30.8.02

Estou saindo de férias hoje, por isso este blog talvez fique um pouco paradinho nas próximas semanas. Volto dia 23 de setembro (mas se der blogo nos intervalos). Deixo este poema para vocês.

Nascimento

Para descansar, o Eterno escolheu
construir sua alma aos bocadinhos
no oitavo dia.

Ele acendeu um charuto
Preparou um licor
E começou a bordar você,
enquanto cantarolava para o Universo.

Quando ficou pronta,
Era tão perfeita
Que Ele ficou com pena
de mandá-la para cá.

"Mas como lembrar o Homem
de que é possível atingir algo superior
se não houver exemplos assim na Terra"?,
perguntou-Se.

Então decidiu inventar um ser
que para sempre oscilasse entre os dois mundos
que fosse doce, harmônico, delicado
-- mas que também pudesse causar dor,
de modo a mostrar a cota de sacrifício
necessária para chegar à verdadeira Beleza.

"Pronto!", exclamou o Espírito,
e com um gesto enviou-a ao Jardim
onde, na manhã seguinte,
Adão viu você pela primeira vez e chorou.

Nasceu assim a primeira rosa.

28.8.02

Hoje é dia de ChoppGol, em Vila Isabel. Eu, Hélcio e Marcos levando aquele som a partir das 20h!

27.8.02

"Eu vivo tão além do meu salário que podemos quase dizer que vivemos separados."

(E. E. Cummings)

25.8.02

Poema para A Blogueira dos Enta (ou: Quatro Tercetos Bem Simples sobre a Inexorabilidade do Tempo)

(com um beijo para a Su)

Em alguns meses chego aos enta
Aquela fase em que a gente tenta
Esquecer que aprendeu a fazer conta.

Mas enfrentarei o chamamento
Dos centuriões do Tempo
Dizendo a mim: é de pouca monta.

Bem no finzinho dos trinta e nove
só quero ainda estar "in love"
e não me esquecer da paixão.

Mas disto não existe perigo,
pois, vocês sabem, não consigo
Deixar sossegado o coração.
Na última quinta, batendo um papo no fim de noite com o baixista Juninho, gente fina, descobri que o homem já tocou com o Hermeto Pascoal. Isso é que é responsa. Ele também toca numa banda só de disco.
Aliás, na mesma noite o Hélcio tirou uma música do sarcófago: "Feelings", do Morris Albert. Caramba. Ao ouvi-lo cantar os primeiros versos, pensei: "Será que me lembro da segunda voz?". Lembrei. Mariana nos ouviu, entrou na terceira voz e o coro ficou uma coisa incrível. Eu nem podia acreditar no que ouvia ;-)))

24.8.02

Fiz uma boa maluquice: aproveitando a ótima idéia do Blogger.com.br de trabalhar também como servidor de fotos, criei o "Imagens do Cadafalso", para postar as que me derem na telha. Já botei algumas velhas da banda lá, bem como de alguns grupos que curto. Depois virão outras, ao sabor da vida.
O endereço é www.andremachado.tk.
Fragmentos de um original roído pelas traças -- II

OTÁVIO
Meu caro, no fundo todos fingem.

HENRIQUE
Eu não finjo.

OTÁVIO
Não minta para você mesmo. Se você, realmente, não encarasse a farsa da sociedade, seria um jovem misantropo carrancudo, e eu considero isto um desperdício. Mas não o é, e no fundo você sabe, tão bem quanto eu, que as únicas relações possíveis e reais dentro da sociedade são de dois tipos: as comerciais e as sexuais. Nada mais verdadeiro que uma prostituta.

HENRIQUE
(Olha para o outro, pensativo) Alguém como você é capaz de amar?

OTÁVIO
Sim, se estiver procurando a pessoa certa e jamais a encontrando.

HENRIQUE
Não entendi.

OTÁVIO
Eu explico. A inquietação é a palavra chave de todo ser humano, e não só de "alguém como eu", como você diz. Ou seja, se estamos inquietos, isto implica movimento. Você conhece aquela velha história de coração batendo à toda, suor frio nas mãos, tonturas, enjôos, e coisa e tal, não? Então! Meu amigo, isso é simplesmente impossível de se manter se você decide se unir a alguém, seja sob que pretexto for: amizade, namoro, casamento... Portanto, o amor deveria ser idealmente construído de primeiros momentos eternos. E é por isso que não se deve encontrar a pessoa certa -- embora a procura do amor deva ser tão ávida e voraz como se se procurasse a própria imortalidade. Mas todo e qualquer romance deve acabar antes do primeiro telefonema.

23.8.02

"Você não precisa deixar seu quarto. Permaneça sentado a sua escrivaninha e escute. Não precisa nem escutar, simplesmente espere, apenas aprenda a ficar quieto, e imóvel, e solitário.O mundo se oferecerá livremente a você para ser desmascarado. Ele não tem escolha; ele rolará em êxtase a seus pés."

(Franz Kafka)

22.8.02

Voltei!! Perdoem a ausência, eu estava enfurnado na Comdex-SP e na Borland Conference, ambas no Anhembi, em São Paulo, desde o começo da semana, sem tempo para relaxar e blogar. É bom estar de volta depois do agito.
Hoje tem show lá em Charitas, com a galera. Estou louco para pegar a guitarra!

16.8.02

Apesar do que diz o comment aí embaixo, eu não estarei tocando nesta quarta (21/8) em Vila Isabel, pois estarei viajando a trabalho. Na semana seguinte tudo volta ao normal.
Mas na quinta (22/8) vou tocar no ChoppGol de Charitas (Niterói) com a galera, a partir das 21h30.
Manuscrito encontrado num guardanapo extraviado sobre a areia suja da madrugada

"Felicidade, 16 de agosto de 2002

Querida Mariana,

Pensei não ser possível viajar no tempo, mas dez minutos a seu lado tiraram alguns séculos de minha alma. Livre deles, dancei a seu lado a noite inteira e, miraculosamente, um pouco de minha quase-meia-idade contagiou sua juventude resplandecente. Você riu e eu ri com você; cantou e eu cantei junto; ensaiou passos e lá estávamos nós, amigos da vida inteira sobre um palco qualquer, numa cidade qualquer, tocando qualquer nota e nos divertindo. Erga seu copo, brinde aqui: eu saúdo a alegria, a extroversão, a delícia improvisada, as noites de Dioniso para contrabalançar a seriedade incontornável do cotidiano!
No próximo dia de Júpiter, gritarei: "Evoé! Baby, apanhe o pandeiro e siga a guitarra! Está na hora da vida!"
Mas por hoje basta. Durma bem e leve um beijo meu.

Do vosso,

André"

14.8.02

Prisma

A alma do poeta é um prisma
onde sensações e angústias espalham sua paleta;
Alegria e dor se irmanam ao trespassar o ectoplasma
e surgem, sublimadas, nas palavras imperfeitas.


12.8.02

Começou ontem no Multishow o mês Elvis Presley, em que todos os domingos será exibido um show do Rei. Ontem foi o do Comeback Special, um show de 1968 para a TV com altos e baixos. As partes coreografadas são ruins, e vê-se que o homem está desconfortável no formato. Mas o pequeno "semi-acústico" que ele faz no meio da apresentação, acompanhado dos veteranos de seus primeiros discos Scotty Moore (guitarra) e D. J. Fontanta (batera, percussão), é puro blues, do fundo do coração e das tripas. Ali, descontraído, o Rei sacaneia a letra de "Love me Tender" ("with you my life is a wreck, no, complete"), o que arranca risos da platéia, e improvisa versos de "One night with you" suplicando por uma alça para poder ficar em pé com a guitarra.
Semana que vem será exibido na íntegra o Aloha from Hawaii, de 1973. Tenho o disco em casa. É um showzão, embora com excesso de metais e arranjos em alguns momentos. Aí já rolava a a fase mais "Vegas" do homem.

9.8.02

Você, ainda

Que saudade de olhar para você no parque
E afagar seus cabelos louros
e desfiar minha vida lentamente
como penélope desfazendo sua teia no umbral.

Que saudade de ouvir sua voz
(tornando cristalino o ar impregnado
do odor de jamelões moribundos)
e de abraçar sua alma.

É uma infelicidade
não poder fazer com o tempo
o que fazemos com os discos
-- ouvi-lo de trás para a frente.

Talvez então eu não fosse indeciso
e me surpreendesse a sussurrar "eu te amo"
no meio das folhas rodopiantes.
O show de quarta-feira no ChoppGol em Vila Isabel foi elétrico. Além das MPBs e baladas, estreei alguns efeitos na guitarra e fechei o set tocando e cantando a boa e velha "Johnny B. Goode", de Chuck Berry. Que delícia. Como escrevi a uma amiga, me senti vinte anos mais novo. Estiveram lá a Elisinha, a Tina, mestre Aroaldo Veneu, Fernandinha, Ariadne e Luiza. A night to remember ;-)))

Na quinta-feira que vem, o The Helcius Trio vai estrear no segundo andar do ChoppGol em Niterói (Charitas), com direito a palco, luzes e um espaço legal para quem quiser dançar. Estou realmente animado!

6.8.02

Dois trechos extraídos do Márcio Moreira Alves, semana passada:

I

"(...) Em dezembro de 1998, publiquei uma coluna comparando a equipe econômica de Fernando Henrique com a dos últimos anos de Porfírio Diaz no México, de 1883 a 1910. Chefiada por José Yves Limantour, seus membros eram chamados de los científicos. T.R. Fehrenbach, autor da clássica história do México, "A ferro e fogo", analisa essa equipe econômica. Escreve:

"Os homens que cercavam Limantour eram finamente educados, razoavelmente cultos, capazes e patrióticos. Não eram vendidos e nem todos eram cínicos. Representavam a continuidade da tradição do mundo hispânico: homens que procuravam manter a estabilidade enquanto refaziam um mundo intolerável. Pensavam que refaziam esse mundo racionalmente. Acreditavam que aplicavam ao México os princípios então dominantes nas ciências sociais. Buscavam construir uma nação ocidental moderna através do capitalismo e no início o capital só poderia ser estrangeiro. Os científicos eram, de certa forma, verdadeiros cientistas, porque ignoravam o fator humano. Não viam um perigo real nas paixões e frustrações da gente comum. Como elite, rejeitavam a idéia de que mudanças podem vir de baixo. Os científicos podiam ser patriotas, mas eram, sobretudo, pessoas sem raízes. A sua cultura e os seus ideais vinham do exterior, para onde mandavam seus filhos para serem educados".

No fim do período, os estrangeiros controlavam 80% da economia mexicana e milhões de índios haviam sido expulsos de suas terras. O resultado foi a Revolução Mexicana.

Se alguém conhecer comparação mais exata, estou aberto a sugestões." (2/8/2002)

II

"(...) Muitas vezes tenho repetido a lição evangélica de que é pelos frutos que se conhecem as árvores. É pelos frutos de sua ação que asseguro ser esta equipe econômica a mais incompetente que o Brasil já teve nos 113 anos de história republicana. O presidente Fernando Henrique, de quem teremos saudades por vários outros aspectos de seu governo, perdeu o seu lugar entre os bons presidentes do Brasil ao avalizar as políticas de seus economistas. E deixará uma herança terrível." (1/8/2002)

5.8.02

Pronto, fiz um anúncio dos shows do THE HELCIUS TRIO (Hélcio, voz/teclados; eu, guitarra/vocais; Marcos, batera) aí nos comments. Agora, o pessoal fica lembrado automaticamente ;-)
Desculpem o silêncio dos últimos dias. Quem Quem leu o caderninho de hoje sabe que eu estive bem ocupado ;-)) Mas esta semana vou blogar com mais calma, pois em princípio minha agenda está ordenada.
Então, para começarmos, aí vai um novo poema, saído agorinha mesmo do forno:

O bufão

Quando estás feliz me esqueces
e te aqueces com o sol generoso e sedutor;
quando estás amando, sou apenas aquele urso cheio de bolor
Que as meninas largam solitário na cabeceira ao sair correndo,
com as amigas,
em direção ao gramado recém-libertado da neve.

Eu sou teu homem das nuvens ameaçadoras
O pára-raios ao alcance do celular
os pneus antinevascas que calças nas rodas de teu pensamento
para frear as lágrimas traiçoeiras.

Nesses momentos me pergunto:
quando foi que minha paixão passou a ser apenas
a água tépida da banheira,
em que mergulhas mas sempre abandonas no fim?
Antes podia enxergar as labaredas que me consumiam
refletidas em tuas órbitas
antes podia cheirar a combinação de nossas essências
mesmo que nossos corpos jamais se tocassem.

Agora eis-me bibelô dos teus humores
com o qual brincas sem lançar um olhar.
Virei um bufão da espera; mas um bufão que ama, ainda assim
-- embora meu amor esteja, hoje, doente de ironia.