25.8.09

Fim de mês: totalmente concentrado no trabalho, sem muita inspiração para a música ou a poesia. Ainda assim, pego o violão e toco algumas músicas, fechado no quarto. Saudades do tempo em que tinha uma banda fixa e vivia com a mente povoada de acordes e ideias. Por outro lado, desfiar as músicas sozinho também é bom: sem ninguém para impor limites.

16.7.09

Placa exibida por sem-teto nas ruas próximas à Union Square, em San Francisco, na semana passada: "Funds needed for alcohol research". ("Solicitados fundos para pesquisa com álcool").

5.7.09

Eu tenho diploma de jornalista, estudei com orgulho na Escola de Comunicação da UFRJ, e este foi um período definidor para minha vida. Jamais vou esquecer aqueles anos, que foram de aprendizado em todos os sentidos. Mas, por outro lado, reconheço que a voragem da internet e das novas mídias está mexendo demais com a nossa profissão e, talvez, outros diplomas e outras formações sejam bem-vindos. Trabalhei (e trabalho) com muita gente boa que não tem formação de jornalista, e no entanto serve de inspiração a muitos colegas.

Sobre a defesa do diploma jornalístico, uma boa leitura é este texto que Jotabê Medeiros postou em seu blog:

Eu não seria jornalista se não tivesse feito o curso de jornalismo.
Digo isso por vários motivos: eu era famélico, vinha da periferia, não tinha pistolão, e o curso ajudou a definir minha vocação. E só consegui aquele emprego de jornalista porque havia uma vaga para “jornalista formado ou no último ano da faculdade de jornalismo”. Passei nos testes, passando a perna em alguns concorrentes.

Concorrência, entenderam? Expressão-chave da livre iniciativa.

Provavelmente, a empresa que me contratou precisava cumprir aquela cota para não ter encheção de saco do sindicato. “Pega um desses coitados aí das faculdades de jornalismo, paga o piso e tá limpo”. Tenho a impressão que esse mecanismo, apesar de rústico, garantiu durante alguns anos alguma diversidade na composição social, política e humana das redações.

Vocês hão de concordar comigo: é dureza redação na qual todo mundo pensa com a cabeça do dono – ou redação na qual todos os textos parecem escritos por uma única pessoa. E na qual todos parecem vir da mesma região da cidade, e frequentam os mesmos restaurantes, e que acham que o duty free shop do aeroporto é a mais cintilante fronteira.

Se quisessem alguém sem o curso de jornalismo, não havia, como nunca houve, impedimento. Bastava procurar entre os profissionais indicados pelo staff da casa – sobrinhos, filhos, cunhados, concubinas – ou então filhos de juízes, ex-ministros amigos, empreiteiros ou anunciantes de peso. Esse tipo de mimo intramuros sempre foi largamente praticado na imprensa menos profissional, mas a porta de entrada para as redações era minimamente aberta também para o lúmpen proletariado. Temo que isso tenha acabado.

Alguns bons amigos consideravam a obrigatoriedade uma besteira. Até comemoraram o final dela. São três amigos, nenhum deles fez jornalismo. São ótimos jornalistas, nasceram para o negócio. Mas conheço também péssimos jornalistas que fizeram Ciências Sociais ou Direito. Pimenta Neves era bacharel em Direito desde 1973. Os partidários do "com diploma" e do "sem diploma" vão acrescentar exemplos de ambos os lados ad nauseum, mas não é esse o ponto. A questão aqui não é de como abastecer o mercado, é mais ampla.

Dizem que não sai jornalista pronto da faculdade de jornalismo. Nunca ouvi falar que o lendário dr. Zerbini saiu médico pronto e notável da faculdade de medicina. O enfrentamento diário com os temas e as dificuldades da profissão é que é fundamental para fazer o profissional. Além de estratégias de aperfeiçoamento contínuo, de cursos, palestras, simpósios e cursos de além graduação.

Considero que há diversas questões atravessadas na discussão sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão. Boa parte dos colegas prefere o clichê: os cursos são ruins, não garantem qualidade, os garotos que saem de lá “não sabem escrever”. Para que melhorar seu nível, se podemos simplesmente extinguir sua “origem”, a obrigatoriedade? Curioso como profissionais de Direito, especialmente aqueles que fizeram o curso na mesma cátedra dos donos de jornal, facilmente acham emprego nas redações, apesar de as faculdades de direito terem um índice de reprovação próximo de 90% no exame da Ordem dos Advogados.

Como o Jânio de Freitas, eu considero uma aberração que tenham levado o tema, de dimensão social, para os domínios do Supremo Tribunal Federal. Nunca foi questão para arbítrio de seis ou sete iluminados da Suprema Corte, mas para a casa da representação popular, o Congresso. Por um motivo simples: o jornalismo tem impacto sobre a vida cotidiana de toda a sociedade, portanto deve ser objeto de atenção do legislativo.

O jornalismo que vem sendo praticado desde a instituição da exigência do diploma foi daninho para a democracia? Não creio. Foi a exigência de diploma que calcificou de alguma forma o jornalismo atual? Não creio.

Não estou aqui defendendo o meu peixe, porque nem tenho peixe. Nem sou sindicalizado, tenho certa alergia aos ritos dos movimentos sociais (aos ritos, não aos movimentos). Tampouco estou me jactando que tenha me tornado um profissional indispensável, um prodígio do jornalismo. Longe disso. Mas, se aprendi a fazer a coisa com cuidado, critério, e sempre muito entusiasmo, devo muito ao curso de jornalismo.

O que aprendi lá? Bom, o curso de jornalismo me empurrou para a discussão das circunstâncias do jornalismo – como ele nasce, como ele resiste, como ele morre às vezes. O curso – e o debate livre dentro dele – me mostrou que o jornalismo pode encobrir interesses diversos, e é importante desbaratá-los (e jamais se confundir com esses interesses).

O curso desafiava a gente a buscar a liberdade, o novo, a experimentar, a forçar os cadeados das regras. Claro, um estudante de Letras também pode ser desafiado da mesma forma, mas com qual objetivo?

A questão central do jornalismo, para mim, é a independência. A escolha central que o ofício de jornalista coloca para o profissional é a seguinte: você está com os poderosos ou com os oprimidos? E, já que o poder é migratório, se movimenta e assume diversas formas, é preciso astúcia mínima: com quem está o poder agora?

Como vêem, não é só uma questão de escrever bem ou ter estilo.

15.6.09

Despertou
tonto
e com frio na alma;
tudo de novo.
A vagareza das coisas
se apossou de seus movimentos
e as faces dos objetos
perderam a cor.

É segunda-feira
e o Recomeçar espera
sorrindo maldosamente.

7.6.09

você quase não sabia quem era
e repetia que nada tinha a ver com isso
não lembrou o nome de sua porquinha-da-índia
e desfiou o pranto do não-quero-ir
minha alma estava no chão contigo
e meus braços mal se moviam, como os seus
o passo lento era o descompasso na minha aorta
e as paredes brancas geladas, a apoteose da razão puta.

a fragilidade enlouquece.

falta açúcar
falta açúcar
falta açúcar
falta açúcar

falta preparo para as Fronteiras.

16.5.09

Outro dia reencontrei na internet "A song for you", dos Carpenters, que há muito não ouvia. Tenho voltado a ela, e toda vez sinto arrepios com a voz de Karen. Que tristeza ela ter ido embora aos 32 anos; com toda a certeza o Espírito foi egoísta e quis que sua voz soasse a Seu lado por toda a eternidade.

Aqui embaixo, pelo menos, temos as gravações para lembrar.

20.4.09

Já viajei muito mundo afora para eventos de tecnologia. Quando sobra algum tempo livre, procuro dar uma olhada na cidade onde estou, aspirar um pouco de sua vida e cultura, sentir que estou inserido no mundo, perceber que existem à nossa volta outros pontos de vista, outras formas de lidar com a existência. Elas podem estar nas pessoas e também nas obras que elas construíram, nos prédios em volta, nas praças, nas ruas, nos meios de transporte... E até no próprio clima, tão diverso e caprichoso em lugares por vezes tão próximos.

Sou do tempo em que o Fernando Sabino tinha uma coluna no GLOBO e, como viajava muito, volta e meia relatava suas peripécias e impressões dos lugares onde se encontrava. As crônicas do escritor mineiro me faziam viajar com ele, assim como qualquer bom livro. E, quando comecei a viajar mais amiúde, mercê de minha profissão, as câmeras fotográficas digitais ainda não estavam difundidas. As pessoas tinham tempo de parar, olhar e refletir sobre o que estavam observando.

Tenho um perfil um pouco diferente de meus colegas que escrevem sobre tecnologia. Alguns deles, quando têm uma folga das entrevistas e sessões comuns em nossa lida cotidiana, aproveitam para sair em direção aos bairros que abrigam lojas de informática, para obter o último modelo deste ou daquele gadget. Já eu prefiro os lugares históricos, gosto de mergulhar na cultura de um país, por mais exíguo que seja o intervalo. Ainda hoje me lembro de minha visita à catedral de Santo Estêvão, em Viena, Áustria, uma das construções em estilo gótico mais importantes da Europa. A igreja é sombria e sua nave é altíssima; tumbas de fundadores de dinastias de imperadores austríacos ladeiam o altar; e há um púlpito maravilhosamente esculpido, com animais como sapos, cobras e outros no corrimão das escadas, representando os maus pensamentos que o padre poderia ter antes de subir e fazer seu sermão. No alto, dois cães evitam que esses maus pensamentos tomem o púlpito, garantindo ao pároco seu devido estado de contemplação espiritual. A igreja começou a ser construída em 1137 e tem uma torre de 136 metros.

Cito tudo isso de memória; não tirei uma fotografia sequer do lugar. E olhem que minha viagem foi em 1995. Por que relembro tudo isso? Porque hoje, se por um lado as pessoas ainda têm tempo de parar e observar as coisas a sua volta, elas preferem desperdiçar esse tempo fotografando freneticamente tudo o que as cerca. A possibilidade de fazer dezenas, quiçá centenas de fotos num curto período -- e fotos de alta qualidade, dado o salto constante nos megapixels das câmeras digitais -- parece ter enlouquecido as pessoas, que andam com uma sanha de registrar lembranças de tudo com suas máquinas de última geração.

Mas será que registram mesmo? As câmeras, com certeza, registram; já os cérebros...bem, tenho minhas dúvidas. Você já conheceu alguém que acaba de ler um livro e, questionado sobre seu enredo, não sabe responder bem como é a história? Pois bem, me parece que a ânsia fotográfica dos viajantes lhes está roubando o prazer de deixar o ambiente adentrar seus pensamentos, de refletir sobre ele, de fazer comparações. (Por exemplo, no caso da catedral vienense, eu fiquei pensando em como o astral era diferente do nosso conhecido barroco brasileiro, tão bem representado em Minas e na Bahia, e no quanto isso tinha a ver com as mentalidades dos países.) É desse impacto estritamente pessoal e intransferível que uma lembrança, uma legítima memória, é feita. Não do clique-clique-clique incessante que enquadra uma realidade passível de ser muito mais ampla. Na verdade, a fotografia cria uma outra realidade no momento em que tocamos o disparador. Não é a mesma coisa estar num lugar e estar numa foto do lugar; são duas situações bem distintas. Além do mais, o enquadramento recorta da imagem ângulos que nossos pensamentos e emoções, se deixados soltos, poderiam examinar melhor.

Walter Benjamin, filósofo alemão que refletiu, nos anos 30, sobre a indústria cultural, dizia que a fotografia jamais teria a aura de uma pintura, que eterniza um único momento e é única, daí a idéia de autenticidade que permeia toda obra de arte. Da mesma forma, a reprodução fotográfica de um momento único numa viagem não é a mesma coisa que este momento único.

Será esta a razão por que nossa memória parece falhar mais hoje em dia do que antigamente? Tanta informação disponível parece livrar-nos da necessidade de guardar ou decorar alguma coisa, ainda que gostemos muito dela. Da mesma forma, tantas imagens parecem livrar-nos da necessidade de experimentar uma recordação genuína, vivenciada diretamente por nossos olhos, por nosso corpo, e não com o visor da câmera como intermediário. Ele jamais pode tomar o lugar de nossas retinas.

Vejam bem, não estou criticando os amantes da fotografia, até porque trabalho com alguns muito dedicados. Mas quem realmente ama a fotografia também ama o real que o cerca -- contempla-o e percebe-o muito bem antes de tentar enquadrá-lo. Não é o caso do viajante incidental, que quer fotografar o máximo e contemplar o mínimo. Acredito que é preciso rever esse tipo de relação dependente da tecnologia -- e talvez isso possa valer para outros exemplos, como o do telefone celular, que, embora necessário, é muito usado em ligações banais e sem qualquer propósito. (Qualquer um que já ouviu um ser mal-educado atendendo um celular no cinema ou no teatro há de concordar comigo.)

A beleza da tecnologia é ser uma extensão de nós, uma senhora ferramenta. Não se pode perder isso de vista. Sem dúvida a vida digital pode ser maravilhosa. Eu posso testemunhar. Tenho amigas que só conheço por e-mail, e trocamos cartas em que muito de nossas vidas é desfiado. Mas sou igualmente sortudo a ponto de ter "puxado" outras para a vida real -- e, embora nos falemos por e-mail também, nada substitui um almoço ao vivo e a possibilidade de tocar suas mãos para expressar a grande alegria de conviver com alguém muito estimado.

(Publicado originalmente no Fórum PCs)

18.3.09

Quando a gente se sente sozinho e as coisas não vão bem, não há nada melhor do que um livro que nos transporte a outra realidade e aqueça a alma.

3.2.09

Casamento não é para amadores. De repente, no meio da madrugada, você pode descobrir o quão miserável tornou a vida de quem acreditava amar. E se senta na cama, murmurando para si mesmo, horrorizado.

* * *

A propósito, o melhor filme sobre a falência de um casamento é "Foi apenas um sonho" ("Revolutionary Road"), com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. É de sair do cinema completamente arrasado.

Se, em "Beleza americana", o diretor Sam Mendes jogava com o humor em meio à tragédia, neste aqui quase não há espaço para o riso. Tudo é pesado, angustiante, tenso. E o personagem de Michael Shannon, um sujeito com problemas psiquiátricos, é quem descobre e fala a verdade, sempre. Como na frase "Vazio sem esperança. Agora você disse tudo. Muita gente sente o vazio, mas é preciso ter colhões para para ver a falta de esperança."

* * *

O inferno da vida a dois está nos detalhes. Mas o filme mostra como esses detalhes refletem a montanha de frustrações individuais que envenenam um relacionamento. É terrível e, pior, é real.

A questão é, quando você vive só, pode passar sua vida inteira sem perceber toda essa complexidade embutida nos seus mínimos gestos; viver com alguém é dar a cara a tapa, porque essa pessoa (a não ser que seja uma completa egocêntrica) vai desnudar todos os podres de sua alma, sem piedade. Com sorte, a gente se casa com alguém que fala e bota para fora os sapos com alguma regularidade; pode ser salutar. O ruim é se casar com quem fica engolindo sapos por anos e depois regurgita tudo em cima de você. Aí o tombo é sério e paralisante.

2.1.09

Moçada, um feliz ano novo para todos.

10.12.08

Chega o dia
em que se vão as musas
e os versos
se recolhem para o inverno;
o poeta
observa mudo
mais um ano passar
e queima suas mil
declarações de amor
feitas para o éter.

Néscio é o coração
que espera flores de volta;
quem liga para a devoção
nessa aldeia eletrônica de egos?

O poeta dorme e se deixa congelar.

17.11.08

Só se fala na crise econômica, mas a verdade é que a economia mundial está numa crise de criatividade há décadas. É uma vergonha. E os gurus que apostaram no papelório hoje se desculpam, mas menos ricos não ficam. Miseráveis, é o que são.

31.10.08

Estou de volta das férias que tirei este mês. Tive uma grande alegria esta semana ao dar uma canja no show de meu velho parceiro Hélcio Luiz, que lançou um DVD no qual reviveu muitas das músicas que compus para nossa antiga banda, o Estrada Fróes. Cantei com ele uma canção que escrevi em 1980, "Loucura geral", e foi um momento bem animado. Eu não cantava a música há uns vinte anos, mas ainda me lembro da letra.

Minha filha Jessica filmou o evento, mas o som ficou muito impreciso na câmera dela. Vou tentar obter umas fotos do vídeo e postar aqui, depois.

3.10.08

Time to rock and roll. And rest.

21.9.08

Eu transbordo
o tempo inteiro;
entrego minha própria cabeça
na salva de prata
e deixo que faças
com ela
o que quiseres
como fez Salomé
com Iokanaan.

18.9.08

Seja doce comigo;
estou doente do coração.
Repousa nele a grande solidão dos poetas
daquele tipo que acontece mesmo
num maracanã lotado.

Não use palavras:
só me abrace
e ajeite meus cabelos.
Minhas mágicas acabaram
e aqui estou eu, diante de você,
sem fichas.

Entenderei se for o adeus.

16.9.08

Não se reconheceu no espelho
na oitava manhã:
estava ali, em seu lugar,
um velho casmurro
e ressentido.
Lembrou-se das palavras da mulher:
"você voltará muitas vezes ainda",
que sempre lhe tinham soado como maldição.

Em algum ponto da estrada assombrada
perdera o mapa e, orgulhoso,
não quis pedir informação.
Deu no que deu:
aquela cara no vidro polido
espreitando
meio que rindo
da própria desventura.

11.9.08

Mais uma foto do show da semana passada. Clique nela para ver o álbum todo no Picasa.

5.9.08





Algumas fotos do show de ontem, que eu, Antonio e Jessica fizemos no Galeto 183, perto do jornal. Foi uma noite divertida. A parte final do show, em que tocamos músicas do novo CD, foi bem animada. Os cliques são do Carlos Alberto Teixeira.

24.8.08

Foram apenas cem dias
mas então éramos invencíveis;
foi a única vez
em que o perfume do poder
me visitou
e só então compreendi
a audácia dos conquistadores.

E era tudo por ti:
tua alegria, teus planos,
tua sede de vidas.
Foi tudo por terra;
de algum modo eu me reconstruí;
mas ainda me sinto
metade de mim.