14.12.02

Poema para a Catedral de Santo Estêvão
(Viena, 1995)


Eu que faltei à primeira comunhão,
e preferi um Deus mais companheiro e mal vestido
com quem prosear (quase) todas as noites,
tremi diante do Poder gótico
ao penetrar em ti no século passado.

Longilínea e sombria
Envolveste minhas pupilas
no bolor de oitocentos anos
e pude ouvir o clang-clang
dos cavaleiros se ajoelhando, enlameados,
em preces nalgum gélido alvorecer.

No caminho ascendente para o púlpito,
lagartos, sapos e cães pétreos em ricos símbolos;
nos flancos do altar,
gigantescas tumbas das ambições dos homens;
nos bancos, o povo, apressado, persignando-se
desprezando tal naco de Idade Média
encravado nos dentes do tempo.

Ali, minha espontaneidade e despojamento tremeram
e compreendi que um dia houvera um outro Deus
que punha a humanidade em seu devido lugar.
Ah, e ele ainda preferia se refugiar ali
a vagar pelas horrrendas construções espelhadas do futuro
em que o homem só mira a si mesmo.

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