última era uma coisa única, a aura da fotografia se perdia na objetividade das milhares de cópias possíveis. Mas, hoje, aparentemente, qualquer foto é tão editável quanto uma tela em branco, por qualquer um. As fronteiras não mais existem; então, em quem confiar? Que realidade escolher?
1.6.04
O, she doth teach the torches to burn bright!
It seems she hangs upon the cheek of night
Like a rich jewel in an Ethiope's ear;
Beauty too rich for use, for earth too dear!
So shows a snowy dove trooping with crows,
As yonder lady o'er her fellows shows.
The measure done, I'll watch her place of stand,
And, touching hers, make blessed my rude hand.
Did my heart love till now? forswear it, sight!
For I ne'er saw true beauty till this night.
(em tradução livre...)
Oh, ela ensina a tocha a brilhar!
Parece pender das faces da noite
Como pedra preciosa no lóbulo de um etíope;
É uma beleza por demais rica para o uso,
demasiadamente doce para a vida terrena.
Semelha alva pomba em meio a gralhas
quando passa em meio às companheiras.
Finda a dança, a contemplarei em seu lugar
e, tocando as suas, abençoarei minhas rudes mãos.
Terá meu coração amado até hoje? Ah, tal visão o nega!
Pois eu jamais vi beleza genuíona antes desta noite.
(Extraído de "Romeu e Julieta", de Shakespeare)
It seems she hangs upon the cheek of night
Like a rich jewel in an Ethiope's ear;
Beauty too rich for use, for earth too dear!
So shows a snowy dove trooping with crows,
As yonder lady o'er her fellows shows.
The measure done, I'll watch her place of stand,
And, touching hers, make blessed my rude hand.
Did my heart love till now? forswear it, sight!
For I ne'er saw true beauty till this night.
(em tradução livre...)
Oh, ela ensina a tocha a brilhar!
Parece pender das faces da noite
Como pedra preciosa no lóbulo de um etíope;
É uma beleza por demais rica para o uso,
demasiadamente doce para a vida terrena.
Semelha alva pomba em meio a gralhas
quando passa em meio às companheiras.
Finda a dança, a contemplarei em seu lugar
e, tocando as suas, abençoarei minhas rudes mãos.
Terá meu coração amado até hoje? Ah, tal visão o nega!
Pois eu jamais vi beleza genuíona antes desta noite.
(Extraído de "Romeu e Julieta", de Shakespeare)
31.5.04
O tempo no Rio está horrível hoje; a noite parecia já ter caído às onze da manhã. Mas no coração do poeta o sol brilha, o tráfego de almas e automóveis na Avenida Rio Branco não importa e a redação pode esperar enquanto ele mexe no botão da sintonia fina do tempo e deixa parado no canal em que recebe o abraço com que vinha sonhando.
Aquele abraço ficou com ele, guardado no backup de seu cérebro.
Aquele abraço ficou com ele, guardado no backup de seu cérebro.
28.5.04
Ontem trabalhei o dia inteiro num evento de tecnologia. À noite, porém, o trinômio boa companhia + chope + bons petiscos na night me deixou, acreditem, alguns quilos mais leve ;-)
* * *
Ralação, aliás, não faltou em maio: mil projetos e matérias ao mesmo tempo deixam qualquer um tonto. E, para complicar, meu pai foi parar no hospital (já voltou para casa, não foi nada grave, felizmente).
* * *
Saudade é como o Bolero de Ravel: a cada lembrança gostosa, a gente adiciona uma nova sonoridade, uma nova ambiência na alma.
* * *
Ralação, aliás, não faltou em maio: mil projetos e matérias ao mesmo tempo deixam qualquer um tonto. E, para complicar, meu pai foi parar no hospital (já voltou para casa, não foi nada grave, felizmente).
* * *
Saudade é como o Bolero de Ravel: a cada lembrança gostosa, a gente adiciona uma nova sonoridade, uma nova ambiência na alma.
20.5.04
14.5.04
Como um dervixe
O Romance é esquivo
e sempre sai à francesa;
o espelho envelhecido
é a dama de companhia
dos solitários.
E eu estou sempre só
quando a noite inunda a casa
e os infantes da vizinhança exibem
a face isenta de pecado
enquanto sonham.
Minha alma quer brincar
com os filhotes felinos
que pulam no corredor;
ela sente falta do não-pensar
e de rodopiar como um dervixe
carregando-te, linda amiga,
para o quarto rubro.
O Romance é esquivo
e sempre sai à francesa;
o espelho envelhecido
é a dama de companhia
dos solitários.
E eu estou sempre só
quando a noite inunda a casa
e os infantes da vizinhança exibem
a face isenta de pecado
enquanto sonham.
Minha alma quer brincar
com os filhotes felinos
que pulam no corredor;
ela sente falta do não-pensar
e de rodopiar como um dervixe
carregando-te, linda amiga,
para o quarto rubro.
13.5.04
Além do mais, essa hipocrisia rídícula de bebida fazer mal a governo não está no mapa!
O grande vencedor da Guerra civil americana, o general (e depois presidente) Ulysses S. Grant, era bem chegado a um uísque.
Churchill também bebia muito e (talvez até por isso mesmo) manteve alto o moral britânico até a vitória final na II Guerra.
Enquanto isso, Hitler era abstêmio.
O grande vencedor da Guerra civil americana, o general (e depois presidente) Ulysses S. Grant, era bem chegado a um uísque.
Churchill também bebia muito e (talvez até por isso mesmo) manteve alto o moral britânico até a vitória final na II Guerra.
Enquanto isso, Hitler era abstêmio.
É certo que o presidente Lula deu um tiro no próprio pé ao insistir na expulsão do Larry Rohter, do NYT, mas a "matéria" dele sobre o suposto exagero de Lula na bebida é um horror. Não é uma reportagem, não se ouviu ninguém, apenas alguns artigos e trechos de entrevistas e discursos foram citados. Parece muito mais uma coluna de mexericos da candinha.
O desprezo pelo governo e pelo Brasil que se lê nas entrelinhas do texto de Rohter mereceria, porém, que o NYT escalasse outra pessoa para cobrir nosso país. O texto é eivado de preconceito, como no momento em que fala que Lula "nasceu numa família pobre, num dos estados mais pobres do país e passou anos liderando sindicatos -- um ambiente famoso pelo seu consumo pesado de álcool".
Um jornal que publica um texto podre desses bem merece ter um Jayson Blair em suas fileiras.
Que vergonha, New York Times!
O desprezo pelo governo e pelo Brasil que se lê nas entrelinhas do texto de Rohter mereceria, porém, que o NYT escalasse outra pessoa para cobrir nosso país. O texto é eivado de preconceito, como no momento em que fala que Lula "nasceu numa família pobre, num dos estados mais pobres do país e passou anos liderando sindicatos -- um ambiente famoso pelo seu consumo pesado de álcool".
Um jornal que publica um texto podre desses bem merece ter um Jayson Blair em suas fileiras.
Que vergonha, New York Times!
9.5.04
Estou de plantão hoje. ;-(
Mas há males que vêm para bem: fui abençoado com a travessia da baía de Guanabara em meio a uma perfeita tarde de outono, com direito a sol tépido, brisa suave e o Pão de Açúcar recortado contra o azul sem mácula do céu.
Fiquei pensando que melhor do estar no Rio ou em Niterói é estar eternamente no meio do caminho, numa barca imersa nesse momento outonal digno de um van Gogh.
Acho que o filósofo Zenão de Eléia gostaria disso, se tivesse tido a chance de apreciar a paisagem.
Mas há males que vêm para bem: fui abençoado com a travessia da baía de Guanabara em meio a uma perfeita tarde de outono, com direito a sol tépido, brisa suave e o Pão de Açúcar recortado contra o azul sem mácula do céu.
Fiquei pensando que melhor do estar no Rio ou em Niterói é estar eternamente no meio do caminho, numa barca imersa nesse momento outonal digno de um van Gogh.
Acho que o filósofo Zenão de Eléia gostaria disso, se tivesse tido a chance de apreciar a paisagem.
30.4.04
27.4.04
Atualizei a lista de contatos aí ao lado. Os endereços estão todos nos trinques.
E, no processo, descobri que a Alessandra Archer voltou à ativa. Ainda devagar, mas tomara que apareçam novas narrativas "encontros e desencontros" por lá.
Mestre Augusto Sales também entrou na lista, como deveria estar há muito tempo. Ele merece.
E, no processo, descobri que a Alessandra Archer voltou à ativa. Ainda devagar, mas tomara que apareçam novas narrativas "encontros e desencontros" por lá.
Mestre Augusto Sales também entrou na lista, como deveria estar há muito tempo. Ele merece.
Esvoaçante
Desde o começo
era uma redoma
quebrada apenas pelo
suave oscilar na praça
de hortênsias comportadas
e tão solitárias
que não mais respondiam
ao cafuné dos átomos bailarinos
na brisa.
eu me balançava
e secava o pranto
(internal affairs o tempo todo)
e nos sonhos saltava
do balanço para o éter
hoje são suas
missivas eletrônicas
que trazem o cheiro da pracinha
e me lembram
de que houve, uma vez,
um despertar.
Tenho ímpetos de beijar
a tela do monitor
e fazer chover hortênsias
sobre seus cabelos dourados
e desavisados.
Desde o começo
era uma redoma
quebrada apenas pelo
suave oscilar na praça
de hortênsias comportadas
e tão solitárias
que não mais respondiam
ao cafuné dos átomos bailarinos
na brisa.
eu me balançava
e secava o pranto
(internal affairs o tempo todo)
e nos sonhos saltava
do balanço para o éter
hoje são suas
missivas eletrônicas
que trazem o cheiro da pracinha
e me lembram
de que houve, uma vez,
um despertar.
Tenho ímpetos de beijar
a tela do monitor
e fazer chover hortênsias
sobre seus cabelos dourados
e desavisados.
16.4.04
14.4.04
8.4.04
4.4.04
26.3.04
19.3.04
17.3.04
11.3.04
Este artigo que saiu no Globo de ontem, no finzinho da página de opinião, pode ter passado despercebido. É longo, mas recomendo a leitura. Mostra como algumas coisas funcionam neste mundo esquecido por Deus.
"Washington não quer a Usina de Resende
OTHON L. P. DA SILVA
A produção de combustível é a etapa mais importante no domínio da tecnologia nuclear. Para obtê-lo, as usinas de enriquecimento de urânio utilizam a técnica da difusão gasosa ou da ultracentrifugação. Ao negociar o acordo com a Alemanha, nos anos 70, o Brasil tentou garantir a transferência da tecnologia de ultracentrifugação. Não conseguiu, porque os Estados Unidos vetaram.
O Brasil, então, aceitou a alternativa da tecnologia jet-nozzle, que até à compra não havia enriquecido um único grama de urânio. Em 1978, diante do fracasso consumado do jet-nozzle, o signatário deste artigo propôs e o Ministério da Marinha aceitou desenvolver ultracentrífugas para enriquecer o urânio disponível no país.
Fizemos a primeira operação quatro anos mais tarde, com ultracentrífuga integralmente idealizada, projetada e construída no Brasil. Em 1991, entrou em operação um módulo de cerca de 500 ultracentrífugas, com capacidade para produzir 280 quilos/ano de urânio com enriquecimento inferior de 5%. Esse teor é superior ao necessário para o combustível da usinas nucleares de Angra dos Reis e atende às necessidades de um reator naval, em desenvolvimento. Um núcleo deste reator utiliza cerca de seis toneladas de urânio a 5% e permite ao submarino operar por dez anos. A propulsão nuclear, observe-se, não é uma aplicação bélica, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU.
No governo Sarney, nos anos 80, quando construiu o primeiro módulo da Usina Experimental em Aramar, São Paulo, o país uniu-se à Argentina e criou uma agência binacional para fazer inspeções nos padrões da AIEA. Pouco depois, no governo Collor, incluiu-se a AIEA no acordo, permitindo-lhe o controle direto do urânio enriquecido produzido - salvaguardados segredos comerciais e tecnológicos. Até então, as 500 ultracentrífugas disponíveis ficavam absolutamente visíveis no módulo de Aramar. Para permitir o controle sem escancarar a tecnologia, adotamos solução parecida com a do mictório público francês: em fileiras duplas, as centrífugas passaram a funcionar entre dois biombos colocados cerca de 30 centímetros acima do solo. Permitia-se a visão dos pés (suas bases), sem exibir o corpo, possibilitando a monitoração das tubulações de entrada e saída de hexafluoreto de urânio.
A solução foi aprovada pela AIEA. Ela instalou câmeras cinematográficas seladas para garantir vigilância 24 horas por dia, com direito a uma cota anual de inspeções programadas - e de surpresa - em todas as instalações nucleares brasileiras.
Já o governo Fernando Henrique, contrariando décadas de coerência em política externa, aceitou ratificar o Tratado de Não Proliferação nuclear. O TNP é assimétrico e discriminatório por dispensar a inspeção em países nuclearmente armados e limitar a inspeção aos desarmados.
O governo americano, a pretexto de evitar a proliferação, agora nos pressiona a aderir ao protocolo adicional aos acordos de salvaguardas. Ele amplia as assimetrias do TNP, ao exigir tantas inspeções quanto forem arbitradas. Não apenas nas instalações nucleares mas em qualquer parte do território considerada suspeita - o que inclui nossas residências, se assim decidirem.
É fácil entender por que os EUA procuram impedir o avanço da Usina de Enriquecimento que a Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) está construindo em Resende (RJ), com tecnologia cedida pela Marinha e sob supervisão da AIEA. Há uma razão econômica e outra estratégico-militar.
A econômica: como dispõe de grandes reservas de urânio e tecnologia própria - comercialmente competitiva - para produção do combustível, o país deixaria de ser exportador de minério e passaria à condição de importante global player no bilionário mercado de combustível nuclear.
Mas há, também, um motivo estratégico-militar. Os artefatos bélicos nucleares podem ser classificados de duas formas: os de destruição em massa e os inibidores de concentração de forças. Armas de destruição em massa são as de fusão (bombas de hidrogênio) e as de fissão de maior porte. As de baixa potência são inibidoras.
Qualquer operação militar para invasão ou ocupação de um território implica prévia concentração de forças. A existência de artefatos nucleares de baixa potência no território-alvo, com um vetor adequado de lançamento, funciona como poderoso inibidor.
Obviamente, não são do agrado de países que têm como opção política permanente a intervenção militar - independentemente da aprovação da ONU. A existência de uma usina de enriquecimento de urânio diminui o tempo entre a denúncia de todos os acordos e tratados já celebrados, e a eventual fabricação de artefatos (making nuclear weapon on short notice, no jargão internacional). É o que explica a ação americana - embora o Brasil tenha sempre deixado clara sua opção de não construir armas nucleares, chegando a incluir tal decisão na Constituição.
Sempre tivemos um comportamento exemplar em relação à não transferência de tecnologia sensível - diferentemente do Paquistão, que obteve a sua capacidade de enriquecer urânio através de um engenhoso programa de espionagem comandado pelo cientista Abdul Qadeer Khan e vendeu esta tecnologia a outros países. Sem as motivações bélicas daquele país, optamos por um sério programa de pesquisa e desenvolvimento que nos levou a melhores resultados técnicos e econômicos, a custos muito inferiores. E não vendemos a tecnologia desenvolvida.
As normas de inspeção da AIEA, às quais o Brasil atualmente está sujeito, são comprovadamente eficientes. São as mesmas utilizadas no pós-guerra por dezenas de anos, em relação aos regimes democráticos do Japão e da Alemanha, países que mantiveram renúncia à construção de artefatos mesmo nos momentos de crise na guerra fria. Não há razão para aceitarmos o endurecimento de normas, a pretexto das atitudes de outros países sujeitos a regimes não democráticos e com passado recente de confrontação com os EUA.
A proposta do presidente Bush de reiniciar testes nucleares e desenvolver uma nova geração de pequenos artefatos para serem usados de forma "cirúrgica", até mesmo contra países não nucleares, é preocupante para o mundo. Tais atitudes somadas a agressões, sem o respaldo do Conselho de Segurança da ONU, constituem forte estimulante à proliferação nuclear, principalmente nos países islâmicos com os quais tenham potencial de confrontação.
Desde a independência, o Brasil é um aliado dos Estados Unidos. O povo brasileiro aprecia vários aspectos da cultura americana, porém tem o direito de resistir às pressões e recusar o protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, assim como serenamente, sem antagonismos, não aceitar vetos sobre atividades pacíficas com grande significado comercial.
O Brasil é aliado dos EUA, mas não pode aceitar veto sobre atividade pacífica e comercial."
OTHON L. P. DA SILVA é empresário, engenheiro naval, mecânico e nuclear e vice-almirante na reserva.
"Washington não quer a Usina de Resende
OTHON L. P. DA SILVA
A produção de combustível é a etapa mais importante no domínio da tecnologia nuclear. Para obtê-lo, as usinas de enriquecimento de urânio utilizam a técnica da difusão gasosa ou da ultracentrifugação. Ao negociar o acordo com a Alemanha, nos anos 70, o Brasil tentou garantir a transferência da tecnologia de ultracentrifugação. Não conseguiu, porque os Estados Unidos vetaram.
O Brasil, então, aceitou a alternativa da tecnologia jet-nozzle, que até à compra não havia enriquecido um único grama de urânio. Em 1978, diante do fracasso consumado do jet-nozzle, o signatário deste artigo propôs e o Ministério da Marinha aceitou desenvolver ultracentrífugas para enriquecer o urânio disponível no país.
Fizemos a primeira operação quatro anos mais tarde, com ultracentrífuga integralmente idealizada, projetada e construída no Brasil. Em 1991, entrou em operação um módulo de cerca de 500 ultracentrífugas, com capacidade para produzir 280 quilos/ano de urânio com enriquecimento inferior de 5%. Esse teor é superior ao necessário para o combustível da usinas nucleares de Angra dos Reis e atende às necessidades de um reator naval, em desenvolvimento. Um núcleo deste reator utiliza cerca de seis toneladas de urânio a 5% e permite ao submarino operar por dez anos. A propulsão nuclear, observe-se, não é uma aplicação bélica, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU.
No governo Sarney, nos anos 80, quando construiu o primeiro módulo da Usina Experimental em Aramar, São Paulo, o país uniu-se à Argentina e criou uma agência binacional para fazer inspeções nos padrões da AIEA. Pouco depois, no governo Collor, incluiu-se a AIEA no acordo, permitindo-lhe o controle direto do urânio enriquecido produzido - salvaguardados segredos comerciais e tecnológicos. Até então, as 500 ultracentrífugas disponíveis ficavam absolutamente visíveis no módulo de Aramar. Para permitir o controle sem escancarar a tecnologia, adotamos solução parecida com a do mictório público francês: em fileiras duplas, as centrífugas passaram a funcionar entre dois biombos colocados cerca de 30 centímetros acima do solo. Permitia-se a visão dos pés (suas bases), sem exibir o corpo, possibilitando a monitoração das tubulações de entrada e saída de hexafluoreto de urânio.
A solução foi aprovada pela AIEA. Ela instalou câmeras cinematográficas seladas para garantir vigilância 24 horas por dia, com direito a uma cota anual de inspeções programadas - e de surpresa - em todas as instalações nucleares brasileiras.
Já o governo Fernando Henrique, contrariando décadas de coerência em política externa, aceitou ratificar o Tratado de Não Proliferação nuclear. O TNP é assimétrico e discriminatório por dispensar a inspeção em países nuclearmente armados e limitar a inspeção aos desarmados.
O governo americano, a pretexto de evitar a proliferação, agora nos pressiona a aderir ao protocolo adicional aos acordos de salvaguardas. Ele amplia as assimetrias do TNP, ao exigir tantas inspeções quanto forem arbitradas. Não apenas nas instalações nucleares mas em qualquer parte do território considerada suspeita - o que inclui nossas residências, se assim decidirem.
É fácil entender por que os EUA procuram impedir o avanço da Usina de Enriquecimento que a Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) está construindo em Resende (RJ), com tecnologia cedida pela Marinha e sob supervisão da AIEA. Há uma razão econômica e outra estratégico-militar.
A econômica: como dispõe de grandes reservas de urânio e tecnologia própria - comercialmente competitiva - para produção do combustível, o país deixaria de ser exportador de minério e passaria à condição de importante global player no bilionário mercado de combustível nuclear.
Mas há, também, um motivo estratégico-militar. Os artefatos bélicos nucleares podem ser classificados de duas formas: os de destruição em massa e os inibidores de concentração de forças. Armas de destruição em massa são as de fusão (bombas de hidrogênio) e as de fissão de maior porte. As de baixa potência são inibidoras.
Qualquer operação militar para invasão ou ocupação de um território implica prévia concentração de forças. A existência de artefatos nucleares de baixa potência no território-alvo, com um vetor adequado de lançamento, funciona como poderoso inibidor.
Obviamente, não são do agrado de países que têm como opção política permanente a intervenção militar - independentemente da aprovação da ONU. A existência de uma usina de enriquecimento de urânio diminui o tempo entre a denúncia de todos os acordos e tratados já celebrados, e a eventual fabricação de artefatos (making nuclear weapon on short notice, no jargão internacional). É o que explica a ação americana - embora o Brasil tenha sempre deixado clara sua opção de não construir armas nucleares, chegando a incluir tal decisão na Constituição.
Sempre tivemos um comportamento exemplar em relação à não transferência de tecnologia sensível - diferentemente do Paquistão, que obteve a sua capacidade de enriquecer urânio através de um engenhoso programa de espionagem comandado pelo cientista Abdul Qadeer Khan e vendeu esta tecnologia a outros países. Sem as motivações bélicas daquele país, optamos por um sério programa de pesquisa e desenvolvimento que nos levou a melhores resultados técnicos e econômicos, a custos muito inferiores. E não vendemos a tecnologia desenvolvida.
As normas de inspeção da AIEA, às quais o Brasil atualmente está sujeito, são comprovadamente eficientes. São as mesmas utilizadas no pós-guerra por dezenas de anos, em relação aos regimes democráticos do Japão e da Alemanha, países que mantiveram renúncia à construção de artefatos mesmo nos momentos de crise na guerra fria. Não há razão para aceitarmos o endurecimento de normas, a pretexto das atitudes de outros países sujeitos a regimes não democráticos e com passado recente de confrontação com os EUA.
A proposta do presidente Bush de reiniciar testes nucleares e desenvolver uma nova geração de pequenos artefatos para serem usados de forma "cirúrgica", até mesmo contra países não nucleares, é preocupante para o mundo. Tais atitudes somadas a agressões, sem o respaldo do Conselho de Segurança da ONU, constituem forte estimulante à proliferação nuclear, principalmente nos países islâmicos com os quais tenham potencial de confrontação.
Desde a independência, o Brasil é um aliado dos Estados Unidos. O povo brasileiro aprecia vários aspectos da cultura americana, porém tem o direito de resistir às pressões e recusar o protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, assim como serenamente, sem antagonismos, não aceitar vetos sobre atividades pacíficas com grande significado comercial.
O Brasil é aliado dos EUA, mas não pode aceitar veto sobre atividade pacífica e comercial."
OTHON L. P. DA SILVA é empresário, engenheiro naval, mecânico e nuclear e vice-almirante na reserva.
7.3.04
Enviado pelo C@t:
---------------------
"A fábula moderna"
por Max Gehringer
Revista Exame, nº 772
2002-08-07
---------------------
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou, deu um gemido e apagou. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal. Ainda meio zonza, atravessou-o e deu de cara com uma miríade de pessoas, todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É. Tipo assim, o céu, aquele. Com querubins voando e coisas do gênero.
- Que é isso amigo, você está com gozação?
- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.
Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva. Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável.
Porque, ponderou. dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa. E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Pois não?
A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?
- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro, se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
- Hã?
- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo, isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: "O melhor céu da América Latina".
- Fantástico!
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver. Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias hi-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.
- Incrível!
- É obvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que você terá um futuro brilhante se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno...
---------------------
"A fábula moderna"
por Max Gehringer
Revista Exame, nº 772
2002-08-07
---------------------
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou, deu um gemido e apagou. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal. Ainda meio zonza, atravessou-o e deu de cara com uma miríade de pessoas, todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É. Tipo assim, o céu, aquele. Com querubins voando e coisas do gênero.
- Que é isso amigo, você está com gozação?
- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.
Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva. Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável.
Porque, ponderou. dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa. E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Pois não?
A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?
- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro, se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
- Hã?
- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo, isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: "O melhor céu da América Latina".
- Fantástico!
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver. Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias hi-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.
- Incrível!
- É obvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que você terá um futuro brilhante se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno...
4.3.04
Já está na terceira fase a seqüência de publicação dos Minicontos deste guardião no site literário paralelos. A seqüência, editada por mestre Augusto Sales, vai do miniconto 21 ao 30. Aqui.
29.2.04
Todas as águas-vivas ao sabor das ondas
são atraídas por minha tristeza
e queimam como que para me purgar
do seu amor perdido
das palavras proibidas
que transformaram em vinagre
o outrora perfumado odor de suas mãos
nas minhas.
Hoje, toda vez que falo a uma linda jovem
vejo nos olhos curiosos as suas órbitas
nos cabelos viçosos e despojados os seus
na boca em flor seu jardim
que eu tanto queria irrigar
com minha alegria selvagem
minha verve
e alguma feitiçaria antiga.
Ah! mas só me restaram as vagas
e o escuro de velhos cinemas
onde um homem pode chorar só e digno
e esperar pela Hora.
são atraídas por minha tristeza
e queimam como que para me purgar
do seu amor perdido
das palavras proibidas
que transformaram em vinagre
o outrora perfumado odor de suas mãos
nas minhas.
Hoje, toda vez que falo a uma linda jovem
vejo nos olhos curiosos as suas órbitas
nos cabelos viçosos e despojados os seus
na boca em flor seu jardim
que eu tanto queria irrigar
com minha alegria selvagem
minha verve
e alguma feitiçaria antiga.
Ah! mas só me restaram as vagas
e o escuro de velhos cinemas
onde um homem pode chorar só e digno
e esperar pela Hora.
19.2.04
eu hoje não quero falar com o poema
quero esboeteá-lo
açoitá-lo
e deixá-lo sangrar ao relento
fitando de olhos turvos
a aurora boreal no inferno.
não
na verdade eu quero gritar com o poema
até ele se encolher num canto da estação
e depois flanar sobre os trilhos eletrificados
e desertar do exército de zumbis.
de verdade?
eu só quero fumar um hollywood
e investigar o oceano
em silêncio
e pensar em todos os erros
que cometi com você.
quero esboeteá-lo
açoitá-lo
e deixá-lo sangrar ao relento
fitando de olhos turvos
a aurora boreal no inferno.
não
na verdade eu quero gritar com o poema
até ele se encolher num canto da estação
e depois flanar sobre os trilhos eletrificados
e desertar do exército de zumbis.
de verdade?
eu só quero fumar um hollywood
e investigar o oceano
em silêncio
e pensar em todos os erros
que cometi com você.
13.2.04
Algumas manchetes recentes:
"Petrobras tem maior lucro da história"
"Ganho com tarifas aumenta lucro do Unibanco"
"Lucro da Caixa cresceu 50% ano passado"
"Lucro do Bradesco chegou a R$ 2,3 bi no ano passado"
"Citigroup lucra US$ 4,76 bi"
"Lucro da IBM é de US$ 2,7 bilhões"
"Lucro da Aracruz subiu 7.000% no ano passado"
E eu pergunto, como o Plebe Rude: cadê nossa fração?
"Petrobras tem maior lucro da história"
"Ganho com tarifas aumenta lucro do Unibanco"
"Lucro da Caixa cresceu 50% ano passado"
"Lucro do Bradesco chegou a R$ 2,3 bi no ano passado"
"Citigroup lucra US$ 4,76 bi"
"Lucro da IBM é de US$ 2,7 bilhões"
"Lucro da Aracruz subiu 7.000% no ano passado"
E eu pergunto, como o Plebe Rude: cadê nossa fração?
10.2.04
Soneto pela quietude
Vais a Zeus de salto alto
E esnobas Afrodite;
Quando beijas o asfalto
Só esperas tendinite?
Me atiras alfarrábios
mas só queres auto-ajuda
Tocas rindo outros lábios
Nunca sabes ficar muda.
Solidão, quero socorro
contra fogos d'artifício
Em tal festa só eu morro
Muito antes do solstício.
Devolvei o velho gorro
já cansei deste comício.
Vais a Zeus de salto alto
E esnobas Afrodite;
Quando beijas o asfalto
Só esperas tendinite?
Me atiras alfarrábios
mas só queres auto-ajuda
Tocas rindo outros lábios
Nunca sabes ficar muda.
Solidão, quero socorro
contra fogos d'artifício
Em tal festa só eu morro
Muito antes do solstício.
Devolvei o velho gorro
já cansei deste comício.
Soneto demente
Teu amor vem descartável
Como a pele da serpente
Faz a alma miserável
É poção adstringente
A paixão não te acomete
Só conheces "eu desejo"
Corações ao vinagrete,
Estratégia no solfejo...
E ainda do teu seio
Grito de abstinência
Toda vez que, só, releio
Minha carta de demência.
Uns fantasmas, esfaqueio
Outros são Vossa Excelência.
Teu amor vem descartável
Como a pele da serpente
Faz a alma miserável
É poção adstringente
A paixão não te acomete
Só conheces "eu desejo"
Corações ao vinagrete,
Estratégia no solfejo...
E ainda do teu seio
Grito de abstinência
Toda vez que, só, releio
Minha carta de demência.
Uns fantasmas, esfaqueio
Outros são Vossa Excelência.
6.2.04
2.2.04
Saí ontem do jornal às 23 e tanto. Por isso estou tão cansado. Segunda-feira depois de plantão é como a ressaca de uma bebida que você tomou porque não havia outra opção. O plantão só vale pelo ar-condicionado da redação...
Mal posso esperar pelo sábado que vem, o final dos 12 dias seguidos de labuta.
Mal posso esperar pelo sábado que vem, o final dos 12 dias seguidos de labuta.
31.1.04
Também vi no DVD "Tiros em Columbine", que não consegui ver ano passado. Realmente, é bom demais. O extra é uma entrevista coletiva de Michael Moore praticamente sem cortes (43 minutos), feita com jornalistas britânicos. A lucidez do homem é um bálsamo nesta era em que tantos em alguma posição de poder mentem descaradamente. A gente fica com uma vontade danada de beber várias cervejas com o cara num boteco, de tão legal que ele é. Oxalá um dia eu possa entrevistá-lo.
Taí, se dependesse de mim, eu daria o Oscar a "Mestre dos mares". O filme é puro cinemão, uma delícia. Russel Crowe está perfeito como o capitão do HMS Surprise, Jack Aubrey, e comanda um épico naval de primeira linha. A crítica é apenas à visão mostrada de um pedaço da costa brasileira em 1805, com índios e uns poucos portugueses (e uma bela cabrocha, diga-se de passagem). Estava mais para século XVI, acho... Mas não compromete a diversão do início ao fim. Inclusive, vale ir a um cinema bem equipado para ver. Assisti no São Luiz, no Catete, e a artilharia das batalhas entre os navios parecia estar acontecendo bem no meio do cinema.
Também gostei do personagem do médico-naturalista, interpretado por Paul Bettany.
29.1.04
Was this His coming! I had hoped to see
A scene of wondrous glory, as was told
Of some great God who in a rain of gold
Broke open bars and fell on Danae:
Or a dread vision as when Semele
Sickening for love and unappeased desire
Prayed to see God's clear body, and the fire
Caught her brown limbs and slew her utterly:
With such glad dreams I sought this holy place,
And now with wondering eyes and heart I stand
Before this supreme mystery of Love:
Some kneeling girl with passionless pale face,
An angel with a lily in his hand,
And over both the white wings of a Dove.
("Ave Maria Gratia Plena", de Oscar Wilde)
27.1.04
Fui ver "A importância de ser fiel", no Villa-Lobos. A peça, a mais divertida de Oscar Wilde, tem uma das mais gostosas aberturas com os amigos Algernon e Jack conversando na casa do primeiro. É um verdadeiro festival de frases espirituosas que fazem logo o público entrar no clima wildeano, leve e gozador (se não tivesse sido irlandês, aliás, o escritor teria dado um ótimo carioca). Dalton Vigh é o Algernon perfeito, um dândi que confere o devido charme ao "ato" de não fazer nada. E, naturalmente, Natália Timberg é uma Lady Bracknell irretocável.
Não gostei de Brian Penido, do grupo Tapa, como Jack, achei que ficou artificial demais. Mas, no todo, a montagem é gostosa e conferiu uma boa "despressurizada" a uma sexta-feira pós-fechamento.
Não gostei de Brian Penido, do grupo Tapa, como Jack, achei que ficou artificial demais. Mas, no todo, a montagem é gostosa e conferiu uma boa "despressurizada" a uma sexta-feira pós-fechamento.
23.1.04
19.1.04
O DVD de "Procurando Nemo" tem uns extras deliciosos. O melhor é um minidocumentário com Jean-Michel Costeau (o filho de Jacques) sobre corais e recifes. "Documentário" em termos, porque os peixinhos do desenho aparecem no meio da narrativa do pobre Jean-Michel e roubam a cena até o homem dar um ataque de pelanca. Eu e minhas filhas Jessica e Rebeca gargalhamos sem parar.
16.1.04
Soneto desmesurado da perda
Denunciou o descontrole na missiva
Tua letra apressada e tremida;
E com esferográfica borracha
Ali me apagaste de tua vida.
Foi tão absoluto meu espanto
que só sobraram palavras vazias;
com elas respondi como robô
ao disparate que dizias.
Depois chorei sozinho no escuro
e decidi nunca mais lhe falar
Só hoje amargo o gesto impuro
Pois que perdi a fé no amar
e já nenhum feitiço conjuro
Que fique Vênus no velho altar.
Denunciou o descontrole na missiva
Tua letra apressada e tremida;
E com esferográfica borracha
Ali me apagaste de tua vida.
Foi tão absoluto meu espanto
que só sobraram palavras vazias;
com elas respondi como robô
ao disparate que dizias.
Depois chorei sozinho no escuro
e decidi nunca mais lhe falar
Só hoje amargo o gesto impuro
Pois que perdi a fé no amar
e já nenhum feitiço conjuro
Que fique Vênus no velho altar.
14.1.04
Meus "Minicontos do Desconforto" já começaram a ser publicados no site Paralelos! Eles estão aqui, e também há aqui uma introdução sobre as séries do site por mestre Augusto Sales.
Os contos estão saindo em séries de dez, que serão publicadas em seis semanas. Grande Augusto, quero agradecer a gentileza.
Os contos estão saindo em séries de dez, que serão publicadas em seis semanas. Grande Augusto, quero agradecer a gentileza.
"O americano tranqüilo", baseado num livro de Graham Greene, é um excelente filme. Michael Caine está perfeito como um correspondente britânico em Saigon nos anos 50 que vive um triângulo amoroso-político com uma bela vietnamita e um americano interpretado por Brendan Fraser.
Uma história sobre desejos, traição, escolhas e os pecados que grudam em nossa alma, dos quais não podemos nos livrar.
Uma história sobre desejos, traição, escolhas e os pecados que grudam em nossa alma, dos quais não podemos nos livrar.
13.1.04
Um pulinho rápido à terra da garoa hoje. Fui e voltei, em vôos sossegados e observando o tapete de nuvens sobre Rio e Sampa. Depois de uma conferência com altos bytes de complexidade, supercomputação e arquiteturas cabeludas, foi bom olhar o céu e simplesmente refletir.
Mas é igualmente interessante estar em aviões menores, que ficam em altitudes mais baixas e permitem ver a terra (ou o mar) lá embaixo. Nesse sentido, um dos vôos mais fantásticos em que estive foi num jatinho da Embraer usado pela United entre Los Angeles e San Diego, na Califórnia. Acabara de chover e o dia estava ficando ensolarado, com nuvens esparsas. Eram mais ou menos três horas da tarde e o avião passeava entre as nuvens, voando baixo sobre a costa do Oceano Pacífico. Era como se eu estivesse no meio de esculturas gigantes de algodão-doce sobre o mar, torneadas pelo vento. A impressão que se tinha era que esbarraríamos em alguma divindade greco-romana esquecida naquele labirinto de nuvens.
Mas é igualmente interessante estar em aviões menores, que ficam em altitudes mais baixas e permitem ver a terra (ou o mar) lá embaixo. Nesse sentido, um dos vôos mais fantásticos em que estive foi num jatinho da Embraer usado pela United entre Los Angeles e San Diego, na Califórnia. Acabara de chover e o dia estava ficando ensolarado, com nuvens esparsas. Eram mais ou menos três horas da tarde e o avião passeava entre as nuvens, voando baixo sobre a costa do Oceano Pacífico. Era como se eu estivesse no meio de esculturas gigantes de algodão-doce sobre o mar, torneadas pelo vento. A impressão que se tinha era que esbarraríamos em alguma divindade greco-romana esquecida naquele labirinto de nuvens.
9.1.04
Tem dias que a gente fica tão irritado que precisa rememorar os versos imortais de Charles Chaplin:
Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be
Ever so near
That's the time
You must keep on trying
Smile,
What's the use of crying
You'll find that life is still worth while
If you
Just smile
Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be
Ever so near
That's the time
You must keep on trying
Smile,
What's the use of crying
You'll find that life is still worth while
If you
Just smile
7.1.04
6.1.04
A festa ontem foi muito engraçada. Miss Monteiro estava com a corda toda, e a animada mesa, num cantinho escondido da Princesinha do Mar, contou com coleguinhas de todos os cantos. Tia Cora foi e logo uma parte da trupe estava envolta num mar de gadgets. Enfim, fomos todos felizes, transformando a noite de segunda num verdadeiro pré-pré-pré-sábado.
5.1.04
4.1.04
Um quark
Na madrugada aquosa
sonhou com uma pitada de aventura
e mais do que nunca a desejou a seu lado
rindo na escada
e sussurrando
para que tocasse também o outro seio
sob a blusa desabotoada.
Despertou
com o som das goteiras na alma
e suspirou para a escuridão:
ela estava lá e não mais estava;
podia ouvir sua respiração suave
mas ela, a verdadeira,
havia ficado numa esquina do tempo.
Ah! e o pior, o pior
era que ele também parara em algum ponto
-- e a ponderação levara adiante outro pedaço de si.
Ó ímpetos perdidos nas estrelas!
Tenham piedade de nossos eus desbotados
e lancem-nos um quark irresponsável de vez em quando;
pois no que a vida descobre o palor de suas faces
é penoso ter caprichos sem alguma cumplicidade.
Na madrugada aquosa
sonhou com uma pitada de aventura
e mais do que nunca a desejou a seu lado
rindo na escada
e sussurrando
para que tocasse também o outro seio
sob a blusa desabotoada.
Despertou
com o som das goteiras na alma
e suspirou para a escuridão:
ela estava lá e não mais estava;
podia ouvir sua respiração suave
mas ela, a verdadeira,
havia ficado numa esquina do tempo.
Ah! e o pior, o pior
era que ele também parara em algum ponto
-- e a ponderação levara adiante outro pedaço de si.
Ó ímpetos perdidos nas estrelas!
Tenham piedade de nossos eus desbotados
e lancem-nos um quark irresponsável de vez em quando;
pois no que a vida descobre o palor de suas faces
é penoso ter caprichos sem alguma cumplicidade.