10.12.08

Chega o dia
em que se vão as musas
e os versos
se recolhem para o inverno;
o poeta
observa mudo
mais um ano passar
e queima suas mil
declarações de amor
feitas para o éter.

Néscio é o coração
que espera flores de volta;
quem liga para a devoção
nessa aldeia eletrônica de egos?

O poeta dorme e se deixa congelar.

17.11.08

Só se fala na crise econômica, mas a verdade é que a economia mundial está numa crise de criatividade há décadas. É uma vergonha. E os gurus que apostaram no papelório hoje se desculpam, mas menos ricos não ficam. Miseráveis, é o que são.

31.10.08

Estou de volta das férias que tirei este mês. Tive uma grande alegria esta semana ao dar uma canja no show de meu velho parceiro Hélcio Luiz, que lançou um DVD no qual reviveu muitas das músicas que compus para nossa antiga banda, o Estrada Fróes. Cantei com ele uma canção que escrevi em 1980, "Loucura geral", e foi um momento bem animado. Eu não cantava a música há uns vinte anos, mas ainda me lembro da letra.

Minha filha Jessica filmou o evento, mas o som ficou muito impreciso na câmera dela. Vou tentar obter umas fotos do vídeo e postar aqui, depois.

3.10.08

Time to rock and roll. And rest.

21.9.08

Eu transbordo
o tempo inteiro;
entrego minha própria cabeça
na salva de prata
e deixo que faças
com ela
o que quiseres
como fez Salomé
com Iokanaan.

18.9.08

Seja doce comigo;
estou doente do coração.
Repousa nele a grande solidão dos poetas
daquele tipo que acontece mesmo
num maracanã lotado.

Não use palavras:
só me abrace
e ajeite meus cabelos.
Minhas mágicas acabaram
e aqui estou eu, diante de você,
sem fichas.

Entenderei se for o adeus.

16.9.08

Não se reconheceu no espelho
na oitava manhã:
estava ali, em seu lugar,
um velho casmurro
e ressentido.
Lembrou-se das palavras da mulher:
"você voltará muitas vezes ainda",
que sempre lhe tinham soado como maldição.

Em algum ponto da estrada assombrada
perdera o mapa e, orgulhoso,
não quis pedir informação.
Deu no que deu:
aquela cara no vidro polido
espreitando
meio que rindo
da própria desventura.

11.9.08

Mais uma foto do show da semana passada. Clique nela para ver o álbum todo no Picasa.

5.9.08





Algumas fotos do show de ontem, que eu, Antonio e Jessica fizemos no Galeto 183, perto do jornal. Foi uma noite divertida. A parte final do show, em que tocamos músicas do novo CD, foi bem animada. Os cliques são do Carlos Alberto Teixeira.

24.8.08

Foram apenas cem dias
mas então éramos invencíveis;
foi a única vez
em que o perfume do poder
me visitou
e só então compreendi
a audácia dos conquistadores.

E era tudo por ti:
tua alegria, teus planos,
tua sede de vidas.
Foi tudo por terra;
de algum modo eu me reconstruí;
mas ainda me sinto
metade de mim.

13.8.08


Mandando brasa em mais uma faixa do novo CD, ontem. E esquentando as turbinas para uma apresentação que deve rolar no mês que vem.

6.8.08

Estou tão quieto hoje
que ouço o fantasma atrás do guarda-roupa;
ele ri
enquanto joga cartas com a rainha Ana.
Penso de novo em sua magia terrível
e se um dia serei livre;
acho que não.

Mulher, você aprendeu pela metade
suas artes;
Soube agrilhoar-me
mas perdeu o contra-feitiço.

Oh, eu sei o que você dirá:
"é tudo da sua cabeça"
mas não.
eu a amo com um desespero
que jamais me visitou antes;
estou perdido
como Ricardo III
descendo Bosworth Field
em sua última investida.

mas nem esse último ato feroz
sou capaz de cometer:
calo, o rosto fervendo,
e ouço o riso
do fantasma atrás do guarda-roupa.
É bem verdade que na fase roqueira em que me encontro (sem falar no trabalho jornalístico) deixei meus Cadafalsos solitários em frias madrugadas; vou me esforçar para vir aqui mais vezes. É que meus poemas e contos são resultado de um estado de reflexão que é quase o inverso do processo musical.

Mas não posso perder a oportunidade musical, compreendam: neste momento, para mim, a música é como a amante que eu julgava perdida e retornou depois de mais de duas décadas de paradeiro ignorado. Eu estou fazendo tudo para agradar a essa Musa esquiva. Morro de medo de que ela vá embora de novo.

26.7.08

Estava devendo este post há algum tempo: meu segundo CD já está em franco avanço. Já gravei cinco músicas, com uma produção muito interessante de meu parceiro Antônio Corrêa. Todas são composições novas, e estou entusiasmado com os resultados. Minha filha Jessica, depois de tanto tempo cantando em corais, está encarregada dos backing vocals, o que me permite exercitar meu lado pai coruja, é claro.

25.7.08

Seu silêncio é o regente
da sinfonia do desamor
e da vitória da parede
sobre a janela.

Quando meu amor bate sobre tais rochedos
ele reconhece o fim do mundo
e se deita, nada mais havendo a costurar.

19.7.08

The Commitments - Midnight Hour

Para relembrar o maravilhoso filme de Alan Parker, que me fez chorar em várias cenas (lembrei-me de minha dura vida de músico amador nos anos 80). A cantora morena é a atriz Maria Doyle Kennedy, que está linda no filme e também arrasou como Catarina de Aragão na série "The Tudors".

Filmes sobre músicos e bandas sempre me emocionam, não tem jeito.

7.7.08

Para onde foste, Romance,
tu que deixaste meu mundo em perpétuo desfolhar?
Onde é teu esconderijo?
Descansas por acaso no leito da Aventura, ela mesma enfastiada?
Eu só encontro olhares inseguros e temerosos
por entre a neve suja do mundo sem ti;
ninguém capaz de rasgar o tecido do conforto
e dizer 'agora!' ao convite para mergulhar.

O sexo está em todas as esquinas
mas as almas permanecem enclausuradas
e ai daquele que se entrega:
é o pária da vez neste baile de máscaras apolíneas.

14.6.08

Pura adrenalina roqueira

Rory Gallagher em grande forma, levando a inesquecível Shin Kicker!

30.5.08

The End

Acabou uma fase importante da minha vida. Deixem Jim Morrison cantar sobre o fim.

6.5.08

A love song for Kathryn Mayfair

Never has love at first sight
really happened to me
until I saw you step out of that car;
never has a smile
built so high a fire
never have vivacious eyes
made me so insanely happy.

Alas, we may never meet
But for once I saw the face of Beauty
and I´m not sad anymore.
Você me entristece
ao pôr de lado meu amor
como um prato indesejado;
ao recusar a alegria
e preferir o desterro.

Você classifica o meu amor
como se ele fosse um animal exótico;
mas afetos não têm taxonomia
nem organograma.
Meu amor é como o mar,
ora furioso,
ora contemplativo;
ora encapelado,
ora um espelho;
capaz de beijar ilhas
e continentes.

É um pecado não espalhar esse amor
e represá-lo me torna presa de angústia;
de que me adianta a bela alvorada
se não posso mirar o sol no fundo de seus olhos?

Você me entristece
e faz abissal o meu tombo;
pois esta velha alma de cruzado
enxergou em você o graal da profecia.

30.4.08

De Woody Allen, hoje, na "Folha":

"Sempre senti que a vida é uma confusão muito grande. Tenho uma visão sombria e pessimista da vida e da fé do homem, da condição humana. Mas acho que há alguns oásis extremamente divertidos no meio dessa miragem. Há momentos de prazer e momentos que são divertidos, mas, basicamente, a vida é trágica."

24.4.08

às vezes sinto
que cá dentro
não há órgãos
só labaredas
é como um auto-da-fé interior
que nunca acaba.
Num post mais abaixo, eu comentei que começara a gravação de meu segundo CD. Infelizmente, ela está emperrada, por uma série de motivos. Minha frustração é enorme, mas estou buscando alternativas. A música é como o ar para mim, agora que ela retornou depois de um longo silêncio interior.

Tenho estado tão frustrado que ontem sonhei que estava tocando num show com Eric Clapton. O sonho deveria ter me deixado alegre, mas foi tenso, na verdade. Bom, pelo menos sonhei alto. ;-)

23.4.08

Meu último desejo
será derrubar tua cidadela
e ver a estação próspera
fincar-se na terra antes estéril.
Estas letras são meus guerreiros
estas frases, meu aríete
esta dor, meu grito de guerra.
Não vou desistir de ti
porque teus olhos
são meu país natal.
É solitário aqui
sem os seus sonhos por perto
sem seus planos
sem sua voz intensa, seus olhos brilhantes;
é para você que escrevo, mulher singular.

O mundo passa a marcha e joga sua lama de costume
mas na mesa gasta a ele não mais pertencemos;
somos um com as estrelas tristes
com o beijo tiritante das utopias
com o Agora.

Ali não sou eu no espelho
-- você tudo muda ao erguer
a pálpebra
o vento
minha alma dormente.

Por isso é solitário aqui
sem minha pitonisa particular.
Subo as escadas
trêmulo;
Ver-te-ei?
minha alma é
como uma guitarra
palhetada com violência
por keith richards
-- só que a melodia
é tocada na fumaça do teu cigarro.

Tenho saudades abissais
todos os dias
mas não te encontro em minha
lista de mensagens
repleta de missivas ao vento
de estranhos.

Por que sou assim?
Por que espero com ânsia
um abraço inteiro que nunca vem?
Amaldiçoados sejam
os delegados de convenções
que borram o poder amar
e nos enchem de estultices.

Quando deveria ser sempre
o que aquele guitarrista hebreu do Queens
cantou, vestido para matar:
I´m in love
And I feel so good
´Cause I need her
And I tell her so.

22.4.08

Ontem foi o aniversário do meu prezado Carlos Brito. Nada como um dia de cerveja, conversas e reencontro de amigos que não se vêem há tempos. Foi uma das melhores festas a que já fui. E é uma pena que essa turma se encontre tão raramente; nesse mundo de trabalho em excesso e prazer de menos, estar com os amigos é fundamental e não pode ser negligenciado.
Não é todo dia que conhecemos pessoas de quem podemos esperar a verdade, sempre, ainda que doída. Este privilégio me foi concedido recentemente, e mexeu um bocado com a minha cabeça. O resultado é uma grande inspiração que revoluteia pela minha cabeça como partículas quânticas em incrível velocidade. Nem tudo o que penso se transforma em alguma coisa -- música ou poema --; mas meu cérebro está sempre cheio de coisas que quero (preciso) dizer a essa pessoa. Oxalá esse estado não me abandone, embora seja febril e tenda a me exaurir.

30.3.08

Às vezes eu penso que seria melhor ser um pessimista. O pessimista não espera nada da vida, nem dos outros. Quebra bem menos a cara. Eu, volta e meia, fico decepcionado com as pessoas, porque costumo gostar delas e vê-las sob uma ótica esperançosa.

Hoje estou realmente entristecido, porque fui tratado com frieza e absoluta falta de consideração por pessoas que até agora admirava e respeitava. Naturalmente, vou sobreviver; a gente sempre sobrevive. Mas sobrevive com mais alguns graus na escala do cinismo.

27.3.08

Whitesnake - Burn

Esta versão de Whitesnake de "Burn" (do Deep Purple) em 2004, em Londres (com um pedacinho de "Stormbringer" no meio) é muito boa.

18.3.08

Comecei hoje a gravar meu segundo CD. Serão nove rocks e duas power ballads desta vez. Uma delas abriu a sessão de gravação. Tem um clima meio progressivo. Trabalhamos com violões, baixo e batera digital, fazendo a base da música. Na próxima sessão, vão entrar as vozes.

2.3.08

Tell me why
Love is like
A ball and chain.

(Janis Joplin, "Ball and chain")

O orador foi eletrizante
embora trágico.
Por uma hora ele
a levou à presença de Apolo.
E sua mente se afiou como nunca.

Então veio o menestrel
e em três minutos
cascatas minúsculas
dançaram sobre a terra lisa
de sua face.

Dioniso riu, lá em cima,
e abraçou Orfeu.
A morte pode ser gentil
como um uma brisa
diante do Pão de Açúcar
na travessia de tantos anos.

Pressinto que, quando ela chegar,
nada haverá de manto obscuro e foice.
haverá um lead perfeito
sem gorduras
e um sorriso.
ó Musas, não abandonem
o velho roqueiro
que jaz na penumbra
em silêncio
sonhando com o próximo
acorde.

ó amadas de todos os tempos
fiquem aqui mais
uns minutinhos
e me abracem
e me beijem
e me perdoem
esse impulso sem controle
de amar o mundo
de querer
derrubar as fortalezas de pedra negra
em torno dos corações.

29.2.08

Tem aqueles dias
em que você olha em torno
e enxerga o futuro de tudo:
os cacos do amor
brilhando perigosos nos terrenos baldios
as certezas esmagadas
como pequenos animais imprudentes na estrada
seus desejos dos anos vinte
reduzidos a ervas daninhas
e nenhum amigo sobrevivente
capaz de ouvir o lamento de sua alma.

20.2.08

For beauty, starv'd with her severity,
Cuts beauty off from all posterity.
She is too fair, too wise, wisely too fair,
To merit bliss by making me despair.
She hath forsworn to love, and in that vow
Do I live dead that live to tell it now.

(William Shakespeare, "Romeo and Juliet")

19.2.08

Cinza sobre as torres
e gotas de chuva no vidro escuro:
o mundo pronto para vestir
minha melancolia.
quem precisa de azuis?

18.2.08

A culpa é do poeta
contraditório
como o mar parado
que devora
o observador distraído;
a culpa é do homem
solitário
e ainda assim com pavor de solidão;
a culpa é minha
e todas as noites, agora,
serão a última noite
antes do cadafalso.
a noite em que não se dorme
a noite em que se examina cada detalhe do catre
a noite em que nem as sombras nos querem ouvir.

Oh, sim, haverá aquela manhã
em que sairei para o sol
e não haverá nada na sala
a não ser os velhos jornais
o copo vazio cheirando a cerveja
e os óculos sem rosto nenhum por trás.

Não haverá nenhum patíbulo
a não ser o erigido dentro do meu peito
por minha alma distorcida
e desfigurada.
Melhor desistir
e fechar os dutos
do sentimento;
melhor pousar
as colcheias
ao lado do espelho
no sótão;
melhor viajar
nas páginas amareladas
e chorar por capuletos
e montéquios.
tuas frases são perfeitas
a razão, pura e límpida;
mas este velho coração
sofrerá do mesmo jeito
-- lenta
e inexoravelmente.

15.1.08


Moçada, eis o MySpace do meu CD "Andremachadorock". Ele tem seis das 10 faixas do disco disponíveis para quem ainda não ouviu. O endereço: