28.6.04

Bonito fim de semana: sol, céu azul e temperatura amena.

E eu de cama, com febre, calafrios e que tais. Depois que melhorei um pouco, domingo, fiquei jogando "Scotland Yard" com Jessica (foi engraçado) e lendo revistas em quadrinhos. Pelo menos a cabeça deu uma desconectada.

23.6.04

Vou sentir falta do Brizola. O velho Briza era o homem certo na hora certa em 1982 para o Rio fazer frente aos militares. Foi minha primeira chance de votar; eu tinha 19 anos. O Rio de então era outro, mais alegre, mais boêmio, eu estava na Escola de Comunicação da UFRJ, a célebre Eco, e vivia intensamente essa boemia.

Na época, alguns colegas da faculdade ostentavam a estrelinha do PT, mas o candidato do partido, Lysâneas Maciel, não tinha nenhum carisma. Além do mais, pelo menos no ambiente da Eco, os petistas eram mais radicais (radicalismo é algo que detesto até hoje), e eu desconfiava. (Apesar disso votei no Lula em todas as eleições para presidente. E adiantou? Hoje temos este governo aí, com esta política (?) econômica que se diz "ortodoxa", mas que prefiro chamar de "tortodoxa".) Quem ia votar no Brizola se mostrava mais discreto. Fiquei com o caudilho, então.

Fui até a um comício dele, na Cinelândia, que reuniu um mar de gente. Anos mais tarde, parei para ouvi-lo dar entrevista em frente ao prédio da Manchete, na rua do Russell, onde eu trabalhava.

Não concordo muito com essa tese de que o Rio começou a degringolar com o governo dele; creio que o chaguismo, nos anos 70, já deixara o estado bem caidinho.

Vai com Deus, Briza. E vê se o Padre Eterno monta uma Cadeia Celestial da Legalidade pra não deixar nenhum espertalhão subir. ;-)

18.6.04

De volta de Sampa, onde fui cobrir um interessante concurso de software. Dei sorte, o tempo estava ameno e o frio não atrapalhou. Num intervalo, disputei uma corrida virtual num game center com os competidores. Até ganhei uma bateria de Indy 500, logo eu, que não dirijo por opção. Foi engraçado.

À noite, a festa de premiação teve show de uma sensacional banda retrô chamada Quasímodo.

10.6.04

Ray Charles, aquele abraço.
Embora os amantes da música sofram, eu sei que você vai para o céu, onde poderá ajudar São Pedro na triagem do Portão cantando "Hit the road, Jack" para todos os espertinhos que acharem que podem curtir o paraíso, e mandando-os ter com o demo. Oh yeah.

E bote todos os santos para dançar:

Hey mama, don't you treat me wrong
Come and love your daddy all night long
All right, hey, hey, all right now

See the girl with the diamond ring
She knows how to shake that thing
All right, hey, hey, Mmm, all right now

Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh

Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good right now
Make me feel so good, make me feel so good

Mmm, see the girl with the red dress on
She can do the dog all night long
All right, hmm what'd I say, tell me what'd I say

Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say right now
Tell me what'd I say, tell me what'd I say

Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ahhh, Ohh, Ohh
It's all right, It's all right right now
Baby, it's all right, Baby, it's all right right now
Baby, it's all right, Oh yeah!

Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, baby shake that thing right now
Baby shake that thing, well I feel all right

6.6.04

De Paul Auster, ontem, no "Prosa e Verso":

Sinto-me um outsider, como todos os artistas. É isso que significa ser artista — escritor, pintor ou cineasta: você está do lado de dentro, é parte do todo, mas também está o tempo todo dando um passo atrás para observar tudo à distância, sem participar tão completamente como as outras pessoas o fazem. É a bênção e a maldição de ser um artista. Você se sente exilado, excluído da realidade à sua volta. Mas sem a distância, você não poderia escrever sobre isso.

Esta é uma excelente descrição de como me sinto ao escrever um miniconto ou um poema. E é um tipo de solidão terrível, que ninguém, nem a pessoa que vive com você há décadas, apaga.

Quando sai um poema, um conto, uma parte da angústia se recolhe temporariamente; mas quando o tempo se fecha na alma e sobra apenas a angústia de fitar uma parede, é o inferno.

4.6.04

O artista britânico David Hockney diz que, na era digital, já não se pode mais acreditar na informação de uma fotografia. Fico imaginando o que diria o filósofo Walter Benjamin (1892-1940) se estivesse escrevendo hoje seu magnífico estudo "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica". Nele, ele analisava as relações entre fotografia e pintura -- enquanto esta última era uma coisa única, a aura da fotografia se perdia na objetividade das milhares de cópias possíveis. Mas, hoje, aparentemente, qualquer foto é tão editável quanto uma tela em branco, por qualquer um. As fronteiras não mais existem; então, em quem confiar? Que realidade escolher?

1.6.04

O, she doth teach the torches to burn bright!
It seems she hangs upon the cheek of night
Like a rich jewel in an Ethiope's ear;
Beauty too rich for use, for earth too dear!
So shows a snowy dove trooping with crows,
As yonder lady o'er her fellows shows.
The measure done, I'll watch her place of stand,
And, touching hers, make blessed my rude hand.
Did my heart love till now? forswear it, sight!
For I ne'er saw true beauty till this night.



(em tradução livre...)

Oh, ela ensina a tocha a brilhar!
Parece pender das faces da noite
Como pedra preciosa no lóbulo de um etíope;
É uma beleza por demais rica para o uso,
demasiadamente doce para a vida terrena.
Semelha alva pomba em meio a gralhas
quando passa em meio às companheiras.
Finda a dança, a contemplarei em seu lugar
e, tocando as suas, abençoarei minhas rudes mãos.
Terá meu coração amado até hoje? Ah, tal visão o nega!
Pois eu jamais vi beleza genuíona antes desta noite.

(Extraído de "Romeu e Julieta", de Shakespeare)