30.4.02

Manuscrito encontrado no bolso de um poeta triste (im memoriam)

Ah, minhas amigas, trazei a padiola!
Estou em frangalhos nas trincheiras:
As aurículas receberam os morteiros,
os ventrículos, as baionetas,
e estrebucho ao aspirar o mortal gás da paixão!

Só vós podeis salvar-me, com carinho e sábios conselhos.
Não me julgueis leviano, antes apenas humano.
E humano com um coração cujas cavidades
São forradas de pétalas de veludo
E por cujos vasos circula o doido absinto
Dos que querem fazer os outros felizes!

Ah, amigas! Peco sempre por amar demais
e esqueço de pedir um bocadinho para mim;
sofro assim sozinho e sempre em dobro ;-(

Trazei, pois, o estojo de bandagens para a alma;
Levai-me ao hospital de vossos abraços generosos
E curai-me desta mania de me entregar.
Meu fardo

A noite cai
E com ela meu fardo incomensurável.
Coortes de olhares sitiam minhas baterias antiaéreas
E num som desconexo traduzo
As sete auras da loucura vã.
Minha poesia se transforma em dama da noite
E veste o véu da carne em chamas.

Eu nada sei, nada sinto, nada penso.

Afasto meus pêlos em desalinho da fronte que brilha
E deixo o sêmen escorrer pelo braço empenado de minha guitarra

Rusgas acentuam o descaso pelas sobras
A vida escorre junto com o tempo
De repente, o universo se desdobra
E eu tudo sei, tudo sinto, tudo engendro na manhã do meu desvario.
É uma linda ilusão.
Desperto para uma alvorada cinza.

Mas eu quero o crepúsculo
Eu desejo a luxúria do entardecer vermelho
E a languidez da noite aberta, retalhada.
A noite cai, mas não desabam mais minhas convicções incertas.
Elas apenas regeneram-se
Rebentam-se, explodem em cravos.

29.4.02

Estou repetindo este post aqui por ser uma boa notícia:
Agora, além de rabiscar umas crônicas para o site Falaê, do nobre Augusto Sales, acabo de estrear como colaborador do prestigiado emailperiódico SpamZine, para o qual fui gentilmente convidado pelo Alexandre Inagaki. Ele está reunindo os Minicontos do Desconforto, postados no Cadafalso II, na atual e nas próximas edições. Desnecessário dizer que estou superfeliz por fazer parte de ambos os times.
Então, quero aproveitar este post para agradecer de público e efusivamente ao Augusto, ao Inagaki e à Suzi Hong, que foi tão delicada ao me apresentar em seu editorial. Valeu, moçada! E contem comigo!

26.4.02

Diversão virtual para sádicos de plantão: pegar uma lente gigante e ficar do alto dos prédios explodindo a galera lá embaixo com a luz do sol concentrada... Está neste website.
E que tal conhecer uma empresa de webdesign cujo site é um divertidíssimo passeio em flash? Veja aqui. Depois me digam se gostaram. Eu ri muito com o subsolo de programadores anões chicoteados por um carrasco...

25.4.02

Tolo

Por que fui embora?
Ó escrúpulo dos tolos, vai para o inferno.
Era aquele o momento de ficar e dizer
"por favor, não pensa ou irás me repelir.
Ama apenas e dá-te este presente."
Mas não: deixei-te
e o Tempo escarneceu de mim
durante toda a viagem.
Capitulação

Refiro-me a você
Quando estremeço.
Usamos palavras ao invés de beijos
Mas ao menos o corpo nos traiu
Às três da manhã.
Eu estava cansado e você estendeu a rede negra
Sob meus olhos; as pupilas, por fim, dormiram
O sono das flores.
É bom desistir; é bom se alienar;
Por que lutar até o vazio?
Por que se importar?
Por quem prostrar-se numa cama de pregos cristalinos?

Depois do amor, não há nada a não ser o sono.
O amor suga a vida, o amor liquefaz nossas certezas
Esculpidas no ar.
Dormir é a verdadeira volúpia.

19.4.02

Burning up with fever
And you're the fever inside
I'm burning up with fever
It's something I can't hide

(Gene Simmons)

18.4.02

Como todos os coleguinhas jornalistas, estou lamentando o fim do site no., em que militavam grandes e valorosos amigos como o Leonardo Pimentel. Uma pena. Quem melhor sintetizou mais essa orfandade em nosso complicado mercado de trabalho foi a sempre imbatível Cora Rónai. Assino, carimbo, autentico, reconheço firma e o escambau embaixo do que ela escreveu sobre isso:

"Uma das notícias mais deprimentes dos últimos tempos -- que, vamos combinar, não andam sendo propriamente tempos de notícias exultantes -- foi a do fim do no., onde se fazia, além de jornalismo da melhor qualidade, um exercício contínuo de pensamento. Não há como não lamentar o desaparecimento de forma de vida tão inteligente num país que, a cada dia, se supera em baixarias, e em que os heróis da hora são os ninguéms expostos à curiosidade mórbida de um público que a televisão cultiva, cuidadosamente, para a mais completa e insensível imbecilidade.

Sim, eu sei que nós não temos a exclusividade universal da estupidez humana; na verdade, até importamos os piores modelos de fora. Mas em países que se pretendem civilizados há, pelo menos, um equilíbrio de forças, uma margem de escolha. Numa banca de jornais americana, a gente encontra o pior lixo produzido no planeta -- mas encontra também revistas como o New Yorker ou o Atlantic Monthly, escritas por, e para, animais racionais. A Inglaterra tem, sim, os piores jornais do mundo -- mas tem também uma revista como a The Economist, e um teatro que há mais de 500 anos exalta a palavra e a inteligência. Os franceses têm uma televisão ridícula e uma visão do mundo grotesca -- mas dão aos seus escritores o status de popstars. E por aí vai.

A vulgaridade, em alta geral, aparece mais e paga melhor em toda a parte, mas não há como negar que, nos EUA e na Europa, existe uma consciência social em ação que preserva o mínimo de cultura necessário à sobrevivência intelectual da espécie. Ainda há lugares em que, acreditem!, um bom cérebro é mais valorizado do que uma bela bunda; mas todos, infelizmente, ficam muito longe daqui."


Ave, Cora.

17.4.02

Requiescat

(Oscar Wilde)


Tread lightly, she is near
Under the snow,
Speak gently, she can hear
The daisies grow.

All her bright golden hair
Tarnished with rust,
She that was young and fair
Fallen to dust.

Lily-like, white as snow,
She hardly knew
She was a woman, so
Sweetly she grew.

Coffin-board, heavy stone,
Lie on her breast,
I vex my heart alone
She is at rest.

Peace, Peace, she cannot hear
Lyre or sonnet,
All my life's buried here,
Heap earth upon it.

16.4.02

Olhando a história das sombras do blog da Tia Cora, lembrei-me deste poema tristonho que escrevi há alguns milênios.

Minha sombra

Minha sombra é um fardo
infinito;
Longa noite sem sonhos,
tormenta nervosa e mesquinha.

Ela me segue pelas ruas e bares
e bebe comigo a neblina fria
de um ardor há muito esquecido.

Assim o poema se inscreve e se perde na eternidade:
a vida é feita de sombras
e de sombras os raios
de meus sóis mofados.

14.4.02

Tique-taque

Paro e reflito
Um instante, um segundo
Rodas-vivas turvam os desejos
De um novo desabrochar

São ciclos.

Esmurro, espalho minha respiração ofegante
Pelo céu esquisito e úmido
Pesado.
Sua imagem no espelho
Lembra-me um passado que não houve.
Que estranha angústia,
De pontos finais que se sucedem.

Tique-taque-tique-taque-tique-taque
Nossas jornadas reguladas
Irritam e enchem de ansiedade.
Pobre de mim,
Que desejo retirar vida das cinzas.

Das cinzas.
No fim da noite fará 90 anos que o Titanic afundou. Para lembrar a data, uma bobagem: A Vingança do Titanic, aqui.
Chego para tocar no sábado e o Hélcio, meu parceiro tecladista, olha para minha cara assustado:

-- O que é que houve?

-- Como assim, o que é que houve?

-- O Marcos [batera] está de mau humor e você chega com essa cara de desânimo... A noite hoje vai ser braba -- responde ele, com um sorriso amarelo.

Às vezes é duro você ter amigos que conhece há quase trinta anos. Não importa quanto tempo fique longe deles, sempre acertam o que se passa na sua cabeça, por mais que se tente disfarçar (e eu nunca fui bom nisso).

-- Ah, cara... -- retruquei, plugando a guitarra. -- Vamos tocar, que é melhor.

Meus companheiros de banda foram gentis comigo. Concederam-me um bom momento de rock and roll, em que soltei todos os demônios com "Johnny B. Goode", e depois uma alma solidária da platéia pediu um blues. Foi atendida com gosto. Naquele dia eu estava totalmente blue, mesmo. ;-)

Nada como uma dose de rock para a gente acreditar que terá outra chance.

10.4.02

Recomendo a leitura do artigo desta semana do Ivson Alves sobre um editorial com cheirinho pró-tirania. Está no Comunique-se (a inscrição é gratuita), na seção Jornal da Imprensa/Coleguinhas.

9.4.02

Sem Jon Lord, o Deep Purple não é Deep Purple. A saída do bigodudo (hoje barbudo) tecladista de uma de minhas bandas favoritas me dá um nó no coração. Mesmo sendo guitarrista e adorando o Ritchie Blackmore de 71 a 75, sou louco pelo som do Hammond de Lord, que sempre foi a marca registrada do grupo para mim. E ele, que tem um jeito bem mais afável que Blackmore, era meu integrante predileto. Ave, Lord.

Eis uma mensagem do baixista Roger Glover sobre o tema, enviada a um site de fãs russos do DP: "I should inform you that Jon has told us he plans to retire from active participation in Deep Purple. We wish him the best. The moment cannot pass without a personal comment. It is sad that Jon has come to this difficult decision but every one of us respects his right to determine his own life. I have learned so much from him that I could not possibly do him justice by attempting to quantify it. Don Airey will be our keyboard player from now on and we welcome him to the band. -- Roger Glover".

8.4.02

Boa dica para os alcoólatras de plantão. Deu na Info Online, aqui:

"Copo inteligente 'encomenda' novo drinque

SÃO PAULO - Imagine um copo que já manda para a cozinha do bar ou do restaurante, sem que o cliente abra a boca, o aviso de que a bebida nele contida está no fim e que é hora de uma outra dose. É isso que promete o iGlassware, criado pela divisão de pesquisas da japonesa Mitsubishi.

De acordo com a revista 'NewScientist', o sistema é baseado em um chip conectado a um sistema com freqüência semelhante aos dos celulares. O revestimento de material condutor faz com que o copo se comporte como um capacitador, onde a bebida funciona como isolante e, o vidro, como placas condutoras. Este sistema consegue "medir" o quanto foi consumido do drinque. A mudança na capacidade de armazenamento do copo é lida pelo microchip, que manda a mensagem para o bar de que aquele copo está se esvaziando. Cada copo possui um código de barras para identificação."

Rapaz, com essa tecnologia eu teria de tomar glicose na veia todo dia ;-)))
Não ligo para futebol, nem gosto do Romário. Mas é muito engraçado fazerem um site com um abaixo-assinado pedindo para o Baixinho ir à Copa. O endereço é http://www.romarionaselecao.com.br.
(Atenção: para fechar o janelão que se abre, é só dar Alt + F4.)

Eu sempre quis saber se o nome da cesariana vinha mesmo de Júlio César, bem como o da Caesar's Salad. O grande Veríssimo tirou todas as minhas dúvidas no domingo:

"Julio Cesar fez o bastante para que seu nome virasse epônimo. Kaiser e tzar, entre outras denominações de “imperador” ou simplesmente de líder, vêm de Cesar. O nome de Cesar, escreveu alguém, invadiu mais culturas diferentes do que os seus exércitos. Mas duas coisas atribuídas a Julio Cesar não têm nada a ver com ele: a cesariana e a salada Cesar. O parto com cesariana não tem esse nome porque foi assim que Cesar nasceu, Cesar é que se chama assim porque nasceu, como o presumível antepassado seu que deu o nome à família, a caeso matris utere, do ventre cortado da mãe. Caeso, de caesus, particípio passado de caedere, cortar. A cesariana já existia com esse nome antes de Julio Cesar. E Cesar só pode ser creditado com uma participação indireta na existência da salada Cesar, porque Caeser Gardini, dono do restaurante Caeser’s Palace em Tijuana, México, e que inventou a combinação de alface, pedaços de pão torrado fritos com alho, óleo de oliva, ovo e queijo parmesão ralado, se chama assim por sua causa — ou talvez porque nasceu de cesariana."
Curiosidades extraídas do site da Associação dos Direitos dos Tabagistas:

"Carmen, a célebre cigana personagem de Prosper Merimée, foi a primeira mulher a aparecer na literatura fumando cigarros. Ela inspirou o francês Giot a desenhar, em 1927, a mulher insinuante da embalagem dos cigarros Gitanes."

"Entre os portugueses, um dos responsáveis pela difusão do fumo foi o descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral. As tribos que ele contatou ao chegar ao Brasil, em 1500, não só fumavam como consideravam a fumaça produzida pela queima das folhas como o hálito dos pajés milagrosamente materializado. As caravelas portuguesas saíram do Brasil levando o hábito de desfiar fumo de corda e envolvê-lo em palha para confeccionar cigarros toscos."
Para fora

A hora do adeus veio de repente
e eu pus tua música favorita no deque
Até o cabeçote urrar e morrer.

Não me disseste nada, apenas silenciaste
deixando-me sozinho no penhasco ventoso
onde meus órgãos carpiam nosso amor defunto
-- quisera que ouvisses seus gritos.

É estranho que eu ainda viva hoje,
tão estranhamente deformado por dentro.
Talvez a fumaça do cigarro semelhe
Aquele tolo fiapo de esperança
que me me fez dar o primeiro passo
para fora de mim.

Só assim te esqueci
e deixei aquela carcaça apaixonada
congelar, ensurdecida pelos próprios lamentos.

Assim dei adeus também a mim
E desapareci em meio ao formigueiro gigante dos sem-alma.
No oeste

Por vezes
A luz desprende-se de nossos sentidos
E um universo sem arte desaba pela medula.

O poema desmaterializa-se -- e aí?
Apelar pra quê?
Resta tão pouco nesta jornada insegura, ah!
Posso ver você entre a névoa
-- Não que queira me lembrar --
Você é muitas numa só
E eu sou apenas um, perdido entre os mundos
no oeste do cérebro.

5.4.02

De Júlio Ribeiro, em "A Carne":

"Descrente de mulheres, divorciado da sua, gasto, misantropo, ele abandonara o mundo, retirara-se seus livros, com seus instrumentos científicos, para um recanto selvagem, para uma fazenda do sertão. Abandonara a sociedade, mudara de hábitos, só conservara, como relíquias do passado, o asseio, o culto do corpo, o apuro despretensioso do vestir. Levava a vida a estudar, a meditar; ia chegando ao quietismo, à paz de espírito de que fala Plauto, e que só se encontra no convívio sincero, sempre o mesmo, dos livros, no convívio dos ausentes e dos mortos. E eis que a fatalidade das coisas lhe atira no meio do caminho uma mulher virgem, moça, bela, inteligente, ilustrada, nobre, rica. E essa mulher apaixona-se por ele, força-o também a amá-la, cativa-o, aniquila-o. Faz mais: contra a expectativa, tomando realidade o improvável, o absurdo, vem ao seu quarto, interrompe-lhe o sono, entrega-se-lhe... Ele a tem entre os seus braços, lânguida, mole, roída de desejos; aperta-a, beija-a...

E... nada mais pode fazer!

(...) Deu-se uma inversão de papéis: em vista dessa frieza súbita, desse esmorecimento de carícias, cuja causa não podia compreender, nem sequer suspeitar; no furor do erotismo que a desnaturava, que a convertia em bacante impudica, em fêmea corrida, Lenita agarrou-se a Barbosa, cingiu-o, enlaçou-o com os braços, com as pemas, como um polvo que aferra a preia; com a boca aberta, arquejante, úmida, procurou-lhe a boca; refinada instintivamente em sensualidade, mordeu-lhe os lábios, beijou-lhe a superfície polida dos dentes, sugou-lhe a língua...

(...) Pouco a pouco operou-se uma reação.

Sentiu Barbosa que menos agitado lhe circulava o sangue, que um calor doce se lhe expandia pelos membros, que o desejo físico se despertava, dominante, imperativo.

(...) Com o ímpeto irresistível do macho em cio, mais ainda, do homem que se quer desforrar de uma debilidade humilhosa, retomou o papel de atacante, estreitou a moça nos braços, afundou a cabeça na onda sedosa e perfumada de seus cabelos que se tinham soltado...

(...) E um beijo vitorioso recalcou para a garganta o grito dorido da virgem que deixara de o ser...

Depois foi um tempestuar infrene, temulento, de carícias ferozes, em que os corpos se conchegavam, se fundiam, se unificavam; em que a carne entrava pela carne; em que frêmito respondia a frêmito, beijo a beijo, dentada a dentada.

Desse marulhar orgânico escapavam-se pequenos gritos sufocados, ganidos de gozo, por entre os estos curtos das respirações cansadas, ofegantes.

Depois um longo suspiro seguido de um longo silêncio.

Depois a renovação, a recrudescência da luta, ardente, fogosa, bestial, insaciável.

Pela frincha da janela esboçou-se um rastilho de luz tênue.

Era o dia que vinha chegando."




4.4.02

Preguiça

Eu só escrevo
Quando tenho preguiça de tudo
E quando o vazio da casa
Penetra em mim.
Solto a massa cinzenta
Em baforadas regulares
Gás carbônico enlatado
Uso o papel
Na esperança de liberar alguma coisa
Além da tinta da caneta esferográfica
E depois do ato consumado
Vem a (in)consciência
De que continuo ingênuo
E deslumbrado
Diante das coisas.

2.4.02

Quase pronto para Siddharta

Beije-me só mais uma vez
e olhe-me da janela enquanto me afasto, querida.
O abismo me espera;
estou enamorado da Morte
e ela me prometeu para hoje o infarto salvador.

Perdoe-me por deixar este mundo
Mas é que tenho hoje certeza
do extravio precoce de minha alma.
Alguns diriam que estou pronto para Siddartha
dado que não tenho mais desejos.

Mas é mentira: eu desejo a Morte
tanto quanto a desejei outrora
na tarde ardente sob o mangueiral.

Quando ela me tomar como consorte
(temporário, é claro)
Então estarei nu de desejos
e finalmente livre da tempestade elétrica
em meu combalido cérebro.
Madrugando-me

Cá estou eu
A envenenar-me de novo
Deixe tudo explodir
Todos precisamos derreter de vez em quando
Existe algo melhor
Que a sensação de transcendência
Quando se percorre
A geografia em convulsão?