31.1.03

Estão na capa do "Daily Mirror" os verdadeiros motivos para o Bush atacar o Iraque:

""I [Shell] Not [Exxon]erate Saddam Hussein From Blame. I Will [Mobil]ise Our Troops and [Jet]s to [Q8] and the Persian [Gulf]. I Will [BP]repared for [Total] War. The Message Is [Amoco]ming To Kick Your Ass, Saddam."
"Abandonai as cavernas do ser. Vinde, o espírito se revigora fora do espírito. Já é hora de deixar vossas moradas.
Cedei ao Omni-Pensamento. O Maravilhoso está na raiz do espírito. Nós estamos dentro do espírito, no interior da cabeça. Idéias, lógica, ordem, Verdade (com V maiúscula), Razão: tudo isso oferecemos ao nada da morte. Cuidado com vossas lógicas, senhores, cuidado com vossas lógicas; não imaginais até onde pode nos levar nosso ódio à lógica."


(Antonin Artaud, "Carta aberta")

30.1.03

Está no Globo de hoje:

"EUA planejam fabricar foguetes nucleares
Robert Matthews
Do Daily Telegraph

LONDRES. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, está prestes a anunciar um projeto que havia sido considerado inaceitável mesmo nos anos da Guerra Fria: o uso de energia nuclear para mover foguetes espaciais."


O mal existe. Não adianta entrar nessa de que mesmo as pessoas más são no fundo boas, etc, etc, etc. Papo furado. O mal existe, e se o noticiário anda tão deprimente nos últimos tempos -- guerra iminente, falta de tolerância geral, assassinatos brutais com requintes de sadismo -- é porque ele está na moda. Aliás, está na moda já faz um tempinho. E é impressionante observar como algumas pessoas são inconscientemente perversas -- é como se a coisa estivesse entranhada nelas, como se fosse um simples hábito. Há muitos anos, ouvi de um conhecido que ele tinha raiva de mim porque eu era, basicamente, uma pessoa boa. Fiquei estarrecido -- e, na verdade, estou até hoje -- ao compreender que ele achava natural ser um filho da puta de vez em quando. É simplesmente escroto demais.

29.1.03

Debate

-- Adoro arte de vanguarda.
-- Tudo bem, mas você entende?
-- Não é questão de entender, é de interpretar.
-- Eu acho que a gente só interpreta algo que foi capaz de, em alguma medida pelo menos, entender.
-- Não é isso... A vanguarda mexe com o caldeirão cultural, é importante.
-- Tudo bem. Mas não precisa fazer isso com o dinheiro do contribuinte.
-- Por que não?
-- Existe algo mais incompatível que vanguarda e governo?
-- Você é um reacionário mesmo.
-- Por quê? Só porque gosto de ver coisas com começo, meio e fim?
-- Os teóricos do teatro alternativo, por exemplo, mexem com idéias, cara, não estão aí para estruturas carcomidas.
-- Não se irrite. Eu até gosto dos textos deles. Pelo menos o que escrevem eu entendo. Já o que encenam...
-- O público tem que participar mais, tem que haver mais interação com o palco.
-- O teatro não é a internet. Na internet é que tem que haver essa interação nivelada. Aliás, a internet é que é de vanguarda. Esse negócio de reinventar a roda no teatro cansa, você não acha?
-- Você precisa ficar mais aberto a experiências.
-- Pode ser, mas que experiências? Existem experiências e experiências, se é que você me entende.
-- Não entendo.
-- Não considero ofender o público, fazê-lo ir para o palco pagar mico e matá-lo de vergonha, por exemplo, uma "experiência".
-- Se dependesse de você, nosso sistema ainda seria geocêntrico.
-- Não exagere.
-- Ah, chegamos. Vamos ver o quê? "Cidade dos Sonhos" ou "2001"?
Pausa.
-- Olha... que tal um jantar naquele restaurante francês? Você come um prato exótico e eu, um filé...


Estive ontem em São Paulo para uma reportagem. Choveu o dia inteiro sem parar. Pelo menos escapei dos piores horários do trânsito e cheguei por volta das sete no Rio. O avião estava cheio de turistas russos, que à medida que descíamos e surgiam o Corcovado e o Pão de Açúcar emoldurando a baía ficavam alvoroçadíssimos e colavam os narizes nas janelas, apontando as belezas cariocas entre exclamações de admiração. É. Apesar da sujeira, da corrupção, da pobreza e da violência, o Rio de Janeiro continua a ser lindo. Mesmo num final de tarde sem graça e nublado como o de ontem.

27.1.03

Olhos tatuados

A Solidão passou
e tatuou meus olhos;
nunca mais me recuperei.

Eu te amei a noite toda
mas o frio volta depois, no escuro,
quando minhas órbitas captam o vazio.
Então caminho pelo corredor
e nos velhos retratos
identifico o desespero
de todas as expressões.

Quem me arrancará este véu?
Quem aspergirá de volta a fé?
A pequena labareda lambe o papel do cigarro
-- ah, como eu desejaria ser consumido assim
pelo fogo branco da Iluminação.

26.1.03

Alvíssaras! Alessandra Archer deu o ar da graça em seu blog, que andava paradinho, e deixou um post enorme por lá, em que, entre outras coisas, confessa que não vive sem rabiscar palavras: "Vivi dias da mais cruel abstinência expressiva, donde concluí: não existe outro lugar, não mesmo, onde eu queira estar que não seja próximo de escrever. É só assim que eu consigo sentir o mundo sorrindo para mim, é só assim que consigo fazer algo que gosto, é só assim que encontro sentido nas coisas, é só assim que posso questionar a chuva que inunda e aceitá-la (...)".

Este Guardião, leitor fiel da Arqueira, não podia estar mais feliz com seu retorno. Vai até retardar algumas execuções ;-))

24.1.03

"Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ... "

(Florbela Espanca, "A flor do sonho")
Pessoal, isto é realmente imperdível. E altamente viciante.

23.1.03

Foi toda a vida um homem só.
Achou que a morte lhe faria companhia.
Vestiu um sorriso para a hora da partida,
mas a bainha ficou curta
e viajou com um esgar.

22.1.03

Vi "Minority Report", o sci-fi noir do Spielberg, outro dia. Embora meio previsível, o filme é interessante no quesito possíveis tecnologias futuras. Em especial no momento em que o personagem de Tom Cruise entra num shopping e vários anúncios holográficos, identificando-o pela íris, lhe oferecem produtos diversos. Uma mistura de "cookies" de websites com spam em tempo real. Aquilo, sim, é um futuro realmente assustador... ;-))

17.1.03

Terei um feriado devagar, moçada. O dinheiro acabou e fiquei a ver navios nesse janeiro escaldante. Vou passar sábado, domingo e segunda cantarolando "Cadillac dreams", do Gene Simmons:

I want money, money, that's what I need,
I got Cadillac dreams, please mister don'tcha take it from me
Give me money, money, more than I need,
I got Cadillac dreams waitin' on me...


16.1.03

Excelente chope ontem no Lamas com uma turma animada: Leonardo Pimentel, Cristina Azevedo, Martha Lavenère, Felipe Dias, Jaqueline Barbosa Ramos, minha "personal agent" Ariadne Guimarães e Mônica Arantes. Martha e Pimentel, sempre predispostos a uma boa gozação, estavam com a corda toda e, com a ajuda de Ariadne, as risadas foram constantes. Nada como quebrar a rotina no meio da semana. ;-)

14.1.03

Vi Robert De Niro em dois bons filmes recentemente: a comédia "Showtime" e o policial (está mais para "ladroicial") "A cartada final". No primeiro, ele é um policial rabugento que, após ter uma operação de estouro de ponto de drogas esculhambada pelo colega Eddie Murphy, é obrigado a fazer um "reality show" para a TV local e ganha o próprio Murphy como parceiro na telinha. O contraste entre os dois é hilariante, e o programa não poderia sair mais ridículo. No segundo filme, De Niro é um ladrão de classe, veterano, que é convidado pelo receptador Marlon Brando a dar seu último golpe, junto com Edward Norton. Em jogo, quatro milhões de dólares. Lembra "Ocean's eleven", mas só com dois ladrões ;-).

* * * * *

Mudando totalmente de assunto: vocês viram essa história da família querendo se vender no Ebay? Se a moda pega... Conheço gente que adoraria leiloar a própria família a preço de fábrica...

13.1.03

Amizade ardente

Hoje nosso amor
é como um labirinto obscuro,
cercado de falsos tabus
por todos os lados.

Mas, em meus sonhos,
eu o desejo mais simples,
se espreguiçando na manhã
e passeando sem destino à beira d'água.

Nós fazemos planos demais;
você passa sempre o corretor em mim
-- embora não seja perfeita --
e pensa nos Outros, justamente
aqueles que não existem
quando entrelaçamos as mãos.

Ah! solte os cabelos
e seja curiosa, como antes.
Lembre como tudo começou
-- lembre nossa amizade ardente --
e ore pelo instante, não pela eternidade.

9.1.03

Tia Cora Rónai estreou hoje sua coluna no Segundo Caderno. E estreou com um de meus temas favoritos, livrarias, em especial a Leonardo da Vinci, que amo de paixão como ela. Eis um trecho inspirado da coluna.

"É bom para a alma passear entre as estantes, devagar, observando outras pessoas que fazem a mesma coisa: bípedes calmos flutuando numa bolha de cordial e educada civilidade, felizes por constatarem que ainda há espaço para uma certa área cinzenta da anatomia humana que não se retoca com lipo ou com silicone."

Amém.

8.1.03

O amor, depois

Descobri ser possível
domar as feras da paixão
mas não as razões do amor.
Elas permanecem, com seu sorriso fleumático
(e às vezes troceiro)
no quarto de badulaques da memória.

Por isso, toda vez que te olho,
a linha de comando "ainda te adoro"
navega sub-reptícia
pelos neurotransmissores levados da breca.

Aí chega a srta. Séria,
censora molecular, psicorgânica
e, com um gesto definitivo,
encerra a brincadeira do desejo.

Mas, minha cara, ela nada pode contra um poema.
E eis-em aqui, livre de refluxos,
olhando teus lindos ombros
e tentando derreter tua tristeza com frivolidades,
mas dizendo com minhas órbitas
"jamais vou deixar de amar-te."

6.1.03

Vou dizer: uma das coisas mais irritantes da TV por assinatura é você acompanhar um seriado e, no meio dos feriados de fim de ano, só encontrar reprises ou a programação totalmente modificada sem aviso. É um desrespeito ao assinante. Isso não acontece nas novelas da TV aberta e jamais deveria acontecer no caso de canais que você paga para assistir.

3.1.03

Passagem

Nada de crises de consciência.
Nada de resoluções.
Nada de cores, nem simpatias.
Só a tépida água azul
e teu corpo em doces refrações
aniquilando as tropas da culpa
com a boca.

2.1.03

Estou de volta. Hoje vão aqui umas poucas linhas, que estou de trabalho até o pescoço, como sói acontecer depois de qualquer descanso prolongado. Mas basta dizer que o natal foi calmo, só eu e Wal curtindo filmes em casa, e a passagem de ano foi numa festa relativamente íntima, bem longe de fogos de artifício e multidões. Um começo de ano gostoso e sem pressa, como deve ser. Espero que todos tenham curtido muito.
Logo, logo, novos versos vão aparecer por aqui.