26.12.03

Como trabalhei na semana do Natal, vou parar uns dias para curtir o resquício de ano. Deixo para vocês um poema novinho, saido quentinho da forja.
E desejo a todos um 2004 em que a gente não seja tão refém das expectativas e possa viver mais feliz, um dia por vez.
Uma coisa é certa: eu estarei aqui, como sempre.

Abraços e saúde!


Animalesque

Deitou entre seus seios de neve
e escutou a carne bombeando dentro;
aproximou mais a orelha em chamas.

E por um instante sentiu
a delícia de ser completamente animal
todo instinto
todo tato e cheiros
todo corpo e sangue da Natureza.

Ela disse depois
que em seu sono ele rira

e ele lembrou-se por quê
mas não respondeu.

Guardou para si
a imagem onírica
do sexo perfeito:
dois corpos famintos em transe
e duas almas diáfanas
atiradas sobre os criados-mudos
sabendo a conhecimento e mofo.

23.12.03

Moçada, um feliz Natal a todos, com um fraterno abraço deste Guardião.

Descoberta

E de repente enxergo através de ti
E te descubro a mais paradoxal das damas
Imaginava-a forte, devastadora, impiedosa
E no entanto és tão frágil quanto eu
Folha de outono, que pode cair e renascer
Carregar e recarregar o ciclo
Fiquemos assim, unidos silentes
O mundo gira, passa
E nos vira de cabeça para baixo
Mas estamos ali.

19.12.03

Como Bob Dylan, só posso cantar: "For the times, they are a-changin'..."

17.12.03

Chope, parte 2: ontem a boa mesa no Manuel e Joaquim da Lapa contou com minha querida Glorinha Dettmar, Ariadne, Mônica Arantes, Marcinha Miranda, Felipe Dias, Cristina Azevedo, o veterano Orlando Abrunhosa, Alexandre Mandarino e Leonardo Pimentel.

E hoje tem a festa do Info etc. Acho que vou ficar na água mineral ;-)

16.12.03

Aliás, foi ótimo rever o Gus depois da longa convalescença. Ele está com uma cara ótima e feliz de voltar ao JB. Dá-lhe, guitarman.
Chope animado ontem no Lamas com o Gustones, a Marcele, Maloca, Claudinha, Feroli, Júlio Preuss e Abel Alves. Hoje tem mais. Nada como rever a turma na volta ao trabalho.

15.12.03

Moçada, estou de volta. Descansei para valer, desta vez, e me desliguei do real (mesmo lendo os jornais diariamente). Estava com saudade daqui.

Logo haverá poemas novos na área. Enquanto isso, mais um da arca:

Reencontro

Vinte anos entre nós
E você ainda me faz estremecer
Minha aura, se é que ela existe,
torna-se palpável à minha volta
e acaricia seus cabelos, enternecida,
enquanto seus dedos perfeitos
emolduram, distraídos, a xícara.
Entre a fumaça preguiçosa do café
Seu sorriso de menina espreita
e eu tenho vontade de chorar
pelo nosso amor perdido
que jamais aconteceu.

Se o tempo nos pregou peças? Certamente,
Mas os cacos de sua vida
estão maravilhosamente alinhados e refeitos
Enquanto os meus espetam
como minha barba por fazer, minhas paixões por aparar
e minhas unhas (garras?) que corto antes
que as enterre nos próprios olhos, nas manhãs
em que a realidade teima por lançar
seus raios-tratores sobre meu catre.

Felizmente, você expulsa minha névoa mental
com seu riso inquebrantável
e, olhos para o céu, ergo minha xícara
e me pergunto,
intrigado e acompanhando sua alegria,
quando é que minha alma vai aprender
que não é pecado estar feliz.

Perdoe, assim, meu amor insistente:
ele não pode morrer
enquanto estiver a tomar café
com a Vida e o Sonho combinados
naquela manhã de retorno perene.

28.11.03

Férias!



Moçada, vou descansar um pouquinho da correria. Volto dia 15/12.

Fiquem bem.

(A foto é do Freefoto.com).

27.11.03

Este também é d'antanho, mas até que combina com os temporais dos últimos dias no Rio ;-)

A tempestade

As palavras e as poesias vêm e vão
Como teu olhar perdido em meio à turba selvagem
Eu as guardo e cuspo sem o saber
Nas cordas de minha guitarra ensangüentada.

Se desistires do vento,
Não me terás também -- eu sou a Tempestade
E meus cabelos engolem teu amor em vagas
Arrastando-te para a loucura
Em teias de lábios rubros,
Em febres de noites sem luz.

26.11.03

Algumas falas imperdíveis no filme "The Hours", de Virginia Woolf (Nicole Kidman).

If I were thinking clearly, Leonard, I would tell you that I wrestle alone in the dark, in the deep dark, and that only I can know. Only I can understand my condition. You live with the threat, you tell me you live with the threat of my extinction. Leonard, I live with it too.

This is my right; it is the right of every human being. I choose not the suffocating anesthetic of the suburbs, but the violent jolt of the Capital, that is my choice. The meanest patient, yes, even the very lowest is allowed some say in the matter of her own prescription. Thereby she defines her humanity. I wish, for your sake, Leonard, I could be happy in this quietness. But if it is a choice between Richmond and death, I choose death.

Leonard, you cannot find peace by avoiding life.

25.11.03

Este é bem das antigas, escrito no começo da década de 80 num dia cinza perto de Itaipu, num lugar acolhedor, mas onde faltava uma pessoa essencial.

Bordado

E tudo fica imperceptivelmente quieto
E eu fico só
Bordando uma poesia quieta.
Não percebo quando chegas
Mas sei que não pretendes falar-me
Bem sei que não pretendes falar-me
E assim prossigo no vaivém da agulha.
Então, quando a cera da última vela se derrete,
E, missão cumprida, faço que vou me levantar,
Deténs-me e beijas-me as pálpebras pesadas
E, antes que eu possa retribuir,
Voltas a ser apenas chuva.
O que me resta então
Senão voltar a bordar poesias?

21.11.03

Outra da arca:

Sóis derramados

Tu te enganaste.
O que derramo pelas faces enegrecidas
Não são lágrimas
Mas reflexos do sol nascente

Tu não o sabes
Mas a marca de um destes brilhantes
Faz rebentar a taquicardia da espera
Pelo abraço do todo

Derramas sóis também?
Então vem e abraça-me
Se o universo não nos envolve, taciturno,
Talvez possamos criar um outro
No contratempo das batidas em nossos peitos.

18.11.03

Um da arca, de que gosto:

Janeiro, 1

Dançar a noite inteira
E fazer amor com o dia amanhecendo, preguiçoso,
Empurrando sua milícia de nuvens douradas para o subúrbio...
Que melhor augúrio para a nova jornada
Do que teus beijos tépidos em minha boca e em meu peito
E tuas mãos explorando indóceis a selva de meus pêlos
enquanto o tecido branco desfalece por teus ombros abaixo,
gentilmente empurrado por meus dedos,
revelando uma alvorada desconhecida de Zaratustra
e muito mais bela do que a manhã
que nos deixam ver nossos postigos?

Teus olhos pequeninos e negros, tua face angulosa
Perdida em meio à eterna revolução de tuas melenas
Tudo em ti sorri enquanto o vagaroso expresso do prazer
Movimenta suas engrenagens, delicada e depois firmemente,
seguindo em direção às rubras pradarias do interior.
Quando, passado o momento supremo da Carne,
É alcançada a subestação do Espírito,
Derramas lágrimas de mel
e derretes por fim meu último gelo,
envolvendo-me em teus braços lisos e frementes.

Beijas-me então com o afinco que sempre te envolve após o amor
E bebes, vibrante, toda a minha alma
virando-a de uma vez só, como um uísque "cowboy".

Mais tarde, quando a observo dormitar
enquanto fumo um cigarro torto antes de me recolher,
Enterneço-me de repente e me pergunto
como pude, em outro tempo,
existir e caminhar sobre a terra sem ti.

13.11.03

Rebeca entrou na sala:
-- Mãe, cadê o DVD?
Jessica respondeu, já imaginando o que ela queria dizer:
-- Não é DVD que fala, menina, é controle remoto.
Rebeca continuou:
-- Não é isso. Cadê o DVD?
-- Menina, fica lá no quarto do seu pai, você não sabe?
-- Mas não está lá.
Jessica foi ao quarto e voltou.
-- Não está lá mesmo, mãe.
Wal foi verificar.
Tinham furtado o aparelho de DVD do meu quarto, que fica perto da janela (que dá para um corredor interno que leva a uma pequena vila). O aparelho estava lá uma hora antes.
Polvorosa.
Wal desceu até nossa vizinha, que mora atrás de nossa casa. Desconfiou do pessoal de uma obra que estava sendo feita ao lado. Logo viu uma escada no muro que dá para o pátio posterior de casa, para os aposentos de minha sogra. Comentou com a vizinha que ia chamar a polícia. Nossa vizinha, que não prima pela discrição, espalhou a notícia aos quatro ventos.
Pouco depois, Wal subiu ao pátio posterior e encontrou o aparelho de DVD dentro de uma bolsa molhada (estava chovendo) no quarto de minha sogra.
É ou não é um ladrão de cibergalinhas este mané?

10.11.03

Este Cadafalso fez dois anos de vida no último dia 6 de novembro. Não pude assinalar a passagem no dia em questão por estar mergulhado no trabalho no Paraná. Mas agora vamos nessa!!!!! Yesss!!!!



Ao longo deste mês festivo estarei postando alguns poemas que marcaram os 730 dias de posts.
E vamos começar com o "Poema do Cadafalso", que deu origem ao nome do blog:

Poema do cadafalso

O que restou da última gota de desespero
Secou.
Deveríamos talvez esperar as rosas
Mas por que não semeá-las no vento?
Encontro-me em seu vácuo
Ejaculo minha autopiedade
Choro, emudeço, porcelana derretendo...
Olhos-espadas singrando mares violentos
Ecoando amores sem resposta
Angústias da tempestade rósea do cadafalso.

Meus icebergs são feitos de algodão
Quem bate neles não se arrebenta, é tragado
E serve de ídolo aos pagãos de meu corpo em agonia...
Liberdade, liberdade
Nas garrafas de vinho desgraçadas da noite!
Vem, vício macilento, enterra-me o ser,
Mata esse ardor da pele viva,
Destrói tudo!

Quando passar a tormenta,
Vou me encarcerar uma vez mais
Até vislumbrar, na podridão das paredes úmidas,
Um novo devir
Chave dos sentidos em ebulição,
Beijo louco do desejo no desejo
Brilhante gota do primeiro desespero.

7.11.03

De volta de Curitiba, onde fui cobrir um evento de software livre. Volto com muitas histórias interessantes, que sairão em breve. À noite, após entrevistas e palestras o dia todo, retornei ao Bar do Alemão, deliciosa instituição boêmia fincada no histórico Largo da Ordem, onde saboreei um chope batizado de Schwarzwald, que vinha com uma canequinha de aguardente alemã mergulhada nele. Excelente para rebater o frio de nove graus que fazia na capital paranaense.
A canequinha ficava de brinde para o conviva depois que o chope terminava. É claro que cheguei em casa com várias delas, cada uma com uma bandeirinha representando uma cidade da Alemanha.
Por falar nisso, a volta pareceu o filme "No limite da realidade": aterrissamos no Santos Dumont com chuva, raios e relâmpagos, depois de um vôo bem sacudido por turbulências entre SP e Rio. Quando desci do avião, bem que precisava de mais um Schwarzwald...

3.11.03

Um chope. O sol. A brisa. E a gente dentro d'água, filosofando sobre tudo e nada. Assim foi meu sábado, na casa de uma prima. Um churrasquinho para rebater. E, de resto, ficar olhando o azul e perceber a luz se despedindo bem lentamente.
Pena que no fim do dia vieram raios, relâmpagos e trovões, anunciando a chuvarada que se estendeu até hoje. São Pedro tem um senso de humor esquisito mesmo.

30.10.03

O velho e bom Aristóteles:

"Espírito é insolência educada."

"Somos aquilo que fazemos repetidamente."

29.10.03

Perdoem o silêncio dos últimos dias. É que ando cheio de trabalho na redação e correndo atrás.

25.10.03

Visitas perfeitas
(um poema especialmente dedicado a Angel)

É nas histórias de suas páginas
que muita vez meu humor sai ao sol
e, curioso, abandona a bruma
que por vezes se entretece sobre as córneas
nas caminhadas solitárias na rede.

Ali, entre alfarrábios gozosos,
passo horas refletindo sobre vidas;
a vontade de poetar se encorpa
e meus lábios ciciam felizes.

Ó doce pintora de estados da mente:
como sabem a jardins suas letras elegantes!
Um brinde de absinto a elas
e uma vênia graciosa a sua lapidadora.

24.10.03

Peço licença para republicar um poema aqui. É sobre como a gente se sente ao perder um amigo, especialmente quando a culpa é nossa.

Perder amigos

Perder amigos
É como perder um documento de identidade
Do qual não existe segunda via;
É a nossa foto que está ali,
Sulcada com microinstantes de prazer e dor
-- E ninguém sabe onde está o negativo ou como revelá-lo.
Em nossa assinatura se escondem gotículas de sangue e paixão,
E na filiação está escrito Esperança e Lealdade em ouro
Ou talvez ouro de tolo.
Perder amigos é perder uma fatia de alma esburacada
Pelos dias que roem nossas convicções.
Dize-me quantos amigos perdeste
E eu te direi o quanto envelheceste.

21.10.03




É com muito orgulho que vou contar isto a vocês: este guardião do Cadafalso foi o segundo lugar no concurso de narrativas curtas Haroldo Maranhão, organizado pela Meg. E isto entre mais de 300 inscritos. Não podia desejar maior honra e estou muito feliz e agradecido. O texto agraciado foi o Miniconto do desconforto número 5, que rebatizei de "A decisão" para a competição. Eis o texto:


"A nevasca seguia virulenta lá fora; dentro, o troar dos aplausos era inesgotável, irreprimível. Chamado ao palco, os gritos de "O autor! O autor!" transformando-o num títere gigante, postou-se no proscênio, como fizera nos últimos anos, impecavelmente elegante na capa Inverness e tirando da cigarreira dourada um dos incontáveis cigarros que o acompanhavam após os jantares no Savoy.

Ao dar a primeira tragada, viu na quarta fileira a Desgraça aplaudindo de pé, num longo vestido negro adornado por um único rubi cor de sangue. Naquela noite, decidiu: deixaria a vida de dissipação e recolher-se-ia num mosteiro, onde escreveria suas melhores obras, frutos da reflexão de que tanto precisava.

Mas a manhã surgiu magnífica, sem uma nuvem no céu, e lhe trouxe agradável companhia. Sentia-se novo, e saiu para passear em seu cabriolé de plantão. Anos depois, na prisão, falido, recordaria: fora a Beleza que o lançara ao abismo."

17.10.03

Lembrete: amanhã no Armazém do Rio, no Cais do Porto, o lançamento do site/revista Paralelos, projeto nota mil do querido Augusto Sales. A partir das 17 horas. Todos lá!
A prece pagã de Robert Wilde

A vida é avara para um coração
de código-fonte aberto.
O fantasma de Scrooge
é o único que aparece
para os objetos da paixão desenfreada
e lhes dá conselhos vis
de separação
de cartas-punhais
de poupança resplendente
em vez de entrega.

Eis-me sozinho, ó Afrodite:
para que me seduzes das alturas
se no fim sou sempre cuspido
como um caroço amargo?


Estive neste pedacinho de éden, onde funciona um pólo de tecnologia no estado do Rio. Fica aqui.
Serviu para me fazer voltar a cantar, mentalmente: "a vida é bela/só nos resta viver".

14.10.03

Eleanor of Aquitaine: What would you have me do? Give out? Give up? Give in?
Henry II, King of England: Give me a little peace.
Eleanor of Aquitaine: A little? Why so modest? How about eternal peace? Now there's a thought.

(Katharine Hepburn e Peter O'Toole, como Eleonora de Aquitânia e seu marido Henrique II da Inglaterra, em "O leão no inverno")

Often, on returning home from one of those mysterious and prolonged absences that gave rise to such strange conjecture among those who were his friends, or thought that they were so, he himself would creep upstairs to the locked room, open the door with the key that never left him now, and stand, with a mirror, in front of the portrait that Basil Hallward had painted of him, looking now at the evil and aging face on the canvas, and now at the fair young face that laughed back at him from the polished glass.

Oscar Wilde, "The picture of Dorian Gray"

13.10.03

Èstou tão triste hoje que não consigo nem mesmo escrever um poema.

9.10.03

Às vezes uma viagem de trabalho pode ser um oportuno distanciamento dos problemas cotidianos. Em especial se você pode chegar na noite anterior à missão propriamente dita e descansar um pouco num hotel. A gente fica um pouco com a gente mesmo e experimenta a essência dos dois lados da solidão: aquele em que, digamos, se saboreia sozinho um jantar, parando para filosofar em silêncio entre uma garfada e outra, ou para explorar os arredores desconhecidos num passeio sem destino. E aquele em que sentamos na cama, controle remoto na mão, e nos damos conta de como, no fundo, os quartos de hotel são todos iguais; de como a televisão pode ser aquele abismo amorfo que nos olha de volta; de como fazem falta as trapalhadas de sua família na periferia daquele filme denso a que você quer assistir apenas para entrar em contato com suas emoções perdidas no tempo.
Então, liga-se para casa, meio que tentando esconder a própria aflição, e ouve-se do outro lado da linha a voz da filha entre risadas e traquinagens -- o som da despreocupação absoluta. E pronto, estamos salvos.

7.10.03

Dias 16, 17, 18 e 19 de outubro vai rolar no Armazém do Rio o evento "Primavera dos Livros", com palestras, rodas de leitura, shows e estandes de várias editores. Quem curte literatura deve ficar ligado. No dia 18, sábado, às 19h, pretendo dar um pulo até lá para prestigiar minhas queridas Alessandra Archer e Crib Tanaka, que estarão lendo alguns trechos de seus escritos. E de repente vou ler algumas coisas minhas também ;-). Mestre Augusto Sales, o homem do Falaê!, também estará no programa, falando sobre e-zines e blogs, no mesmo dia, às 17h30. Ele está montando a revista/site "Paralelos", que vai reunir alguns dos antigos colaboradores do Falaê!.

3.10.03



Eu com Tia Cora, que prestigiou os coleguinhas no Prêmio Imprensa Embratel. A festa foi muito divertida.

Foto by Nokia 7650 da Miss Monteiro.

2.10.03

Quero dançar com você a noite toda, de preferência com o Gustavo restabelecido e cuidando das carrapetas com aquele repertório de guitarras divinas; quero olhar nos seus olhos, pousar sua mão em meu peito e esquecer todas as obrigações, as rotinas estereotipadas e a vida à la Pasteur que nos foi dado viver. Não quero lhe dizer uma palavra além destas linhas, apenas beijar seu pescoço e seus ombros em transe e descansar em seu regaço no fim da longa noite de lua nova.
Reconheça, pelo menos esta noite, que nossas almas foram prometidas no Gênesis. E entregue-se ao júbilo.

30.9.03

Eras a imagem do abandono
no palco vazio de histerias.
Ali tua vida floresceu, ejaculou
-- e depois desmaterializou-se.
Mas tua casca não se libertou
das festas, das orgias
do vinho em chafarizes
rubros e dourados
e ela ficou ali, divagando,
até o rsvp para o outro lado.

29.9.03

No debate sobre o uso ou não do Exército para combater o crime nas ruas do Rio, os que são contra imaginam os militares como um "último recurso". Sinceramente, já passou da hora do último recurso. Além do mais, quando é que a gente vai reconhecer que está vivendo uma forma de guerra? Pois se a população anda amedrontada... Meus pais chegaram ao extremo de não sair mais à noite para nada. E olha que moram em Niterói, onde a violência ainda não atingiu o patamar do Rio.
É preciso dar uma resposta rápida à audácia do crime organizado. E acho que o Exército tem um papel aí, sim. Aliás, por falar nisso, acho um absurdo o sucateamento a que as Forças Armadas vêm sendo submetidas desde o governo anterior.
Ontem, depois do plantão, fiquei esperando um tempo a chuva passar no estacionamento do trabalho, olhando as casas, os prédios e o silêncio só cortado pela água impiedosa. A tristeza também foi me encharcando aos poucos.

Deu vontade de estar com uma guitarra na mão, para tocar um blues.

26.9.03

A palestra de ontem no Rio Design Barra correu bem. Fiz uma introdução ao tema do software livre, explicando seus conceitos e sua história, e em seguida Marcos Tadeu, ajudado pelo analista de sistemas Bruno Collovini, explorou a parte mais técnica do sistema GNU-Linux. A platéia respondeu, fazendo todo tipo de pergunta, algumas bastante específicas. O debate foi muito interessante, porque a velha questão Windows versus Linux foi abordada por espectadores usuários de um e de outro, que intercambiaram argumentos diversos para cada lado. Encerramos com um sorteio de broches do Tux, o pingüim-símbolo do Linux, e depois houve uma animada confraternização no Sushi Barra, restaurante japonês no shopping e centro comercial Downtown, que se estendeu até uma da madruga.

Na foto abaixo, tirada pelo Bruno, eu e Marcos nos extremos do palco e em primeiro plano a Elisinha, que gentilmente me ajudou a distribuir os números do sorteio.

25.9.03

Moçada, é hoje o papo sobre software livre e segurança que farei lá no Rio Design Barra (Av. das Américas, 7777, Barra) junto com o expert Marcos Tadeu von Lutzow Vidal.

Espero vocês lá, a partir das 20h!

23.9.03


(reprodução do site oficial do GNU/Linux)

Tá lá na Cora, então reproduzo aqui:

"Vida Digital

Essa semana, é a vez do André Machado: nosso intrépido repórter e o engenheiro Marcos Tadeu Vidal, professor de engenharia de telecomunicações e diretor da consultoria de segurança em TI V2R, vão falar sobre software livre e segurança no próximo encontro no Rio Design Barra. Quinta-feira, dia 25, às 20hs."

19.9.03

Renovando a campanha!

18.9.03

O presidente quer botar mais dinheiro em circulação no país diminuindo a conta-gotas os juros e autorizando empréstimos no contracheque.

Fala sério.

Qualquer empréstimo é por definição encalacrante. Acreditem, eu falo por experiência própria.

Por que o governo não demonstra que pensa um pouco nos trabalhadores e estuda para valer uma política salarial, ao invés de largar a gente na chamada "livre negociação"? (Livre só para os donos da $$$, é claro.) Com um salário decente, a gente volta a ser consumidor de verdade e não fica pondo a mesa de casa igualmente a conta-gotas, esticando o ordenado defasado há quinhentos anos.

Dá uma raiva danada ver que nada, absolutamente nada mudou este ano. Nem parece que vai mudar.

Quando foi a última vez que vocês gastaram um dinheirinho sossegados, sem pensar nas conseqüências? No meu caso, isso foi no governo Sarney.

Minha paciência está acabando.

17.9.03

De Arnaldo Jabor, ontem, sublime:

Isso: felicidade e medo, a sensação de tocar por instantes um mistério sempre movente, como um fotograma que pára por um instante e logo se move na continuação do filme. Sempre senti isso em cada visão de mulheres que amei: um rosto se erguendo da areia da praia, uma mulher fingindo não me ver, mas vendo-me de costas num escritório do Rio... São momentos em que a “máquina da vida” parece se explicar, como se fosse uma lembrança do futuro, como se eu me lembrasse ali do que iria viver.

Esses frêmitos de amor acontecem quando o “eu” cessa, por brevíssimos instantes, e deixamos o outro ser o que é em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de “compaixão” pelo nosso próprio desamparo, entrevisto no outro.


15.9.03

Just need some plain rock'n'roll today.

12.9.03

Niver de Mr. Balbio hoje. Vai ter festa. E o fim de semana vai começar... Só amanhã tem uns três agitos para ir. Isso é que é sábado ;-)
Dia de correria e fechamento hoje no caderninho. A correria foi maior do que a habitual porque Mr. Balbio, Elis e eu fomos fotografados e filmados para a final do V Prêmio de Imprensa Embratel, ao qual concorrermos com um especial sobre telefonia móvel que fizemos em 2002.
Elis e eu também cortamos um dobrado esta semana porque aproveitamos para nos atualizar e fizemos o curso de mestre Laércio Vasconcelos para montagem de micros de última geração. Elisinha e eu desmontamos e montamos do zero um micro que funcionou direitinho, na prova final. Já dá para ajeitar a placa de som de lá de casa ;-))
E é claro que saímos de lá com altas idéias para pautas... Imagine se dois curiosos como nós não iam pensar em mil textos possíveis.

9.9.03

"The first and most important rule to observe...is to use our entire forces with the utmost energy. The second rule is to concentrate our power as much as possible against that section where the chief blows are to be delivered and to incur disadvantages elsewhere, so that our chances of success may increase at the decisive point. The third rule is never to waste time. Unless important advantages are to be gained from hesitation, it is necessary to set to work at once. By this speed a hundred enemy measures are nipped in the bud, and public opinion is won most rapidly. Finally, the fourth rule is to follow up our successes with the utmost energy. Only pursuit of the beaten enemy gives the fruits of victory."

(Von Clausewitz)
"Na guerra há apenas um momento favorável. A grande arte é agarrá-lo."

(Napoleão)

8.9.03



Como o diabo gosta, no aniversário da minha querida Ariadne (esq.), junto com a Glorinha, no agito do Casarão Hermès, na Glória. A semana passada foi realmente uma boêmia só. A foto é da doce Elis Monteiro.

5.9.03

A seta de Eros

Eu a observo
e reflito: como fazê-la entender
que sou eu quem procura?
que somos as peças que se encaixam
em nossas almas tateantes?

Relato maravilhas
para entreter sua noite sem fim.
Scheherazadicamente
forjo as tessituras das histórias
como quem maneja uma harpa de cristal quebradiço.

Mas os círculos negros de seus olhos me perturbam
e sobrevém o silêncio fatal
em que as idéias se afogam
e resta apenas a seta de Eros a fustigar os mamilos.

Ah, será uma longa jornada até o entendimento.
E provavelmente ele virá quando a primeira terra
cair sobre o esquife do poeta.

4.9.03

Encontro ontem, na Cobal do Humaitá, de veteranos da Escola de Comunicação da UFRJ, a saudosa ECO, que era um agito só no começo dos anos 80. Havia representantes das turmas de agosto/80 e março/81 (a minha), e o chope foi para lá de divertido. O mote foi a visita da querida amiga Denise Marcolino, hoje radicada em SP, a estas praias cariocas. Estavam lá José Figueiredo, o eterno Fig, Júlia, Carter Anderson, Angélica, Ricardo Cabral, Márcia Elena, Dudu Feijó, Augusto e outros convivas. Arnaldo Bloch deu também uma rápida passada na área. Planeja-se uma grande festa ecoína em novembro, me informa o Fig.
Quero agradecer de todo o coração aos amigos e amigas que estão dando uma força à campanha do Cadafalso para transformar os bits de poesia nas páginas de um livro. Com essas ajudas valorosas, a gente uma hora chega lá.

31.8.03

Vou botar o bloco na rua.
Quem se habilita?

30.8.03

Encontro e instante

(para alguém que é pura vida, em todos os sentidos)

Despertou devagar numa praia grega
a lembrança do vinho com mel ainda em seus olhos
a dor de abandonar o sonho
como afastamos o cobertor tépido ao laçar a vida
todos os dias
para que nos arraste.

olhou o oceano perfeito
e sentiu-se velho.
então, sem mais, ela saiu da água
e mirou-o com toda a sua juventude irrequieta.

Ela se aproximou e sorriu, curiosa.
Sua pele era límpida como o marfim de Calecute
e suas palavras, melífluas e ansiosas
como o canto de certos pássaros
que ainda não perceberam seu cativeiro.

Ele ouviu maravilhado suas perguntas
e pensou em responder por artifícios.
Mas qual.
Lembrou-se de sua própria juventude distante
E preferiu fazê-la rir.

Ali, na areia onde pisara Apolo,
sua vida mudou de tom por um instante.
E ela o presenteou
com o esquecimento.
Pronto, pus mais uma família de comentários aí embaixo. Quando o Yaccs voltar, haverá duas opções para os amigos deste blog. Não dava mais para ficar só com um tipo de sistema.
Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft

Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft

Uma idéia muito legal da Rossana, de que tive a honra de participar com uma pequena declaração.

29.8.03



Na redação, a gALLera do Infoetc em foto de 2001: Luizinha, Cora, eu, Elis e Mr. Balbio.
Existem amigos que nos comovem mesmo à distância. É o caso de Alessandra Archer, com quem me sinto absolutamente incapaz de ficar chateado, mesmo sem vê-la há quase três meses. É impossível não adorar alguém capaz de escrever algo assim:

"Ela precisava falar sobre isso. Queria dizer que os sons a olhavam cabisbaixos. Às vezes desconfiavam que ela os ouvia. Mas como, se é absolutamente surda? Com os olhos castanhos avermelhados de choro ela os olhava sem calor. Queria ouvi-los, sim. Esforçava-se para entendê-los. E tudo o que conseguia era imprimir papéis e mais papéis cheios de histórias e poesias. Juntava letras com um teclado e considerava muito mais fácil do que abrir sua boca e cuspir palavras. Elaborava-as, buscando explicações para tudo o que não conseguiria nunca desenrolar em sua mudez doentia. talvez por isso seus textos vinham sempre com as mais belas e ousadas palavras. Contos tingidos de verde, aromatizados ou com sabor chocolate. Mas agora estava com um nó na garganta e só dispunha de cinco minutos para digitar qualquer coisa rápida, qualquer coisa que a desengasgasse por algum tempo. E iria fazê-lo. E estava certa de que conseguiria. E foi por isso que sua mãe a ouviu, pela primeira vez, dizendo que a amava."

Oh boy.
Este post foi feito sem fio, com a ajuda do Partner da Gradiente da tia Cora, definitivamente uma maravilha..

27.8.03

Mais uma ida e volta a Sampa, ontem, a trabalho. Estava um frio danado por lá. Felizmente o evento que fui cobrir aconteceu num hotel.
O curioso foi quando recebi o código para minha passagem para a ponte aérea: ele terminava com as letras "fique". Se eu fosse supersticioso, não voava de jeito nenhum. Mas, como acredito que a hora de se ir deste mundo já está registrada num alfarrábio qualquer em outra dimensão, não hesitei e segui em frente.
Valeu a pena: o trabalho foi tranqüilo e a companhia, agradável. Revi, além dos coleguinhas de SP, a moçada de Brasília, Recife e Belo Horizonte.

25.8.03

Entretanto, quando as hostes inimigas se aproximam, o sangue sobe junto com a determinação de resistir.
É hipnótica, vez por outra, a tentação de dizer adeus.

21.8.03

Pergunta para vocês:

Por que se diz que o amor não pode nascer de uma grande amizade, se todo amor verdadeiro se transforma, como o tempo, justamente numa amizade inabalável?

20.8.03

Lonely

O ciúme agitou-se em meus rins
na alvorada de tua decisão;
eu a queria inteira
queria a chave criptográfica de tua alma.

Mas quem há de ouvir os protestos de um poeta?
Quem leva a sério o encantador de palavras?
Teu amor me impregnou; foi meu erro.

E agora tu beijas teu futuro
e eu fito o horizonte
e choro sobre os palácios de brisa que ergui.

18.8.03

Mais uma semana "animada" no trabalho. Vou a SP e volto e tenho mil outras coisas para ver. Pelo menos o Mr. Balbio está de volta. May the Lord be praised! ;-)

14.8.03

Em agitada correria profissional nos últimos dias. A semana está recheada de matérias ;-).

11.8.03

Eu não costumo postar aqui qualquer tipo de corrente no estilo "fofinha". Mas a Alesinha, uma figura maravilhosa, me mandou um email que realmente me fez rir. Vou dividi-lo com vocês:

"Trate seu amor como você trata seu melhor amigo".

Sei que isso parece falta de romantismo, mas é o conselho mais certeiro.
Não era você que estava a fim de uma relação serena e plenamente satisfatória? Taí o caminho.
Vamos tentar elucidar como isso se dá na prática.
(...)
Você foi convidado para o casamento de uma prima distante que mora onde Judas perdeu as botas, você tem que ir porque ela chamou você pra padrinho.
Como é que os casais costumam combinar isso?
"Não tem como escapar, você vai comigo e pronto".
Ou seja, um põe o outro no programa de índio e nem quer saber de conversa.
É assim que você convidaria seu melhor amigo? Não. Você diria:
"Putz, tenho uma roubada pela frente que você não imagina. Me dá uma força, vem
comigo, ao menos a gente dá umas risadas...".
Ficou bem mais simpático, não ficou?

Como esta, tem milhões de situações chatas que você pode aliviar, apenas moderando o tom das palavras.

Pro seu marido:
"Você nunca repara em mim, não deu pra notar que cortei o cabelo? Será que sou invisível?"
Mas pra sua melhor amiga: "Ai, pelo visto meu cabelo ficou medonho e você está me poupando, né? Pode dizer a verdade, eu agüento".

Pra sua mulher:
"Você já se deu conta da podridão que está este sofá? Não dá pra ver que está na hora de trocar o tecido?"
Mas pra sua melhor amiga:
"Deixa a pizza por minha conta, eu pago, assim você economiza pra lavar o sofá. A não ser que este seja um novo estilo de decoração..." Risos, risos, risos.

8.8.03

Perguntinha: vocês não acham que os nossos irmãos argentinos estão se dando melhor por lá com o Kirchner no leme?
Também dei um alô para minha querida Alessandra Archer, que não vejo desde junho. É uma vergonha o tempo que a gente passa longe dos amigos neste mundo corrido e cercado de tarefas e dívidas por todos os lados...
Acabei de falar por telefone com o Gustones, que está acamado, praticamente imobilizado, por uma hérnia de disco terrível. Espero que você fique bom logo, meu caro, porque está fazendo falta para caramba.

7.8.03

Para quem curte ciência: entrevistei uma figura muito interessante para o "Informática etc" de segunda-feira. Acredito que vale a pena dar uma olhada no que ele diz.

E mais não conto, para não estragar a surpresa. ;-)
Vai com Deus, dr. Roberto. Faço minhas as palavras do Chico Anysio: que o Espírito ilumine seus herdeiros e lhes dê a mesma sabedoria, a mesma capacidade administrativa que o senhor teve.

* * *

A tristeza no Globo hoje me lembra a tristeza da Manchete quando perdeu Adolpho Bloch em 19 de novembro de 1995. Nunca mais vou esquecer essa data, porque no dia seguinte, meu sogro, que eu adorava, teve um enfarte fulminante. Foi um dos piores momentos da minha vida.

6.8.03

Transcrito do Globo de hoje. Pode ter passado desapercebido com Elio Gaspari e Zuenir Ventura na mesma página:

"Contas que não fecham

Antonio Conrado

Se você é um trabalhador da iniciativa privada e começou sua vida profissional antes de junho de 1989, contribuindo para receber 20 salários-mínimos quando se aposentasse, fique perplexo com o “espetáculo de injustiça” a que estamos assistindo.

Recorrendo a analogias na busca de maior clareza, pergunto se é justo você comprar, por exemplo, um apartamento de cinco quartos, pagar por diversos anos a respectiva prestação e, ao longo do tempo, o incorporador unilateralmente reduzir o tamanho do apartamento e a respectiva prestação para dois quartos.

Pergunto, respeitosamente, aos representantes dos três poderes da República que leram até aqui este despretensioso artigo: o que V. Ex. decidiria se um reclamante demandasse ou a manutenção do inicialmente acordado (cinco quartos) ou a devolução das prestações pagas em excesso (cinco versus dois quartos), ou algum critério mais justo tipo pró-rata?

Pois bem, acompanho com interesse as atuais pertinentes e necessárias discussões da reforma da Previdência e o direito de diferentes grupos defenderem os seus pleitos. É a democracia em pleno funcionamento.

Em nenhum momento, porém, li ou escutei algum membro de um partido político, de uma central sindical, do Judiciário, do Executivo, que se indignasse com a usurpação do direito e/ou expectativa de direito, nem com a apropriação indébita das contribuições feitas pelos trabalhadores que iniciaram, como disse anteriormente, sua vida profissional como empregado de uma empresa privada e pagando, insisto, contribuindo, para ter 20 salários de aposentadoria. Hoje, o teto dessas aposentadorias corresponde a 7,8 salários-mínimos.

Há jurisprudência firmada no sentido de que as condições de aposentadoria são definidas pela legislação em vigor na data de início da dita cuja. Portanto, hipoteticamente, por absurdo e no limite, se você quiser trabalhar 35 anos, e após 34 anos e 11 meses (a um mês de sua aposentadoria) mudasse a legislação com redução de sua pensão, seu benefício seria o novo valor e você receberia um sonoro adeus para aquelas contribuições pagas a maior.

Está aí uma bandeira que considero justa e que, respeitosamente, gostaria que fosse defendida pelos três poderes e pelas centrais sindicais: ou a devolução das contribuições corrigidas pagas a maior, ou a correção do benefício segundo um critério pró-rata em relação a todas as contribuições feitas. Teria uma sensação de proteção maior vendo um “radical” subindo em um caminhão de som e uma ameaça de greve de uma central sindical nessa defesa.

E para aqueles mais ligados à vida político-partidária, sugiro que alguém crie o PTIPRI, Partido dos Trabalhadores da Iniciativa Privada. Para os mais ligados ao mundo sindical, a fundação da CUTIPRI, Central Única dos Trabalhadores da Iniciativa Privada. Talvez as adesões fossem significativas."

5.8.03

La solitude est une belle chose; mais il faut quelqu'un pour vous dire que la solitude est une belle chose.

Balzac

3.8.03

Não seja esposa, nem mãe hoje. Seja apenas aquela namorada serelepe que me tirou do sério milhões de vezes. Seja inconseqüente, exuberante, engraçada, impetuosa. Faz de conta que a gente não sabe como a história termina e ainda acredita que pode muito bem não haver outro encontro amanhã, pela razão mais frívola. Não fale de sua família, nem da minha. Deixe o exame de vista da caçula para lá. Esconda os mangás da adolescente, só pra provocá-la. Não faça as contas -- matemática é antitesão.

Apenas venha cá, me abrace e cante comigo: let it roll, babe, roll... all night long.

1.8.03

Estava vendo um show do Queen na TV madrugada dessas, com a banda no auge da forma, cheia de eletricidade em seu rock and roll, quando eles tocaram "Tie your mother down". Fiquei rindo sozinho, lembrando de um show a que assisti nos anos 90 no Circo Voador, com uma banda tocando uma versão brasileira bem-humorada desta música, chamada "Traia o maridão"...

Eu estive na coletiva da banda no Rock in Rio I, em janeiro de 1985. Dos quatro, o mais simpático foi de longe o guitarrista Brian May, contando o porre que tomara no avião. May sempre me pareceu um elfo tocando guitarra, com aquela altura toda. O dele é um dos timbres mais singulares do rock.

31.7.03

Níver de Cora Rónai hoje. O Guardião dos Cadafalsos, que a adora, lhe envia muitos beijos, com desejos de felicidades todos os dias de sua vida.

29.7.03

Dia de ficar triste

Dia de ficar triste, hoje;
dia de desassossego e muxoxos
dia de tentar encher com a areia da nonchalance
a cratera que você acaba de abrir em minha testa
com meia-dúzia de palavras.

Ah, mas a vida do poeta é assim:
o eterno remoinho do amor perdido
dos afãs jogados às hienas
fecundando o pericárdio
e fazendo brotar novos versos
cheios de frescor e crueldade.

Aquele cujo amor é difuso como o jato do prisma
tem sob as melenas o sinal do sofrimento
e deve se quedar só,
à beira dos mares de ácido.

28.7.03

Estou melhor, após um fim de semana recolhido em casa.
Quando estava escolhendo os filmes a que ia assistir, me deparei com um DVD de um show da Donna Summer para o VH1. Não resisti. E o show é sensacional, com aquele balanço inesquecível dos anos 70, uma década em que até o bate-estaca se fazia com classe, harmonia e melodia. No repertório, "McArthur Park", "I Feel Love", "Bad Girls", "Dim All The Lights", "She Works Hard For The Money" e "Last Dance".

25.7.03

Ontem tive de voltar para casa mais cedo: fui vítima de terrível virose. Febre -- daquelas que dão ondas de arrepios na gente -- dores no corpo, garganta ardente, moleza geral. Fiquei na cama até anoitecer, acordei, jantei, dormi de novo. Acordei empapado de suor, felizmente sem febre. No fim de semana vou ver se me recupero mais.

23.7.03

Comprei ontem -- sabem aquelas compras compulsivas, sem titubear, em que a gente tira tudo que tem da carteira e dá na hora, porque é impossível resistir? -- o novo CD do superguitarrista de rua Sérgio Bap, um dos melhores guitarristas de blues que já ouvi na vida. Da primeira vez que o ouvi, estava na rua São José e fui arrastado até ele pelas invencíveis terças num solo genial. Ontem, passava pela Praça XV e eis que o homem estava lá. Não deu para resistir: comprei o volume 3 de sua coleção "Sentimental Blues". Já tenho o 1, agora só falta o 2. Mas isso não tardará ;-))

Deus, que país é esse onde um instrumentista como Bap fica tocando assim, na rua?

22.7.03

Mais Gide:

"Cada ação perfeita se acompanha de volúpia. É por onde reconheces que a devias ter feito. Não gosto nada dos que encaram como um mérito ter penosamente obrado, pois se era penoso teriam andado melhor fazendo outra coisa. A alegria que se encontra em ter agido é sinal da propriedade do trabalho."

(...)

"Não quero que me digas: vem, preparei-te tal ou qual alegria; não gosto mais senão das alegrias casuais, e as que minha voz faz que jorrem do rochedo. Escorrerão assim para nós, novas e fortes, como os vinhos fortes abundam no lagar."

21.7.03

O homem cordato

Os escribas narram atos de sangue
um tanto chocados
como se de fato existisse
o homem cordato
quando tal ser
é primo dos unicórnios.

Esquecem
ou fingem que esquecem
que no cerne somos todos bárbaros
e mesmo o mais são da espécie
pode abraçar a loucura das turbas.

Mesmo o sexo é um embate
onde se alternam o domínio e a entrega;
e há batalhas renhidas
de divisões inteiras de poros arrebitados
nos campos acidentados dos lençóis.

Passar-se-ão milhares de anos
até que tais almas forjadas por sabres e cimitarras
sejam realmente esculpidas pelo Espírito.
Mas talvez, então,
já não sejamos mais os arrogantes sapiens.

18.7.03

Longe

Hora de ficar longe
e raciocinar -- o melhor antídoto
para seus olhos.
Porque se ficar perto
eu vou querer chupá-los
até a última gota de córnea.

Você expressa no papel roto
o sentimento inevitável
-- mas não tangível --
e eu derramo bits de tristeza.

Por isso é hora do eu distante;
hora de sentar à escrivaninha
e fazer cálculos estéreis
e pensar no que comer
e olhar desenhos animados.

15.7.03

E Gustones, o superguitarman, está de volta ao bloguniverse. Long live rock and roll!
Niver da Maryzinha Fabriani hoje. Parabéns, querida. É sempre um deleite visitar sua página. Beijos do Guardião.

14.7.03

Fala, moçada. Voltei. Dei uma relaxada básica nas férias, resolvi alguns contratempos (infelizmente, férias também servem para isso) e mandei fazer uns óculos novos para blogar melhor aqui.

E vamos logo poetar, que é hora:

Saiba

O amor por você subiu no meu sangue
como um licor doce-amargo
e eu expulsei a vergonha
de meus lábios apertados:
pedi, implorei, gritei pelo seu beijo
-- não qualquer beijo,
mas Aquele que dissesse tudo
que nutrisse a tempestade
que eletrificasse o tato
que inundasse sua boca de poesia
como você veste minha alma friorenta
com suas palavras recheadas
da mais bela loucura
do mais puro desvario.

Ah! e você teve medo.
Perdoe.
Mea culpa, mea culpa.
Não posso esperar que me acompanhem
everest acima
ou vesúvio abaixo
sem uma grossa corda de cânhamo.

Mas saiba disto:
você me perturba
e invade meus sonhos
e me faz tremer de desejo.

27.6.03



(foto: Freefoto.com)

Vou tirar uns diazinhos de férias. Voltarei no dia 14/7, pronto para outra.

25.6.03

Em ótimo artigo no Observatório da Imprensa, Jaime Höfliger dá uma sacaneada na mídia por incentivar as privatizações nos anos 90 e agora chorar por estar nas mãos dos mesmos administradores "edwards-mãos-de-tesoura" que capricharam no "dowsizing". No meio do artigo, o melhor argumento contra os discípulos do mercado que defendem que a condução da economia deve ser algo sumamente técnico e jamais político. Leiam e se toquem...

"As árvores se conhecem pelos frutos; então, pergunto que frutos os economistas e administradores têm conseguido produzir operando um sistema que é o maior produtor de riquezas? Eu mesmo respondo: eles vêm produzindo a maior distribuição de miséria que se conhece. A esses estão entregues as empresas jornalísticas?

A política econômica não seria política se as decisões em seu âmbito fossem sempre estritamente técnicas. E a economia (com as exceções que confirmam a regra), convenhamos, por tudo e tanto que se tem visto, é o reino dos que abdicaram de pensar. Cabe à política conduzir a economia e não o inverso; a economia e a administração, assim como a Gramática do Verissimo, 'têm que apanhar todos os dias, para saber quem é que manda'."

24.6.03

Extraído ipsis literis do blog de Cora Rónai:

"O Antonio Caloni me mandou uma continha que dá o que pensar:

'Se um correntista tivesse depositado R$ 100 (cem reais) na Poupança num banco, no dia 1º de julho de 1994 (data de lançamento do real), ele teria hoje na conta a fantástica quantia de R$ 374 (trezentos e setenta e quatro reais).

Se esse mesmo correntista tivesse sacado R$ 100 (cem reais) no cheque especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$ 139.259 (cento e trinta e nove mil, duzentos e cinqüenta e nove reais), no mesmo banco.

Ou seja: com R$ 100 do cheque especial, ele ficaria devendo nove carros populares, e com o da poupança, conseguiria comprar apenas quatro pneus.

Não é a toa que o Bradesco teve quase R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais) de lucro liquido somente no 1º semestre, seguido de perto do Itaú e etc... Dá para comprar um outro banco por semestre!

E os juros?

VISA 10,40 % ao mês
CREDICARD 11,40 % ao mês
POUPANÇA 0,79 % ao mês.'

É. Há algo profundamente errado com o país."

Eu, como chefe de família e sustentáculo único de minha casa, assino um milhão de vezes embaixo.

23.6.03

Na última noite, em que me sentei a seu lado, senti uma onda irreprimível de amor tomar conta de mim. Você falava, e eu apenas a observava, sorrindo levemente. Você sempre teve tal efeito sobre mim, desde os dias em que fazíamos o Tempo parar.

20.6.03

Estou lendo "Os frutos da terra", de André Gide. Já comecei este livro outras vezes, mas sempre me dispersei e acabei lendo outra coisa. Agora que me toquei, através de um livro do Richard Ellman, que o personagem Ménalque representa Oscar Wilde (eu devia saber -- este nome está no poema "A esfinge", de Wilde), por quem Gide era fascinado, prometi a mim mesmo que iria até o fim. Aliás, Gide é outro de meus autores preferidos. Li dele "O imoralista", "Os moedeiros falsos" e "A volta do filho pródigo". Este último é uma porrada na alma.
Mas "Os frutos da terra" não fica atrás.
Vejam este trecho:

"Olha a noite como se o dia nela devesse morrer; e a manhã como se tudo nela nascesse.

Que tua visão seja nova a cada novo instante.

O sábio é quem com tudo se espanta.

(...) O menor instante de vida é mais forte que a morte, e a nega. A morte não é senão a permissão de outras vidas para que tudo se renove sem cessar; a fim de que nenhuma forma de vida se detenha mais tempo do que lhe é necessário para se dizer. Feliz o instante em que tua palavra retine. Durante o resto do tempo, escuta; mas, quando falares, não escutes mais."
Suponha que você esteja pensando em alguém, e que, sem mais nem menos, o número do telefone desse alguém pisque em seu celular. Ou que você atenda o telefone fixo, sem bina, e lá, do outro lado da linha, esteja a pessoa em que pensou.
Pergunta: é coincidência?
A nova interface de edição do Blogger está bela.
Embora alguns acentos ainda não tenham dado o ar da graça.

18.6.03

Por outro lado, espantar os males pode ser mais fácil do que a gente pensa. Se minha guitarra não tivesse sido roubada num infeliz incidente, eu estaria tocando com o Hélcio em algum canto e relaxando. Em noites pós-shows, sempre durmo o sono dos justos, deixando o peso do cotidiano nas cordas da guitarra.
Mas pode ser ainda mais simples. Uns chopes podem bastar. Preciso me lembrar disso antes de ir para casa, às vezes. Ou -- como foi o caso ontem -- a companhia, não planejada, de alguém jovem e entusiasmado, sorridente e confiante, que nos lembra que ainda vale a pena sonhar, de alguma forma. Um papo solto com alguém assim é um ótimo remédio.
Detesto quando não consigo controlar meu mau humor. Resultado: estrago um dia que poderia ter sido perfeito. Mas às vezes a gente não tem como guardar o aborrecimento, pode ser até pior. Contudo, eu sempre me sinto exausto depois que a raiva passa. E sempre constrangido. Wal tem mesmo um coração de ouro. Em certos momentos acho que vou virar um velho ranheta insuportável, que nem aquele hipocondríaco do Almeida, da tirinha do Urbano, o aposentado.
Felizmente, não sou um mal-humorado crônico. Só de vez em quando. No mais das vezes, fico numa boa. Li há muito tempo em algum lugar que o mau humor é uma forma de depressão, e acho que esse bem pode ser o caso.
Por outro lado, do jeito que a vida está nesse país o certo era a gente ficar explodindo de raiva 24 horas por dia. Principalmente no Estado do Rio. É preciso tomar uma dose de alienação para encarar a realidade da era Garotinho.

16.6.03

Há dois novos minicontos no Cadafalso II.
Sem você, só tenho as letras

Teu silêncio é torturante --
mais que o fel que destilas amiúde quando te cansas de mim.
Meu pecado capital é o orgulho
que sempre transborda condimentado pela ira.
Perdoa, pois,
este arremedo de ser humano sem deus.

Sem estas mal traçadas
eu seria apenas um amontoado de órgãos e secreções
um prisioneiro da jângal.
Não sei rezar, apenas escrevo e tateio o esplendor como Tânatos
para ao menos ouvir um fiapo de ressonar do Espírito.

E sem ti, claramente embaixadora de algum condado celestial,
mansamente enlouqueço
dentro do labirinto de carne, química e eletricidade.

13.6.03

Mudo

Olhar em seus olhos
e sentir a borrasca dentro de mim se apaziguar
examinar sem querer
a delicadeza de seu colo adornado
seus globos dourados e perscrutantes
e ouvir sua voz ponderada
como um bom vinho
tudo isso é mais que um aprendiz como eu
poderia desejar.

E o tempo todo o martelo da consciência
recai sobre as meninges:
"preciso dizer logo que a amei
desde Sempre
que a amarei
até o Nada
que não suporto a despedida."

Mas a coragem falta-me;
como o passo em falso do alpinista
na escarpa espancada pelo vento
emudeço
e me arrependo na madrugada.

12.6.03

Aháá!!! Voltou!! Oba!!!! Ziriguidum!!!! Esquidundundum!!!!
Acabei de descobrir que, nos Settings, na parte Formatting, o idioma estava selecionado como português de Portugal. Troquei-o para português do Brasil e voltaram os danados dos acentos...
Muito esquisito esses parâmetros do Blogger. Enfim...
vejamos se a acentuação voltará...
Ninguem gosta de fazer plantao. Nao sou excecao, mas considero que a pior parte de um plantao jornalistico eh a volta para casa no fim da noite de domingo ou no comeco da madrugada de segunda. Todo mundo estah dormindo quando vc chega em casa. Eh uma sensacao de solidao terrivel.
Acho que eu jamais poderia viver sozinho. Embora, como todo mundo, precise de uns momentos comigo mesmo, mesmo nesses momentos eh bom saber que tem alguem em algum lugar esperando por vc.
PS - Desculpem o linguajar telegrahfico, mas os acentos ainda nao voltaram...

9.6.03

Galera, estou demorando um pouco a postar aqui por causa desses acentos não formatados. Assim que o pessoal do Blogger resolver a parada, postarei normalmente...

6.6.03

Essas mudanças dão um desânimo...

5.6.03

por falar em bug, os acentos estão dando pau. O New Blogger (com o novo sistema Dano -- nome horroroso, por isnal) sugere um comando para botar no template, mas ele ainda não funcionou.... *#%@!!!!!
Assim não há inspiração poética que funcione..
Gente...
eu até pensei em tirar do ar posts desesperados abaixo, mas eles vão ficar lá, fazendo parte da história do Cadafalso. A Elis falou com a moçada lá no Silicon Valley e eles reportaram que esse negócio de os posts sumirem é mesmo um bug. Certamente haverá outros nesta migração para o novo ambiente do Google. Caramba, que sufoco.
Pelo jeito ainda vamos levar um bocado de sustos nesse mês de junho. Parafraseando o que dizia a Bette Davis, apertem os cintos que vai ser um mês turbulento. ;-)
aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!! Voltou tudo!!!! Oba!!!! êeeee!!!!
Novo teste
Não acredito nisso!! Dois anos de posts para tal fim?
Socorro!!! Sumiu tudo. Iaaaauu!!!
Gente, acabo de entrar na nova interface de postagem do Blogger. Meio esquisita, mas as fontes default para escrever os posts s?o maiores que antes, pelo menos. Mas os arquivos ficaram escondidos nos Settings e a gente n?o vê mais os ?ltimos posts que fez, embaixo. Além disso, fomos rebaixados à categoria "Blogger Basic"... Eu, hein?

2.6.03

Let the guitar

Você ainda não entendeu, não é?
Olhe mais de perto. Escute.
Ele está ribombando dentro da caixa torácica
esperando que você plugue seu beijo
como um acorde de slide.

Isso. Assim.
Agora ele explode com uma virada
à Ian Paice, à John Bonham, à Keith Moon.
Entra o baixo, latejando,
estalando em suas entranhas
e você começa a cantar sincopadamente.

A banda inteira evolui.
E então, como se mixada por Deus,
começa a tocar em sua cabeça
em seus seios
em suas coxas
em sua nuca
a sinfonia imaculada da natureza.

Depois, quando você cisma nua
e satisfeita
entre as pétalas,
a música divina, esquiva, se perde.
Mas tudo bem.
Só o que se quer como combustível
é um pouco de rock'n'roll para começar.

Está sentindo?
Eis no seu peito, agora,
o ritmo indômito.
Um, dois, três, quatro...

30.5.03

A história da inclusão dos chimpanzés na categoria "Homo" reacendeu o velho debate sobre a suposta superioridade da raça humana, que seria o objetivo final da evolução para alguns. Sinceramente, é um bocado de pretensão ver nesse esboço que é o ser humano algo superior aos animais capazes de se adaptar à vida na Terra sem precisar destruir tudo à sua volta. Se, como argumentam os cientistas, nós não nascemos "pré-programados", ao contrário de nossos companheiros do reino animal, pelo menos é preciso reconhecer que o "software" que vamos desenvolvendo ao longo dos anos ainda é rudimentar, chegado a vários "paus" e de código-fonte fechado e misterioso.

28.5.03

Desejas ser mais doce e frear a paixão; mas pode o açúcar abrandar as labaredas? Especialmente as tuas? Sê fiel a ti mesma, autêntica como sempre foste. Pois tens o brilho dos que crêem, e a honra de teus antepassados nos campos brumosos da eterna batalha. Eu, o escrevinhador cético, vejo em ti minha salvação, pois, se não creio no que crês, ao menos acredito em ti.

27.5.03

Andam gozando o vice Zé Alencar por esculhambar a política econômica do Lula. Mas, cá entre nós, ele é praticamente a única voz no Executivo que está sendo coerente com as propostas pelas quais foi eleito. Se esse governo, em algum momento, não der uma guinada, nem fizer algo diferente do príncipe da sociologia FHC, só nos restará votar em nanicos como PSTU e PCO ou anular o voto. Lulinha globalizado ninguém merece.

Pelo jeito, o Capitão Rodrigo estava certo quando dizia "hay gobierno, soy contra".

26.5.03

Atenção: este post é só para quem já viu "Matrix Reloaded".

Aqui, uma tradução do diálogo entre Neo e o Arquiteto da Matrix no filme, que vale a pena revisitar:

Neo - Quem é você?

Arquiteto - Sou o Arquiteto. Criei a Matrix. Esperava por você. Você tem muitas perguntas, e, embora o processo tenha alterado sua consciência, você permanece irrevogavelmente humano. Logo, algumas de minhas respostas você entenderá, e outras não. De fato, conquanto sua primeira pergunta seja pertinente, você pode não perceber que também é irrelevante.

Neo - Por que estou aqui?

Arquiteto - Sua vida é o resumo do que resta de uma equação desequilibrada, inerente à programação da Matrix. Você é a eventualidade de uma anomalia que, a despeito de meus esforços mais sinceros, não consegui eliminar do que, de outro modo, seria uma harmonia de precisão matemática. Por um lado, continua a ser um fardo evitar tal anomalia, ela não é inesperada, e portanto não está além de medidas de controle. O que levou você, inexoravelmente, a chegar até aqui.

Neo - Você não respondeu à minha pergunta.

Arquiteto - Absolutamente certo. Interessante. Foi mais rápido que os outros. A Matrix é mais velha do que você pensa. Prefiro contar desde o surgimento de uma anomalia integral até o surgimento da próxima. Esta é a sexta versão.

Neo - Há duas explicações possíveis: ou ninguém me contou, ou ninguém sabe.

Arquiteto - Precisamente. Como você já deve estar percebendo, a anomalia é sistêmica, criando flutuações mesmo nas equações mais simplistas.

Neo - Escolha. O problema é a escolha.

Arquiteto - A primeira Matrix que desenhei era, naturalmente, perfeita, era uma obra de arte, sem falhas, sublime. Um triunfo apenas igualado a seu fracasso monumental. A inevitabilidade de seu destino é patente para mim agora como uma conseqüência da imperfeição inerente a cada ser humano; por isso eu redesenhei a Matrix baseando-me na sua história para refletir mais acuradamente a diversidade grotesca de sua natureza. Entretanto, o fracasso me frustrou de novo. Desde então, passei a entender que a resposta me fugia porque exigia uma mente menor, ou talvez uma menos tomada pelos parâmetros da perfeição. Assim, a resposta foi encontrada por outro, um programa intuitivo inicialmente criado para investigar certos aspectos da psique humana. Se eu sou o pai da Matrix, ela seria indubitavelmente sua mãe.

Neo - The Oracle.

Arquiteto - Por favor... Como eu dizia, ela deu com uma solução pela qual 99.9% de todas as cobaias aceitavam o programa desde que lhes fosse dada uma escolha, mesmo que soubessem da escolha quase em nível inconsciente. Se por um lado tal resposta funcionou, por outro era fundamentalmente falha, criando assim a anomalia sistêmica (que de outro modo seria contraditória), que se não fosse vigiada poderia ameaçar o próprio sistema. Logo, aqueles que recusavam o programa, mesmo sendo minoria, se fossem deixados livres, constituiriam uma probabilidade crescente de desastre.

Neo - Isso diz respeito a Zion.

Arquiteto - Você está aqui porque Zion está prestes a ser destruída. Cada habitante morto, toda sua existência erradicada.

Neo - Conversa fiada.

Arquiteto - A negação é a mais previsível das reações humanas. Mas fique tranqüilo, esta será a sexta vez que eu a terei destruído, e já somos muito eficientes nisso. A função do Predestinado é retornar à Fonte, permitindo a disseminação temporária do código que você carrega, reinserindo o programa primal. Depois disso, você deverá selecionar da Matrix 23 indivíduos, 16 fêmeas e 7 machos, para reconstruir Zion. Se não cumprir o processo, isso resultará num crash cataclísmico do sistema, matando todo mundo conectado à Matrix, o que, junto com a exterminação de Zion, redundará na extinção da raça humana.

Neo - Você não vai deixar isso acontecer. Você precisa de seres humanos para sobreviver.

Arquiteto - Há níveis de sobrevivência que estamos preparados para aceitar. Mas a questão importante aqui é se você está ou não pronto para aceitar a responsabilidade pela morte de cada ser humano neste mundo. É interessante ler suas reações... Seus cinco antecessores eram, por design, baseados numa característica semelhante, uma afirmação que visava a criar uma ligação profunda com o resto de sua espécie. Mas, enquanto os outros experimentavam isso de um modo geral, sua experiência é bem mais específica. Vis-à-vis, o amor.

Neo - Trinity.

Arquiteto - A propósito, ela entrou na Matrix para salvar sua vida ao custo da dela.

Neo - Não!

Arquiteto - O que nos traz ao momento da verdade, onde a falha fundamental é expressa de modo definitivo, e a anomalia revelada como princípio e fim. Há duas portas. Aquela à sua direita leva à Fonte e à salvação de Zion. Aquela à sua esquerda leva de volta à Matrix, a ela, e ao fim de sua espécie. Como você disse, muito apropriadamente, o problema é a escolha. Mas já sabemos o que você vai fazer, não é? Eu já posso ver a reação em cadeia, os precursores químicos que sinalizam a chegada da emoção, desenhada especificamente para oprimir a lógica e a razão. Uma emoção que já o cega para a verdade simples e óbvia: ela vai morrer e não há nada que você possa fazer para impedir.

(Neo caminha para a porta à sua esquerda)

Arquiteto - Humpf. A esperança é a quintessência da ilusão humana -- simultaneamente fonte de sua maior força e sua maior fraqueza.

Neo (saindo) - Se eu fosse você, esperaria que não nos encontrássemos de novo.

Arquiteto - Não vamos nos encontrar.

23.5.03

"Os eus na rede se liberam de restrições cognitivas; mas esse suposto suplemento da alma não pode tomar o lugar dela, de nossa essência."

"Todo universo, enquanto tal, é uma rede, diz Leibniz. E a entrada na época das redes mudou a problemática da compreensão das identidades."

"O sentido é construído pelos atores para eles mesmos. Há mais individualidade, mais interiorização.".

"Com o apagamento dos lugares do eu e a multiplicação dos não-lugares, dá-se a renovação da tarefa filosófica."

"O apagamento dos lugares pode ser comparado à perda da dimensão do eu, pois ele perde a resistência ao mundo ao se liberar de parte de sua memória."

"O eu na rede está cada vez mais ávido de outros eus."

(Alguns pedaços das considerações de Jérôme Bindé, do departamento de análise da Unesco, no seminário "O eu em rede")

20.5.03

Estou com a cabeça girando. Estou cobrindo uma conferência sobre "o eu no ciberespaço" e mergulhei hoje nas idéias de dois filósofos da atualidade: Jean Baudrillard e Edgar Morin. Depois de refletir sobre o devir da realidade virtual, quase me senti dentro da própria Matrix ;-). Mas fiquei feliz com a conclusão de Morin de que a resistência à pulverização de nossa essência por bits e bytes está nos estados poéticos da alma. Fiquei imaginando que este pequeno Cadafalso aqui pode ser uma síntese maluca das duas coisas ;-)
Tudo me lembrou meus dias mais viajantes da Escola de Comunicação da Ufrj, na Praia Vermelha. Tardes e tardes mergulhado nesses questionamentos selvagens. Bons tempos.
Vi "X-Men 2" e gostei. Está, de fato, à altura do primeiro filme. E minha mutante favorita, a doce Vampira feita por Anna Paquin, está cada vez mais bonita...
Dos filmes inspirados em quadrinhos, sem dúvida é de longe a série mais bem-feita. Normalmente, eu esperaria mais para ver, porque ando sem paciência para ir a cinemas cheios de adolescentes barulhentos, mas não resisti. Além do mais, quando um filme é bom mesmo, ele silencia o cinema. Foi o que aconteceu com este aqui.

16.5.03

Como conto no Cadafalso II, estava em Buenos Aires, por isso a demora a postar aqui. Foi uma viagem muito interessante.
E, ao voltar, eis que o Cadafalso chega aos dez mil visitantes... Uma grata surpresa.
Obrigado de coração a todos os amigos deste blog.


O eclipse.
Ou a Lua num momento de timidez.
Enviado pela querida Crib.

Faz lembrar a letra de "Black Diamond", do Kiss:

Darkness will fall on the city
It seems to follow you too
And though you don't ask for pity
There's nothin' that you can do, no, no...



8.5.03

Últimos instantes de uma folha

Eu sou aquela folha dourada e crocante
que planou até seus cabelos
na tarde silenciosa do parque.

Eu sou o último suspiro de vida daquela folha;
alegre, rodopiante, irresponsável,
já tendo acenado para minhas irmãs,
corri pelo calçamento rachado
confraternizei com os insetos
e preparei-me para a transformação final.

Então o sol me fez uma última carícia
e você me viu
e me tomou em seus braços.
Você pode até pensar que me cheirou
mas fui eu que senti, pela primeira vez,
o perfume da Carne humana de perto
-- forte, avassalador, invencível, improvável --
e me apaixonei.

Ainda mais depois que a lágrima escorreu
por meu pecíolo
e me dei conta: você era prisioneira
dos caprichos daquele pulsar impiedoso que existe
em todos os animais...
Ah! mesmo presa a minha mãe por décadas e décadas
eu descobri em seu colo como fora livre, livre,
e ignorante da violência do Desejo.

Pura ironia --
eu, uma simples folha enrugada,
peguei, de algum modo, a doença dos humanos
e morri de uma ansiedade alienígena
estrebuchando sobre suas pernas
antes de descer ao chão
e tornar-me parte do processo.

2.5.03

Depois do fechamento de hoje do caderninho, vou tomar uma cerveja para relaxar e em seguida tirar alguns dias de folga. Volto, pronto para outra, no dia 8/5.

30.4.03

Às vezes fico pensando o que Wilde diria se tivesse um blog e vivesse no bloguniverse. Mas descobri que ele foi profético em algumas de suas máximas...

I never travel without my diary. One should always have something sensational to read in the train.

A poet can survive everything but a misprint.

There is only one thing in the world worse than being talked about and that is not being talked about.

Life is much too important a thing to talk seriously about.

The only duty we owe history is to rewrite it.

Every great man nowadays has his disciples, and it is always Judas who writes the biography.
E a Elis também, com aquela cara maravilhosa de quem chega de férias!
Oba! O Webtracker voltou!!!! Legal!!!!

29.4.03

Este fim de semana vai ser animado. Dois churrascos de aniversário para ir -- do recém-quarentão Ita e de Tatá, irmã de Wal. Vamos ter de dividir a família para as festas -- eu e Jessica numa, Wal e Rebeca na outra.
Semana que vem é o niver de Rebeca, que fará 8 anos. Um dos presentes que vamos lhe dar é uma vaquinha de pelúcia que muge cada vez mais alto e gargalha exatamente como aquele programinha da "vaca louca" que andou passeando pelos emails da gente há algumas temporadas, lembram? A vaquinha, quando começa a gargalhar, treme toda e sai se arrastando pelo chão. Vi o brinquedo hoje (Wal encomendou no vídeo em que somos sócios) e ri às pampas.
Já dá para imaginar Rebeca rindo junto com a bichinha. Ela já ri à toa, por qualquer bobagem (especialmente as que ela mesma faz, que não são poucas ;-))
É, eu já vi que vou ter de substituir o Webtracker, que aparentemente sumiu de vez. Puxa vida...

24.4.03



Mandado pela minha querida Gabriela Temer. Deu sede ;-))

22.4.03

E-mail transformado em poema

Queria que este e-mail atingisse teu peito com
a força da torrente de amor que me invade;
mas o que sinto por ti não cabe num anexo.
Não cabe, aliás,
em lei nenhuma do cosmo:
é inenunciável pelos profetas tristes da razão.

Tudo em ti é transbordante:
a alegria lubrifica minhas órbitas
e me arrepia de gozo;
a tristeza me faz um homem melhor,
enlouquecido pelo desejo de apaziguar
os pequeninos cristais de angústia
que descem em tua face de menina.

Tu podes não o saber,
mas me reensinaste a amar e adorar
sem reservas, sem cercas eletrificadas
falsamente protegendo o espírito.

E assim me fizeste um homem livre, ainda uma vez.
Como quando peguei minha velha guitarra
numa tarde suburbana
acariciei o botão de volume
e me entreguei ao delírio diante da multidão.

18.4.03

Feliz Páscoa para todos!
Tia Cora me passou e eu deixo aqui este brilhante artigo de Carlos Chagas, publicado na Tribuna da Imprensa. Ele diz tudo o que está engasgado depois de quatro meses:

Para Lula ler na cama (4)

BRASÍLIA - "Caro presidente: os votos do País inteiro, começando por nós, seus eleitores, são para que vença imediatamente a bursite, com ou sem operação imediata. Não há nada pior do que enfrentar problemas nacionais, imensuráveis, tendo que suportar problemas pessoais. A gente não sabe o que teria acontecido com a França se Napoleão tivesse sido atacado do câncer no estômago antes de voltar do Egito.

Ou se De Gaulle, só para ficarmos na França, houvesse sucumbido à hipertensão logo depois de sair de Colombey-les-deux-Eglises para reassumir a chefia da nação posta em frangalhos. O senhor deve cuidar-se, tanto faz se no Albert Einstein ou se deitado na mesa da acupuntura, aí no Palácio da Alvorada.

Aliás, seria bom que não se deixasse levar apenas pela ilusão paulistana. Já chega ter composto um ministério que mais parece um paulistério. Nosso irmãos da paulicéia desvairada bem que poderiam ser atacados por um choque de nacionalidade e reconhecer que em Brasília, por exemplo, situa-se o maior hospital de recuperação do aparelho locomotor do planeta, o Sarah. É bem verdade que seu diretor, o dr. Campos da Paz, é carne de pescoço. Não dá luz ao poder nem aos poderosos. Se o senhor quisesse buscar auxílio na instituição, precisaria cadastrar-se e entrar na fila, como qualquer cidadão dos milhares que buscam, gratuitamente, seus serviços.

Mas vamos ao que interessa. O senhor, presidente Lula, foi eleito pela imensa maioria de assalariados, enjeitados, desempregados e famintos que hoje constituem a maior parte da população brasileira. Sensibilizamo-nos pela sua pregação que vem de doze anos. Um operário no poder seria um bom começo, principalmente depois de três rejeições engendradas pelas elites. Fernando Color, uma vez, e Fernando Henrique, duas vezes, demonstraram que com os donos do poder econômico não se brinca.

Agora, depois de tanta ignomínia, outra conclusão não poderia sobrevir: prevaleceu a natureza das coisas na quarta eleição que o senhor disputou. Sua vitória foi a vitória das massas sobre as elites. O grito de revolta sobre os vagidos de prazer de quantos, há tempo, impõem seus interesses sobre os anseios da população.

Foi por prometer mudar o modelo que o senhor chegou ao poder, ou melhor, ao governo, porque ao poder ainda não chegou. Este continua em mãos dos mesmos de sempre, que, pelo jeito, estão conseguindo enganá-lo, cooptá-lo ou convencê-lo de que o melhor é deixar as coisas como estavam. Não dá para entender, caro presidente, como o senhor permite que a equipe econômica mantenha os privilégios dos banqueiros sem pensar em taxar os obscenos lucros dos bancos.

Como nada se fez diante dos privilégios dos especuladores, que nem CPMF pagam. Como os seus ministros puderam levá-lo a fixar um salário mínimo de US$ 72 por mês, inferior ao de Paraguai, Equador, Bonga-Bonga e Songa-Monga. Como entender um funcionalismo durante sete anos sem aumento, receber 1% em nome da estabilidade financeira?

Mas tem mais. Sua equipe econômica aumentou os juros para 26,5% e permitiu que a gasolina aumentasse quatro vezes. As tarifas dos serviços públicos criminosamente privatizados elevam-se com o aumento do dólar, mas, se este cair, nada acontece. Impostos são reajustados muito mais do que a inflação, mas os salários, não.

Fala-se em reformar a previdência social pública pelo estabelecimento da contribuição obrigatória dos inativos, certamente para se aposentarem outra vez no céu ou no inferno. A moda parece ser de desonerar a produção para taxar o consumo, sem lembrar que a produção restringe-se a uns poucos e o consumo, a todos.

Argumenta sua equipe que tudo se faz para que o capital especulativo fique, aumentando nossas agruras. Basta ver os elogios recebidos. Para o FMI, é o maior presidente que o Brasil já teve. Para o Banco Mundial, um chefe de governo confiável.

Pense bem, presidente, o senhor aderiu. Pode ser que apenas por tática, para ganhar tempo, mas é bom não esquecer de que cada dia sem mudanças tornará mais difícil qualquer alteração. Estão todos, do lado de lá, festejando. Terá sido essa sua proposta de campanha? Os votos que recebeu vieram desse balaio? O Brasil terá saída no modelo neoliberal que nos levou ao fundo do poço?

A bursite dói, caro presidente. Mas dói muito mais verificar que o Brasil continua o mesmo. Ou um pouquinho pior, pela frustração verificada nos que votaram no senhor? Com todo o respeito, de um admirador que ainda não trocou a esperança pelo medo. No caso, medo de uma explosão dos diabos..."

14.4.03

Vocês podem não acreditar, mas este roqueiro empedernido aqui gosta de... Carpenters. Aluguei um DVD neste fim de semana e fiquei matando as saudades da cristalina voz de Karen Carpenter, e daquelas canções de amor que foram alguns dos hits pessoais de minha adolescência. Para a fossa, eu garanto, não há nada melhor. A versão deles para "Ticket to ride", dos Beatles (cuja introdução tocava em antiquíssimos anúncios do sabonete Lux -- você sabia?), é de fazer um pedregulho verter lágrimas.

Eu me lembro bem de onde estava quando Karen morreu, aos 32 anos, de anorexia nervosa, em 1983. Estava num barzinho da rua Moreira Cézar, em Icaraí, chamado Conversa Fiada, que não existe mais. Era um bar para namorar, todo à meia-luz, com um martini delicioso. E eu estava precisamente com uma namorada, e lembro-me de ter comentado que o rádio estava tocando muito Carpenters aquela noite, algo raro.

No dia seguinte, passei na casa de uma amiga e ouvi -- também no rádio -- que a cantora tinha morrido. Fiquei muito triste. E mais tarde peguei meus discos e ouvi novamente alguns dos clássicos da dupla.

E ainda hoje, muitas vezes, quando me sinto por baixo, lembro alguns versos cabais:

"Talking to mysefl and feeling old
Sometimes I'd like to quit
Nothing ever seems to fit
Hanging around
Nothing to do but frown
Rainy days and mondays always get me down"
(Rainy days and mondays)

"Oh it's a dirty old shame
when all you get from love is a love song.
It's gotcha layin' up nights
just waiting for the music to start.
It's such a dirty old shame
when you got to take the blame for a love song,
Because the best love songs
are written with a broken heart."
(All you get from love is a love song)

"The hardest thing I've ever done
is keep believing
there's someone in this crazy world for me
The way that people go
Through temporary lives
My chance could come
and I might never know"
(I need to be in love)




10.4.03

Depois de horas com você

Poderia beijar todo o seu corpo devagar
e ainda assim não me sentiria tão perto de sua alma
quanto na última noite;
o simples entrelaçar de dedos
o afago, o toque em meu braço
seu olhar inquieto como o de um passarinho
tudo enternece mais minha carapaça dourada
e cria nela doces rachaduras.

Poderia lhe dar mil e um prazeres
e ainda assim nenhum seria mais plangente
que o abraço apertado na despedida
e as palavras incertas sussurradas em meus ouvidos,
incompletas pela perturbação que causamos um ao outro.

Por isso, tão logo você adentrou minha vida
criei um labirinto secreto em meu peito
para que jamais encontre a saída.
Pronto, postei a peça sobre Wilde todinha. Como é longa, só mesmo imprimindo e lendo (quem tiver paciência, é claro ;-))
Peço desculpas pela ausência do blog nos últimos dias. Estive em SP e em outros lugares fazendo matérias.
THE WILDE GAME
by André Machado

ACT III (Last act)

SCENE
The stage is again in complete darkness. A Chopin nocturne begins to play exactly at the moment the face of the Gioconda is ilumminated by a lonely beam of sunlight. The painting is at the center of the stage and, although this is Paris, the famous smile captures our souls and leads us straight to Florence.
The room is empty but for the picture and the real Oscar Wilde in his last days, seen standing at right. He wears an old overcoat and holds a very modest cane. On the checkered floor, a much used suitcase. All this is revealed very slowly as the light spreads over the scene.
Wilde stares at the mysterious lady as if saying goodbye. He looks infinitely sad. One can feel his burden through the weariness of his movements. For obvious reasons, we will name him Sebastian Melmoth during this act.

MELMOTH
Alas, this is not the destiny for me. Who would say in 1882 that I would in the end fall in the hands of the Phillistines? It is sad enough. It is not a tragedy to be dead in the European world; tragedy is to be alive amongst the American world. The gods are thorough in their judgement.
Enter Wilde (L), running and breathing wildly; he slips on the floor and falls heavily close to the picture.
By Jove, what a hurry! (Offers his hand to the other) Monsieur, s’il vous plâit...
WILDE (taking it)
Merci. (To himself) This is surprising... I really had an accent when speaking French! (Rises) Well, thank you, Mr. Wilde. (The other is looking at him in amazement) Oh, don’t be afraid.
MELMOTH
Who are you?
WILDE
This is easy. I am you.
MELMOTH (smiling)
By the mere fact of existing you put away one of my best epigrams at the trials.
WILDE
Yes, yes, I know. "I never adored another man but myself". But by adoring me, you would not be far off, would you?
MELMOTH
Yes, I would. I’m not like you anymore. And it’s been a long time. Look at you! Whoever you are-
WILDE
I am you. It is true.
MELMOTH (as if he did not listen)
As I said, sir, whoever your are, you are at least a younger version of me. Your collar is quite white, as in the nineties. The pearl in your tie is just perfect. Apollo himself would not have touched it. The waved hair becomes your oblong face. And the manners, I have almost forgotten them, living amongst my tigers in Paris. Please leave; I can’t stand looking at your face; I feel like I am Narcissus-
WILDE
Yes, like an old and wrinkled Narcissus who, staring at his beloved pond, could only see his former beauty. It is intolerable, I concede. But at least you are alive, and I am dead.
MELMOTH
What on earth do you mean?
WILDE
It is hard to explain. I am you, Mr. Wilde, and I have been dead for many, many years now. But there seems to be some confusion about your destiny up there (points up to the ceiling).
MELMOTH
I don’t believe you, sir. Please mock at me no more. You have not the slightest idea of what I have been through here in Paris.
WILDE
But I do. I do. Remember when you left the barber shop that morning and an English fool said “that is Oscar Wilde, I won’t sit in his chair?”And the time you met old Will Rothenstein and he snubbed you thoroughly before repenting and allowing you to seat at his table? And how sad it was when Carson’s hansom covered you with mud! I know it all, my friend. Don’t "sir" me, please! I was there! I suffered with you. I wept at Constance’s tomb at Genoa until my very eyes seemed to be two opaque and blank screens. I sat with you at that gloomy park after Bosie left you under his customary shower of insults at Villa Giudice, Posilippo. I was there at Berneval-Sur-Mer when Robbie kissed you with that passion long yearned after the prison years... and then that stupid Sherard spoiled it all. I was with you when you embraced Sarah Bernhardt and loved her the most, deciding to forget how mean she was when you were at Reading. And I was there at the early hours of a May day in 1895 when you wept desperately, regretting that you’d not accepted Frank Harris’s offer to go away aboard his yacht! Oh, Oscar! I am your friend and your most dangerous enemy! I am you! Forgive my manners, but I have to reach you - and I can’t stand looking at me in such a forlorn state! I’m so sorry... so sorry... (leans against the wall, weeping uncontrollably)
MELMOTH
(Quite taken aback, but still holding his own) Who... who was my first lover?
WILDE (wiping his tears)
Harry Marillier.
MELMOTH
Whom did I fall in love with after Lady Windermere’s Fan first night?
WILDE
Edward Shelley.
MELMOTH
Who brought Bosie to my house for the first time?
WILDE
Lionel Johnson. Tite Street, 1891.
MELMOTH
All right, all right. How much does Frank Harris owe me now for my Mr & Mrs Daventry scenario?
WILDE (smiling)
£150. And you are very angry that he wrote the play because you sold that scenario to a number of other people. I remember well how ashamed I was to do this. But we were terribly hard up.
MELMOTH
Er... and what am I doing here today?
WILDE
That’s why I came. You are to depart to America and work for your old friend Mrs. Julia Ward Howe. But you are very afraid to do it, in spite of your wretched life in Paris.
MELMOTH
And what are you going to do about it?
WILDE
That’s a tough question. I suppose I will have to ask you not to go. But then-
MELMOTH
I simply can’t stay here anymore. Paris used to celebrate me. Now it only wants to regurgitate me. Quite a difference.
WILDE
Don’t you think I already know that? Believe me, heaven is worse.
MELMOTH
That’s the first reason why I cannot believe you.
WILDE
What reason?
MELMOTH
I am never going to heaven!
WILDE
Oh yes, you are. And you will regret every minute.
MELMOTH
Are you really me? Are you really dead? This is impossible. It must be the absynthe. Too much of it in the last four years...
WILDE
Want to test it? Just kill me. Here (takes a gun from the coat). Shoot me.
MELMOTH
I couldn’t do it.
WILDE
Dorian Gray did it, with a knife. Why can’t you?
MELMOTH
Killing you would be like killing myself after all.
WILDE
Well, you were always good at pretending. Imagine... let me see... yes, imagine I am George Moore. Or Collette. Or Dickens.
MELMOTH
Oh, I don’t hate Dickens that much, dear.
WILDE
That’s a consumated lie.
MELMOTH
How dare you-
WILDE
Now come on. You almost vomited when you read that awful Scrooge thing.
MELMOTH (face distorted by horror)
You are disgusting!
WILDE
Don’t be so shocked. It is the product of an eternity in heaven. My only consolation is the presence of the Sphinx. She is a real gift from the gods.
MELMOTH
The Sphinx! With you! No, that’s definitely unbelievable.
WILDE (handing him the gun again)
This is the only way you will believe me.
MELMOTH (taking it)
Well, then be it.
WILDE
Perhaps you’d prefer a knife? It is silent.
MELMOTH
It is not necessary, dear. The Parisians never take notice of anything. That is the charm of Paris. Whereas the English are always busy with the life of others. That was the charm of London-until it hit me in the face.
WILDE
There is nothing like the life of others when yours is mere existence.
MELMOTH
Existence is what happens to life after marriage.
WILDE
Yes: to exist is to adore one; to live is to adore many.
MELMOTH
I think adoring was dying instead.
WILDE
There is no such thing as to die from excess of love. Too much love leads to ennui; and nothing is healthier than ennui. Live like a pebble and you’ll be one century old.
MELMOTH
Yes, and capable to understand only one-tenth of that.
WILDE
Ah, you’ve not lost the old verve.
MELMOTH
Sure, but I don’t know that I got anything monotonous from Bosie. And I loved him in excess.
WILDE
We did not love him. We idolized him. That is quite another thing. In fact, you were never capable to love anyone but yourself. Even Constance you put on a shrine - until 1885 at least.
MELMOTH
Well, haven’t I written that love is a malady in "Dorian Gray"?
WILDE
Indeed. But you were the victim of another malady. Your were the victim of passion. And passion is obsession. In the end, it leaves one completely exhausted, and yet one cannot get rid of it. Didn’t the childish tantrums of Bosie tire you? I remember loathing them, but I couldn’t be away, just like a bug circling the beloved lamp and passing away in the process.
MELMOTH
I still don’t know where you came from, but if you did arrive from Paradise, I can already comment on another side effect from the place, wherever it is.
WILDE
What is it?
MELMOTH
Your metaphors. They are so crude I feel I am reading Mark Twain.
WILDE
I envy him. He went to Hell.
MELMOTH
No wonder, to judge from his writings.
WILDE
The twentieth century will bring authors much worse. And - alas! - you are going to be one of them if you don’t stay in Paris.
MELMOTH
First we have to perform that test. Please wait a moment...
(Shoots him. Nothing happens. Shoots again. Nothing happens.)
Wh-what are you? By Jove.... Am I already dead? I beg you to forgive me. What is going to happen to me?
WILDE (Shows him book produced from overcoat)
Take a look.
MELMOTH (Examines book. After a few momens, starts indignantly)
No! I am not going to write this! No, no, no!
WILDE
Believe me, you will if you leave Paris now. Look.
(Gestures to the back of the stage. Smoke rises from the floor and an image forms slowlsy into some celestial screen. It shows a very old and wrinkled Wilde drinking champagne at a Hollywood party at the 20’s, surrounded by youthful admirers and looking completely happy.)
That seems not bad at all. Not bad at all. But you will be just another frivolous screenwriter, and will fade with the 1920’s. The Great One doesn’t want such a future for you, although, of course, you can choose the other way around if you like.
MELMOTH
I guess the other way around is shame and disgrace to the end.
WILDE
It is immortality in the long run.
MELMOTH
Must my destiny be always tragic then?
WILDE
It was not always tragic and you know it. Robbie Ross will write in a few years that yours was, "if the last five years are ommitted, a very happy life".
MELMOTH
Then I will die soon if I stay.
WILDE
Yes. It’s your only consolation.
MELMOTH
Oh.
WILDE
I fear I must go now. I cannot insist that much, you know. It wouldn’t be ethical at all.
MELMOTH
I see. But don’t worry. I will stay. I won’t turn my tragedy into a comedy. Unless, of course, I myself could create the characters and surroundings. But surely enough, an American atmosphere would mar all the inspiration. (Smiles and embraces the other). Go in peace, my dear.
WILDE
Oh, don’t worry. Peace is all we got up there. (Laughs.)
MELMOTH
Wait! Let us have a drink first at the Café de La Paix.

(The light fades as they go away. A few moments later, the stage is illuminated again. The scene now shows Wilde on his deathbed at the Hotel d’Alsace, surrounded by Robbie Ross and Reginald Turner. It is the exact moment when he exhales his last breath. The two other men look at each other in pain and, after some time, leave the room. Enters then the Sphinx, beautifully dressed, and almost shining with joy. She takes Wilde’s hand and kisses it.
He opens his eyes and smiles as he has never smiled in five years. He sits up, then takes her hand, and pulls her to him, embracing the long-missed friend. After that, they move away very slowly and gracefully. The light fades; Schubert’s Symphony no. 4 completes the farewell.)

[END]
THE WILDE GAME
by André Machado

ACT II

SCENE
Heavy torrents of rain fall over Baker Street. It is the night of September, 28, 1900, and a cold wind sweeps all over London. The Victorian houses face the street menancingly as lightning turns their austere façades on. A tall, fat man with a black overcoat and top hat crosses hurriedly the street and halts at the door of number 221-B. He looks back for a moment, and one can see the black, vigorous beard and the pince-nez that adorn his face.
In response to his knocking, an old lady, dressed in full Victorian attire, opens the door. She has a tired face, but when she smiles, it lightens up and reveals the remains of long lost beauty. For a moment, however, the lady frowns and examines the stranger more than she usually does.

THE LADY
(Murmuring to herself) ...Upon my word, isn't he that... (Talking to her visitor) Good evening, sir. I'm Mrs. Hudson, and I own this place. May I be of any help? Perhaps the gentleman wants to see one of my apartments? In that case I shall recommend that you come mornings; the sunlight will give you-
THE MAN
Please. I apologize, madam. It is a little late, I concede... but I'm here to talk to Mr. Holmes. A matter of life and death, you see. Would you kindly announce that Mr. Sebastian Melmoth would be honoured to have a word with him and Dr. Watson?
MRS. HUDSON
In a moment, sir. (Exits.)
THE MAN
Oh, dear, how I missed this weather! The wind! The rain! The smell of gas from the lamps! The sound of British cabs, of British horses! Ave Imperatrix! Where are my friends now? Maybe at the Savoy, or at the Café Royal... maybe at Fitzroy Square, alas! O London of charms, O city of kings and tigers! At long last, I am back!
(As the words die, the stage falls in utter darkness. From the right corner a violin-completely out of tune- is then heard; when it silences, its owner's voice thunders and frightens the house.)
THE VOICE
Ah! Watson! Wasn't it splendid? Better than Paganini! What would Vivaldi say?
(Lights. They illuminate now the living-room of 221-B, Baker Street. The place is the perfect mirror of the description given by Conan Doyle in A Study In Red. . Right, stands Sherlock Holmes, holding a violin and the bow. Left, comfortably seated on an armchair, a cigar in his hand, is Dr. James Watson, clearly trying not to burst into outright laughter.)
WATSON
Well, Holmes, I certainly can't imagine what Vivaldi would say. But if the violin could speak, it would utter 'no more' and try to take its own life.
HOLMES (frowning)
Nonsense! My dear friend, you have been in the most strange mood these last few days. You used to love my music.
WATSON
That was when you paid the rent.
HOLMES
Good heavens! what bad temper! Hmm... let me see (takes a good look at his friend). No, she won't accept your proposal unless you go to Tintagel one more time. She is very hard-headed about your directly proposing to her at King Arthur's castle, and-yes, she completely fell for you, old chum!
WATSON (rising. His face is dominated by anger)
How dare you...! Reading my mail after all these years!
HOLMES
What mail? Do you really think me capable of wasting my time with silly love letters?
WATSON
But how come-
HOLMES
Now come. Look at your pocket. It contains not a handkerchief, but a worn-out piece of paper. First: the letters men usually read too much are from their beloved ones or from family, and as you have no relatives left... Second: you have been away for some days, and upon your return left some traces of mud on the carpet. I happened to examine them, and found some tiny fragments of leaves from plants-bushes that exist only in the moors. Third: I found on this very table a very interesting open copy of Mort D'Arthur. That edition, acquired recently if one shall judge from its almost untouched cover and pages, was issued at the beginning of this month at Tintagel during a well-publicized celebration of the Arthurian legends.
WATSON
But how do you know I proposed to her?
HOLMES
Why, you have been doing this to almost every fair lady that have come to me seeking help since we've been together. You have even disclosed it all to the public in The Sign of Four. Aren't you ashamed? (Watson blushes instantly). And it's obvious she refused at first. You were so nervous you burned your hand in the fireplace while reading that letter.
WATSON
And the castle?
HOLMES
It's the only romantic place in Tintagel. That is, if ruins are romantic at all.
WATSON
I suppose you discovered she is completely in love with me by examining some other clues at the microscope...
HOLMES
Indeed. A trace of lipstick in one of your shirts. Good-quality lipstick, I daresay. Not used by harlots.
WATSON
Holmes! Oh!...
HOLMES
What?
WATSON (keeping in control)
...You could not possibly know she is hard-headed.
HOLMES
Oh yes, she is. Miss Vera Stratford is one of the most stubborn ladies I have ever... met.
WATSON (completely taken aback)
Was she here?
HOLMES
No. We met by chance in the National Bank. I overheard her name. I saw dignity and strength during the little argument she had with the clerk. And she absolutely refused to talk to me when her purse fell and I helped to collect her things-including a charming photograph of yours. Besides, she has red hair. Have you ever seen a peaceful, easygoing woman with red hair?
WATSON
Never in my life. But that's what I adore most.
HOLMES
The hair or the personality?
WATSON
Both, my friend.
(At this moment a faint knock at the door is heard. Holmes opens it to Mrs. Hudson.)
MRS. HUDSON
Excuse me, Mr. Holmes, but there is a certain Mr. Melmoth at the door. He says he needs to talk to you at once. Shall I let the gentleman in?
HOLMES (frowning)
A very curious name indeed. Yes... kindly do it, Mrs. Hudson.
(She exits. Moments later, enters the man.)
THE MAN
Mr. Holmes, I presume? (Holmes nods. The man offers his hand). I wish to apologize for coming-
HOLMES (sitting down and leaving the other's hand alone)
Please leave this house now, sir.
WATSON (rising)
Holmes!
(The man bows his head, and puts his hand in the coat's pockets. He says nothing.)
HOLMES
Pray do it fast.
WATSON
How can you, Holmes! Treating the gentleman like an animal! (To the man) I beg your pardon, mr.-Melmoth, isn't it?
HOLMES
This, Watson, is no Mr. Melmoth. He is the infamous Oscar Wilde. No house in London will open its doors to him. How dare you come to me under this ridiculous false name! Sebastian Melmoth, from Melmoth The Wanderer, by Maturin! You are so disgusting!
WATSON
I still don't see what the point is. Didn't you deem all his trials deplorable? Did you not quarrel with some of your best friends in the Yard over this? Jesus, how many times you quotedThe Critic as an Artist to me!
HOLMES (letting go of the violin and bow quite abruptly, and taking his coat, gloves and hat. He speaks looking straight at Wilde.)
I am going out on some errands. When I get back, I expect to see you no more. (Exits.)
WATSON
How rude can he be sometimes! (Shaking Wilde's hand) It's an honour to have you here, Mr. Wilde. Please sit down. I have not recognized you with this beard and glasses.
WILDE (removing the beard and glasses)
That was what I expected your friend to do. Anyway I'm glad to get rid of these things. You know, Dr. Watson, Mr. Holmes has a far better reason for contempt than the sheer morality he tried to convey.
WATSON (offering him a cigar, which he accepts)
Is that so? In that case I confess I would love to hear it all.
WILDE
Well, remember the Marquess of Queensberry? Before deciding to sue him, I sent a message to Mr. Holmes. Upon my word of honour, I was absolutely straightforward about the situation. I never lied to Mr. Holmes as I did to my lawyers. I asked him to follow the marquis and maybe discover something irregular that would set me free from that horrid ape. Your friend did his utmost, and found Queensberry had some unfinished business with an unscrupulous fighter accused of trying to kill a very young lady who used to be the marquis' lover. In fact, Douglas was charged with the murder of the girl, but there was no proof, so the case was forgotten. But Holmes visited the crime scene (the girl's house, where, the marquis claimed, he had never entered) and later, when we met at the Albemarle Club, produced all the evidence we needed-a tiny fibre from Douglas' whip. "I found it on the very carpet where she lay dead", he pronounced triumphantly.
WATSON
And then...?
WILDE
(Sighing) And then I committed the greatest mistake of my life. I kissed him.
WATSON (in utter astonishment)
You kissed Holmes?
WILDE
Yes, I did. I was so excited I couldn't resist it. I embraced him and kissed him, murmuring, "Thank you, thank you..." And then came the worst. He began to shiver, and he responded to it-passionately. Oh, Dr. Watson, you must not crucify the man you are so devoted to: for he is one of us. He yearns for the love that dare not say its name, but has no courage to yield to it.
WATSON
(Standing absolutely still, eyes wide open in amazement) Lord God...
WILDE
And then he fled. And then he helped Queensberry win the first trial. And then he helped get me imprisoned. And my life was over.
WATSON
That can't be true, Mr. Wilde.
WILDE
It is, it is. That's why he can't even stand looking at a book of mine.
WATSON
If so, why did he defend you with such intense emotion afterwards? I was witness to that.
WILDE
How could I possibly know? Only the superficial know themselves.
(Enter Holmes, just in time to hear the last few words exchanged between Watson and Wilde. They don't notice the detective. He looks quite different from the adamant, tight-lipped man who left a couple of minutes ago. Wet, hazard-looking, he looks at the writer with a face overwhelmed with sorrow and shame. Hesitatingly standing by the door, Holmes at last gathers courage to respond.)
HOLMES
... And I'm certainly not one of them, right, Mr. Wilde?
WILDE and WATSON
Holmes!
WILDE (rising)
I suppose I must go now, doctor.
HOLMES
I beg you, wait a little longer. My conduct was unforgivable. (The other sits down in silence. The detective does the same.) Should I not help you in such a time of distress, I would not be worthy of any of my victories against evil.
WILDE
Well, I daresay the creatures you help to defeat are sometimes the perfect mirrors of our souls. Crime-the unpunished version-roams these wastelands since Genesis.
HOLMES (sitting down)
I see you haven’t lost your abilities as a charmeur, Mr. Wilde.
WILDE
That is a great compliment. For, you know, given the Phillistine conditions of life in paradise, I shouldn’t be able to utter a single word. Thank the gods for the Sphinx over there.
WATSON
I beg your pardon? Have you said... paradise? Are you telling us you’re dead?
WILDE (looking confused)
I speak metaphorically. I’m long dead for Britain, aren’t I?
WATSON
Oh.
HOLMES (smiling)
Then... there is life after death. I could never imagine that.
WILDE
Nor did I. And to call it ‘life’ would be like calling a chimpanzee Adonis.
WATSON
Well, Holmes, won’t you hear what our guest came here for?
HOLMES (blushing)
Of course. Mr. Wilde, if you please...
WILDE
I’ve come to find... an old friend. The situation is as follows...
(As he explains it all, Mozart’s Simphony No. 40 fills the stage. At length, Wilde draws his story to an end. The music then fades smoothly, and Holmes rises.)
HOLMES
Very well then. Please join me and Dr. Watson, sir. We are going to Paris.
(Complete darkness. When the lights return, the three men are in Wilde’s rooms at the Rue des Beaux-Arts, in Paris. Holmes is examining something on the mantelpiece)
WILDE (to himself)
Beloved Zeus, what a task hath thou given me! I shall fight for my soul and therefore I must die in this horrid place once again. Whereas my alter ego yearns for life-I can fully understand his reasons! How many more punishments must I endure? I ought to think of Robbie... Only Robbie would smile when I wouldn’t anymore, and he would say in that suave mocking tone: "It could be worse, dear. Remember this. You could have been sentenced to read George Moore’s books for the rest of eternity."
HOLMES
Yes! This is it!
WATSON
Has the man gone to America?
HOLMES
No, not yet. Mr. Wilde, you may find him right here in Paris.
WILDE
Where?
HOLMES
Well, by the state of the mantelpiece-
WATSON
Enough, Holmes! Just say it! Don’t you see the man is desperate?
HOLMES
I suppose I owe him. (To Wilde) He is at the Louvre.

END OF ACT II