4.4.06

A coluna de Martha Medeiros no último domingo é um tiro certeiro. As vezes em que mais sofri em minha vida foi quando decidi abrir meus sentimentos, sem firulas, para quem eu gostava. E descobri, como ela bem aponta, que as pessoas não gostam de ouvir o que sentimos. Abrir o coração é considerado coisa de fracos. Muitas vezes fui gozado por amigos por causa disso; muitas vezes mulheres que amei me legaram seu silêncio (e não há nada mais terrível do que o silêncio da pessoa amada, especialmente quando ele é acompanhado de táticas para evitar você).

Há pessoas muito esclarecidas que dizem não gostar de "jogar" no amor, mas que diante de um sentimento aberto jogam como se nunca tivessem feito outra coisa na vida. Não há nada mais entristecedor.

O problema é que quando dizemos "eu te amo" queremos ser amados em resposta automaticamente, ficamos aflitos e perdemos o controle; é como se as palavaras fossem uma conjuração, um feitiço, uma fórmula mágica. É preciso ser capaz de amar sem cobrar, e deixar que o outro busque sua felicidade (ou seu prazer, diria Wilde) da melhor maneira. Quando você abre seu coração e não recebe resposta, se sente automaticamente desprezado -- mas também pode ser que o outro não tenha segurado a onda do sentimento e prefira, simplesmente, a fuga. Em todo caso, se dissemos tudo, é porque achávamos que a pessoa amada seguraria essa onda -- e corresponderia. Quando o retorno não vem, só resta agüentar a mais terrível sensação de solidão que há.

Apesar de todos os murros em ponta de faca, eu não me tornei um ser ressentido. Pelo menos acho que não. Não sei viver sem deixar minha alma se expressar livremente.

E sempre tenho a poesia, que é minha verdadeira amiga e amante. Ela não fica em silêncio, ela conversa comigo -- e é um bálsamo mesmo quando suas palavras se mostram cruéis.

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