31.10.02

Bom estar de volta ao Rio. Estive em Florianópolis, cobrindo a Futurecom, baita evento de tecnologia. Estou morto de cansaço e louco para o fim de semana chegar. Trabalhei horrores, mas pelo menos deu para curtir um pouquinho a noite em Floripa, que tem um ritmo meio "baiano" de ser, embora esteja no Sul. Jantei com algumas das coleguinhas mais legais do país, e rimos muito, falamos bobagens... A volta é que foi fogo: Florianópolis-Porto Alegre-Rio. Choveu, os vôos atrasaram, e só consegui pôr a cabeça no travesseiro, em casa, lá pelas duas da madruga. Só vou descansar mesmo no sábado. Mas faz parrrrrrte. ;-))

28.10.02

Fui a duas festas deliciosas no sábado.
Mas a de domingo foi a festa mais bonita que já se viu na Terra Brasilis.
Lula lá.

25.10.02

Try (just a little bit harder)

Queria que me amasses só mais um pouco:
O suficiente para trocar de pele e de vida.
Vejo o desejo em teus olhos
Mas não em tuas mãos imóveis.


Raiva

Como dói ser possuído pela ira
E senti-la prestes a rebentar-se nas têmporas.
Sob a face pálida do embaixador
reside uma violência imaculada, intocada

Justamente a que entra em erupção sem aviso
e jorra palavras de enxofre.

23.10.02

Não vou mais começar o show sozinho hoje em Vila Isabel. Hélcio chegará a tempo (vamos começar um pouquinho mais tarde, por volta das nove). Mas estaremos na área!

21.10.02

Lord Alfred Douglas é apontado por muitos estudiosos como o responsável pela ruína de Oscar Wilde. E ao que tudo indica, o jovem nobre que foi objeto da afeição do grande escritor tinha mesmo um temperamento terrível, que se prolongou até sua velhice (ele sobreviveu a Wilde por 45 anos). Mas não se iludam: foi o próprio Wilde que cavou sua derrocada, desafiando a sociedade vitoriana até o fiim, num processo autodestrutivo. A idéia de que Douglas arruinou o escritor foi em parte alimentada pela própria carta que Wilde lhe escreveu da prisão, "De Profundis", e também por amigos do esteta que detestavam Bosie (o apelido de infância de lord Alfred).
No meio desse turbilhão, muitos se esquecem das qualidades de Douglas como poeta, apontado por alguns como melhor, inclusive, que o próprio Wilde nessa área. Realmente, ele escreveu alguns poemas de rara beleza e extremamente musicais. Eis exemplos:

A Summer Storm

Alas! how frail and weak a little boat
I have sailed in. I called it Happiness,
And I had thought there was not storm nor stress
Of wind so masterful but it would float
Blithely in their despite; but lo! one note
Of harsh discord, one word of bitterness,
And a fierce overwhelming wilderness
Of angry waters chokes my gasping throat.

I am near drowned in this unhappy sea,
I will not strive, let me lie still and sink,
I have no joy to live. Oh! unkind love!
Why have you wounded me so bitterly?
That am as easily wounded as a dove
Who has a silver throat and feet of pink.


* * *

Night Coming Into a Garden

Roses red and white,
Every rose is hanging her head,
Silently comes the lady Night,
Only the flowers can hear her tread.

All day long the birds have been calling,
Calling shrill and sweet,
They are still when she comes with her long robe falling,
Falling down to her feet.

The thrush has sung to his mate,
“She is coming! hush! she is coming!”
She is lifting the latch at the gate,
And the bees have ceased from their humming.

I cannot see her face as she passes
Through my garden of white and red;
But I know she is walking where the daisies and grasses
Are curtseying after her tread.

She has passed me by with a rustle and sweep
Of her robe (as she passed I heard it sweeping),
And all my red roses have fallen asleep,
And all my white roses are sleeping.


* * *

The Dead Poet (relembrando Wilde)

I dreamed of him last night, I saw his face
All radiant and unshadowed of distress,
And as of old, in music measureless,
I heard his golden voice and marked him trace
Under the common thing the hidden grace,
And conjure wonder out of emptiness
Till mean things put on beauty like a dress
And all the world was an enchanted place.

And then methought outside a fast locked gate
I mourned the loss of unrecorded words,
Forgotten tales and mysteries half said,
Wonders that might have been articulate,
And voiceless thoughts like murdered singing birds.
And so I woke and knew he was dead.

20.10.02

Na próxima quarta-feira acontecerá algo inusitado no ChoppGol de Vila Isabel: vou começar o show sozinho, sem o Hélcio. Ele estará tocando num evento no Riocentro e chegará um pouco mais tarde, de modo que terei de pegar a guitarra e segurar a peteca por uns quarenta minutos. Rapaz, vou dar uma ensaiada na véspera. Tocar junto com uma banda é uma coisa, eu não fico nervoso e sou até bem cara-de-pau no palco. Mas sozinho dá um friozinho na barriga.
Não que não tenha feito isso antes. Já fiz. Mas tem algum tempo. E, se nos tempos do Estrada Fróes, minha velha banda, eu era o cantor principal, além de guitarrista, hoje essa função é do Hélcio (afinal, ele permaneceu na estrada musical todos esses anos).
Mas acho que vai ser divertido. Será, como sempre, a partir das 20h, na rua Felipe Camarão, 8, em frente à Uerj.

19.10.02

Estamos no século 21 e veja o que a doce Mary Fabriani escreveu, revoltada, no seu Montanha Russa:

"Tudo por um poema

Uma das coisas mais legais de se viver num país como a Suécia não é apenas conhecer características e maluquices do povo sueco. É muitíssimo interessante também entrar em contato com gente dos países mais variados, como Bósnia, Irã, Vietnã, Turquia, Rússia e até Iraque. A convivência, claro, não é lá muito fácil. Afinal, somos todos muito diferentes. Mas, mesmo não sendo refugiada de guerra eu ainda sou imigrante e algumas pessoas têm histórias que merecem mais atencão.

Uma dessas pessoas é o meu amigo Farshid, que é iraniano. Esquecam todos os esteriótipos de árabe machista (até porque os iranianos não são árabes, mas persas): o Farshid é um amor de criatura, muitíssimo inteligente e engracado. Ele veio pra Suécia há quase quatro anos atrás, fugindo de uma milícia que rondava a universidade onde ele estudava em Teerã. O que ele fez? Escreveu um poema no qual criticava o governo dos Aiatolás. Claro que não assinou o poema, que foi colocado num quadro de avisos da universidade. Alguém descobriu quem o tinha escrito e ele teve de fugir no meio da noite.

Pois bem, o negócio é que o governo da Suécia acabou de negar o visto de permanência do Farshid e ele terá de deixar o país dentro em breve e voltar para o Irã. Me encontrei com ele no colégio na semana passada e ele estava desconsolado. Eu sinceramente não entendo. O governo sueco precisa de gente para trabalhar exatamente no servico feito pelo Farshid, que é enfermeiro. Fala-se inclusive em importar mão-de-obra para certas áreas nas quais há falta aguda de profissionais e a profissão de enfermeiro é uma delas.

Para se defender durante o julgamento do seu caso, Farshid e seu advogado sueco conseguiram um fax enviado por seus amigos iranianos confirmando que a cacada realemente aconteceu e que Farshid não pode voltar para Teerã sem arriscar anos e mais anos na cadeia ou então morte imediata. Estilo Salman Rushdie. Uma das pessoas que estavam julgando o pedido de asilo político argumentou que o fax "não tinha sequer um envelope". "Mas como é que eles querem que meus amigos enviem uma carta pra mim se absolutamente tudo no Irã é censurado?", pergunta Farshid.

Acho fantástica essa abertura do governo sueco no sentido de abrigar dezenas de milhares de refugiados de guerra - gente nem sempre qualificada que se não fosse por países com uma política de paz exemplar como a Suécia morreria antes mesmo de tentar se salvar. O que eu critico é que esse abrigo seja tão parcial. O Farshid sabe muito bem sueco, se comunica e trabalha todos os dias. Ele não vive do dinheiro do social, muitíssimo pelo contrário. Além do mais, desde que chegou aqui já fez vários cursos para poder falar sueco e para poder trabalhar como enfermeiro. Por que jogar tudo isso fora?"


Este blog se solidariza incondicionalmente com o amigo de Mary, Farshid, e torce fervorosamente para que ele possa viver uma vida livre e escrever poemas livres em algum país com o mínimo de bom-senso sobre esta Terra maltratada. Este Guardião ora para que um dia Oriente e Ocidente se vejam livres de regimes parciais, tirânicos, fanáticos ou simplesmente estúpidos.

18.10.02

Little Rose
Little Boy
Little hope.
Quarta-feira, após o jogo, o ChoppGol de Vila Isabel teve de cerrar suas portas às pressas por causa das brigas de torcedores após o jogo Vasco e Flamengo. Houve confusão no ponto de ônibus em frente à Uerj e tiros para o alto. Eu e Hélcio ficamos presos no bar por algumas horas. E o show acabou mais cedo.

15.10.02

Estou lendo "Crônicas efêmeras" (Ateliê Editorial), reunião dos artigos escritos por João do Rio na "Revista da Semana" ao longo de todo o ano de 1916. Separei alguns trechos sensacionais para pôr nos blogs. Eis o primeiro deles, de uma crônica em que o célebre blagueur espinafrava o governo Wenceslau Brás a respeito do monte de impostos diferentes cobrados na época (soa familiar?). A certa altura, João do Rio não agüentou e resolveu, cheio de ironia, sugerir mais algumas taxas...

"1o. -- Imposto sobre a tolice parlamentar. Cada deputado que fizesse um discurso asnático, cada deputado que apresentasse um projeto inútil teria imposto.

2o. -- Imposto sobre os cargos ocupados por pessoas não têm competência para os ditos cargos. Como a extravagância do Brasil é nomear errado, creio que esse imposto seria de chofre a causa da remodelação do país. (...) As demissões seriam em massa para não pagar o dito imposto.

3o. -- Imposto sobre a elegância. Taxa sobre os five-o'clocks anunciados pelos jornais. Toda a falsa elegância desapareceria, para não pagar imposto.

4o. -- Imposto sobre os amadores literários. Cada artigo com mais de vinte erros, taxa fortíssima. Seria a ressurreição da literatura, ao cabo de certo tempo.

5o. -- Imposto sobre os cavalheiros que discutem finanças."

Lembre-se, caro leitor: o texto é de 1916, hein?

11.10.02

Sobressalto

Quando acordei você não estava;
havia apenas o ressonar suave da solidão a meu lado.
A cama ainda exalava seu cheiro
e meu coração batia no compasso
dos galhos trêmulos contra o vidro da janela.

Então choveu em meus olhos -- uma chuva ácida --
e minha boca mal vestida pela barba irrigada tremeu
como o jovem ramo no peitoril.
Recostei-me e cerrei as pálpebras, as mãos resignadas
a acarinhar o lençol.

Foi aí que ouvi sua voz
e seus passos
e o swish-swish da camisola
(tão gostoso quanto o comecinho de um jazz)
e sorri.

10.10.02

Ontem, no ChoppGol de Vila Isabel, recebemos a visita supimpa de dois blogcompanheiros: Mr. Stanley e Mr. João M. Batemos divertidos papos sobre música e futuros blog-encontros. Isso melhorou um pouco meu astral esta semana, que está meio devagar.

9.10.02

Não sei se contei isso a vocês. Outro dia estava na rua São José tratando de uns negócios musicais quando ouço uma guitarra ensandecida no meio da praça, ali perto da Rio Branco. Não era CD. Fiquei procurando de onde vinha o som, hipnotizado, até que descobri um sujeito tocando horrores embaixo de um guarda-sol, enquanto dois outros caras vendiam seus CDs, de rock e blues. Só instrumentais, nada de voz. Era o guitarrista Sérgio Bap.
O cara simplesmente faz miséria com as seis cordas. Fiquei ali paralisado uns vinte minutos vendo-o viajar no braço da guitarra. Comprei um CD imediatamente.
Se eu não tivesse um compromisso, acho que tinha ficado ali parado até anoitecer.
Esse é o poder da música.

7.10.02

A praia

Enquanto afundava nas águas cristalinas
Olhei o anel que me deste, agora estranhamente verde.
Eu que sempre amei o mar
Vou agora dar braçadas pela eternidade.

Egoísta, pensei que poderias estar comigo.
Mas para quê, se tu és a vida em todas as suas nuanças?
Eu sim, eu beijei a morte cedo:
ela me acariciou logo após o tapinha sorridente do obstetra.

E hoje, nesta manhã perfeita
eu encontrei o arrecife perfeito
e dele não me quis desviar.

Então, adeus: não me queira mal
por abandonar a peça no segundo ato.
Não tem jeito, vamos ter que respirar fundo e decidir a partida no segundo turno para presidente. Fiquei até as duas da madruga de hoje roendo as unhas (não de verdade, mas mentalmente) em frente à TV e, a cada boletim, me irritava mais. ;-) Não importava o número de urnas apuradas, Lula não saía dos 46%, nem Serra dos 23%. Quando chegamos a 84% das urnas apuradas, desisti.
As próximas três semanas vão ser um teste para o coração e os nervos.
E aqui no Rio, para completar, a gente acordou com uma ressaca rosinha...

4.10.02

Valeu a pena ter descansado na quarta. O show da banda Swing Rio ontem foi uma delícia. Mariana, a vocalista, e eu dançamos quase sem parar, devo ter perdido um quilo no palco ;-) O banner gigante que mandei fazer para a banda também está pronto, devo ir pegá-lo na segunda-feira.
Por outro lado, preciso marcar um som urgente com o Aerosilva. Estou morto de saudade daquele roquenrou visceral-etílico.

3.10.02

Boa essa do companheiro Michel de Montaigne:

"Se o mal-estar precedesse a embriaguez, nós nos guardaríamos de beber em excesso. Mas o prazer, para enganar-nos, vai na frente e nos oculta seu séquito."

1.10.02

Better hide your heart, better hold on tight
Say your prayers, 'cause there's trouble tonight
When pride and love battle with desire
Better hide your heart, 'cause you're playing with fire


(Kiss, Hot in the shade, 1989)