29.2.08

Tem aqueles dias
em que você olha em torno
e enxerga o futuro de tudo:
os cacos do amor
brilhando perigosos nos terrenos baldios
as certezas esmagadas
como pequenos animais imprudentes na estrada
seus desejos dos anos vinte
reduzidos a ervas daninhas
e nenhum amigo sobrevivente
capaz de ouvir o lamento de sua alma.

20.2.08

For beauty, starv'd with her severity,
Cuts beauty off from all posterity.
She is too fair, too wise, wisely too fair,
To merit bliss by making me despair.
She hath forsworn to love, and in that vow
Do I live dead that live to tell it now.

(William Shakespeare, "Romeo and Juliet")

19.2.08

Cinza sobre as torres
e gotas de chuva no vidro escuro:
o mundo pronto para vestir
minha melancolia.
quem precisa de azuis?

18.2.08

A culpa é do poeta
contraditório
como o mar parado
que devora
o observador distraído;
a culpa é do homem
solitário
e ainda assim com pavor de solidão;
a culpa é minha
e todas as noites, agora,
serão a última noite
antes do cadafalso.
a noite em que não se dorme
a noite em que se examina cada detalhe do catre
a noite em que nem as sombras nos querem ouvir.

Oh, sim, haverá aquela manhã
em que sairei para o sol
e não haverá nada na sala
a não ser os velhos jornais
o copo vazio cheirando a cerveja
e os óculos sem rosto nenhum por trás.

Não haverá nenhum patíbulo
a não ser o erigido dentro do meu peito
por minha alma distorcida
e desfigurada.
Melhor desistir
e fechar os dutos
do sentimento;
melhor pousar
as colcheias
ao lado do espelho
no sótão;
melhor viajar
nas páginas amareladas
e chorar por capuletos
e montéquios.
tuas frases são perfeitas
a razão, pura e límpida;
mas este velho coração
sofrerá do mesmo jeito
-- lenta
e inexoravelmente.