24.10.03

Peço licença para republicar um poema aqui. É sobre como a gente se sente ao perder um amigo, especialmente quando a culpa é nossa.

Perder amigos

Perder amigos
É como perder um documento de identidade
Do qual não existe segunda via;
É a nossa foto que está ali,
Sulcada com microinstantes de prazer e dor
-- E ninguém sabe onde está o negativo ou como revelá-lo.
Em nossa assinatura se escondem gotículas de sangue e paixão,
E na filiação está escrito Esperança e Lealdade em ouro
Ou talvez ouro de tolo.
Perder amigos é perder uma fatia de alma esburacada
Pelos dias que roem nossas convicções.
Dize-me quantos amigos perdeste
E eu te direi o quanto envelheceste.

21.10.03




É com muito orgulho que vou contar isto a vocês: este guardião do Cadafalso foi o segundo lugar no concurso de narrativas curtas Haroldo Maranhão, organizado pela Meg. E isto entre mais de 300 inscritos. Não podia desejar maior honra e estou muito feliz e agradecido. O texto agraciado foi o Miniconto do desconforto número 5, que rebatizei de "A decisão" para a competição. Eis o texto:


"A nevasca seguia virulenta lá fora; dentro, o troar dos aplausos era inesgotável, irreprimível. Chamado ao palco, os gritos de "O autor! O autor!" transformando-o num títere gigante, postou-se no proscênio, como fizera nos últimos anos, impecavelmente elegante na capa Inverness e tirando da cigarreira dourada um dos incontáveis cigarros que o acompanhavam após os jantares no Savoy.

Ao dar a primeira tragada, viu na quarta fileira a Desgraça aplaudindo de pé, num longo vestido negro adornado por um único rubi cor de sangue. Naquela noite, decidiu: deixaria a vida de dissipação e recolher-se-ia num mosteiro, onde escreveria suas melhores obras, frutos da reflexão de que tanto precisava.

Mas a manhã surgiu magnífica, sem uma nuvem no céu, e lhe trouxe agradável companhia. Sentia-se novo, e saiu para passear em seu cabriolé de plantão. Anos depois, na prisão, falido, recordaria: fora a Beleza que o lançara ao abismo."

17.10.03

Lembrete: amanhã no Armazém do Rio, no Cais do Porto, o lançamento do site/revista Paralelos, projeto nota mil do querido Augusto Sales. A partir das 17 horas. Todos lá!
A prece pagã de Robert Wilde

A vida é avara para um coração
de código-fonte aberto.
O fantasma de Scrooge
é o único que aparece
para os objetos da paixão desenfreada
e lhes dá conselhos vis
de separação
de cartas-punhais
de poupança resplendente
em vez de entrega.

Eis-me sozinho, ó Afrodite:
para que me seduzes das alturas
se no fim sou sempre cuspido
como um caroço amargo?


Estive neste pedacinho de éden, onde funciona um pólo de tecnologia no estado do Rio. Fica aqui.
Serviu para me fazer voltar a cantar, mentalmente: "a vida é bela/só nos resta viver".

14.10.03

Eleanor of Aquitaine: What would you have me do? Give out? Give up? Give in?
Henry II, King of England: Give me a little peace.
Eleanor of Aquitaine: A little? Why so modest? How about eternal peace? Now there's a thought.

(Katharine Hepburn e Peter O'Toole, como Eleonora de Aquitânia e seu marido Henrique II da Inglaterra, em "O leão no inverno")

Often, on returning home from one of those mysterious and prolonged absences that gave rise to such strange conjecture among those who were his friends, or thought that they were so, he himself would creep upstairs to the locked room, open the door with the key that never left him now, and stand, with a mirror, in front of the portrait that Basil Hallward had painted of him, looking now at the evil and aging face on the canvas, and now at the fair young face that laughed back at him from the polished glass.

Oscar Wilde, "The picture of Dorian Gray"

13.10.03

Èstou tão triste hoje que não consigo nem mesmo escrever um poema.

9.10.03

Às vezes uma viagem de trabalho pode ser um oportuno distanciamento dos problemas cotidianos. Em especial se você pode chegar na noite anterior à missão propriamente dita e descansar um pouco num hotel. A gente fica um pouco com a gente mesmo e experimenta a essência dos dois lados da solidão: aquele em que, digamos, se saboreia sozinho um jantar, parando para filosofar em silêncio entre uma garfada e outra, ou para explorar os arredores desconhecidos num passeio sem destino. E aquele em que sentamos na cama, controle remoto na mão, e nos damos conta de como, no fundo, os quartos de hotel são todos iguais; de como a televisão pode ser aquele abismo amorfo que nos olha de volta; de como fazem falta as trapalhadas de sua família na periferia daquele filme denso a que você quer assistir apenas para entrar em contato com suas emoções perdidas no tempo.
Então, liga-se para casa, meio que tentando esconder a própria aflição, e ouve-se do outro lado da linha a voz da filha entre risadas e traquinagens -- o som da despreocupação absoluta. E pronto, estamos salvos.

7.10.03

Dias 16, 17, 18 e 19 de outubro vai rolar no Armazém do Rio o evento "Primavera dos Livros", com palestras, rodas de leitura, shows e estandes de várias editores. Quem curte literatura deve ficar ligado. No dia 18, sábado, às 19h, pretendo dar um pulo até lá para prestigiar minhas queridas Alessandra Archer e Crib Tanaka, que estarão lendo alguns trechos de seus escritos. E de repente vou ler algumas coisas minhas também ;-). Mestre Augusto Sales, o homem do Falaê!, também estará no programa, falando sobre e-zines e blogs, no mesmo dia, às 17h30. Ele está montando a revista/site "Paralelos", que vai reunir alguns dos antigos colaboradores do Falaê!.

3.10.03



Eu com Tia Cora, que prestigiou os coleguinhas no Prêmio Imprensa Embratel. A festa foi muito divertida.

Foto by Nokia 7650 da Miss Monteiro.

2.10.03

Quero dançar com você a noite toda, de preferência com o Gustavo restabelecido e cuidando das carrapetas com aquele repertório de guitarras divinas; quero olhar nos seus olhos, pousar sua mão em meu peito e esquecer todas as obrigações, as rotinas estereotipadas e a vida à la Pasteur que nos foi dado viver. Não quero lhe dizer uma palavra além destas linhas, apenas beijar seu pescoço e seus ombros em transe e descansar em seu regaço no fim da longa noite de lua nova.
Reconheça, pelo menos esta noite, que nossas almas foram prometidas no Gênesis. E entregue-se ao júbilo.

30.9.03

Eras a imagem do abandono
no palco vazio de histerias.
Ali tua vida floresceu, ejaculou
-- e depois desmaterializou-se.
Mas tua casca não se libertou
das festas, das orgias
do vinho em chafarizes
rubros e dourados
e ela ficou ali, divagando,
até o rsvp para o outro lado.

29.9.03

No debate sobre o uso ou não do Exército para combater o crime nas ruas do Rio, os que são contra imaginam os militares como um "último recurso". Sinceramente, já passou da hora do último recurso. Além do mais, quando é que a gente vai reconhecer que está vivendo uma forma de guerra? Pois se a população anda amedrontada... Meus pais chegaram ao extremo de não sair mais à noite para nada. E olha que moram em Niterói, onde a violência ainda não atingiu o patamar do Rio.
É preciso dar uma resposta rápida à audácia do crime organizado. E acho que o Exército tem um papel aí, sim. Aliás, por falar nisso, acho um absurdo o sucateamento a que as Forças Armadas vêm sendo submetidas desde o governo anterior.
Ontem, depois do plantão, fiquei esperando um tempo a chuva passar no estacionamento do trabalho, olhando as casas, os prédios e o silêncio só cortado pela água impiedosa. A tristeza também foi me encharcando aos poucos.

Deu vontade de estar com uma guitarra na mão, para tocar um blues.

26.9.03

A palestra de ontem no Rio Design Barra correu bem. Fiz uma introdução ao tema do software livre, explicando seus conceitos e sua história, e em seguida Marcos Tadeu, ajudado pelo analista de sistemas Bruno Collovini, explorou a parte mais técnica do sistema GNU-Linux. A platéia respondeu, fazendo todo tipo de pergunta, algumas bastante específicas. O debate foi muito interessante, porque a velha questão Windows versus Linux foi abordada por espectadores usuários de um e de outro, que intercambiaram argumentos diversos para cada lado. Encerramos com um sorteio de broches do Tux, o pingüim-símbolo do Linux, e depois houve uma animada confraternização no Sushi Barra, restaurante japonês no shopping e centro comercial Downtown, que se estendeu até uma da madruga.

Na foto abaixo, tirada pelo Bruno, eu e Marcos nos extremos do palco e em primeiro plano a Elisinha, que gentilmente me ajudou a distribuir os números do sorteio.

25.9.03

Moçada, é hoje o papo sobre software livre e segurança que farei lá no Rio Design Barra (Av. das Américas, 7777, Barra) junto com o expert Marcos Tadeu von Lutzow Vidal.

Espero vocês lá, a partir das 20h!

23.9.03


(reprodução do site oficial do GNU/Linux)

Tá lá na Cora, então reproduzo aqui:

"Vida Digital

Essa semana, é a vez do André Machado: nosso intrépido repórter e o engenheiro Marcos Tadeu Vidal, professor de engenharia de telecomunicações e diretor da consultoria de segurança em TI V2R, vão falar sobre software livre e segurança no próximo encontro no Rio Design Barra. Quinta-feira, dia 25, às 20hs."

19.9.03

Renovando a campanha!

18.9.03

O presidente quer botar mais dinheiro em circulação no país diminuindo a conta-gotas os juros e autorizando empréstimos no contracheque.

Fala sério.

Qualquer empréstimo é por definição encalacrante. Acreditem, eu falo por experiência própria.

Por que o governo não demonstra que pensa um pouco nos trabalhadores e estuda para valer uma política salarial, ao invés de largar a gente na chamada "livre negociação"? (Livre só para os donos da $$$, é claro.) Com um salário decente, a gente volta a ser consumidor de verdade e não fica pondo a mesa de casa igualmente a conta-gotas, esticando o ordenado defasado há quinhentos anos.

Dá uma raiva danada ver que nada, absolutamente nada mudou este ano. Nem parece que vai mudar.

Quando foi a última vez que vocês gastaram um dinheirinho sossegados, sem pensar nas conseqüências? No meu caso, isso foi no governo Sarney.

Minha paciência está acabando.

17.9.03

De Arnaldo Jabor, ontem, sublime:

Isso: felicidade e medo, a sensação de tocar por instantes um mistério sempre movente, como um fotograma que pára por um instante e logo se move na continuação do filme. Sempre senti isso em cada visão de mulheres que amei: um rosto se erguendo da areia da praia, uma mulher fingindo não me ver, mas vendo-me de costas num escritório do Rio... São momentos em que a “máquina da vida” parece se explicar, como se fosse uma lembrança do futuro, como se eu me lembrasse ali do que iria viver.

Esses frêmitos de amor acontecem quando o “eu” cessa, por brevíssimos instantes, e deixamos o outro ser o que é em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de “compaixão” pelo nosso próprio desamparo, entrevisto no outro.


15.9.03

Just need some plain rock'n'roll today.

12.9.03

Niver de Mr. Balbio hoje. Vai ter festa. E o fim de semana vai começar... Só amanhã tem uns três agitos para ir. Isso é que é sábado ;-)
Dia de correria e fechamento hoje no caderninho. A correria foi maior do que a habitual porque Mr. Balbio, Elis e eu fomos fotografados e filmados para a final do V Prêmio de Imprensa Embratel, ao qual concorrermos com um especial sobre telefonia móvel que fizemos em 2002.
Elis e eu também cortamos um dobrado esta semana porque aproveitamos para nos atualizar e fizemos o curso de mestre Laércio Vasconcelos para montagem de micros de última geração. Elisinha e eu desmontamos e montamos do zero um micro que funcionou direitinho, na prova final. Já dá para ajeitar a placa de som de lá de casa ;-))
E é claro que saímos de lá com altas idéias para pautas... Imagine se dois curiosos como nós não iam pensar em mil textos possíveis.

9.9.03

"The first and most important rule to observe...is to use our entire forces with the utmost energy. The second rule is to concentrate our power as much as possible against that section where the chief blows are to be delivered and to incur disadvantages elsewhere, so that our chances of success may increase at the decisive point. The third rule is never to waste time. Unless important advantages are to be gained from hesitation, it is necessary to set to work at once. By this speed a hundred enemy measures are nipped in the bud, and public opinion is won most rapidly. Finally, the fourth rule is to follow up our successes with the utmost energy. Only pursuit of the beaten enemy gives the fruits of victory."

(Von Clausewitz)
"Na guerra há apenas um momento favorável. A grande arte é agarrá-lo."

(Napoleão)

8.9.03



Como o diabo gosta, no aniversário da minha querida Ariadne (esq.), junto com a Glorinha, no agito do Casarão Hermès, na Glória. A semana passada foi realmente uma boêmia só. A foto é da doce Elis Monteiro.

5.9.03

A seta de Eros

Eu a observo
e reflito: como fazê-la entender
que sou eu quem procura?
que somos as peças que se encaixam
em nossas almas tateantes?

Relato maravilhas
para entreter sua noite sem fim.
Scheherazadicamente
forjo as tessituras das histórias
como quem maneja uma harpa de cristal quebradiço.

Mas os círculos negros de seus olhos me perturbam
e sobrevém o silêncio fatal
em que as idéias se afogam
e resta apenas a seta de Eros a fustigar os mamilos.

Ah, será uma longa jornada até o entendimento.
E provavelmente ele virá quando a primeira terra
cair sobre o esquife do poeta.

4.9.03

Encontro ontem, na Cobal do Humaitá, de veteranos da Escola de Comunicação da UFRJ, a saudosa ECO, que era um agito só no começo dos anos 80. Havia representantes das turmas de agosto/80 e março/81 (a minha), e o chope foi para lá de divertido. O mote foi a visita da querida amiga Denise Marcolino, hoje radicada em SP, a estas praias cariocas. Estavam lá José Figueiredo, o eterno Fig, Júlia, Carter Anderson, Angélica, Ricardo Cabral, Márcia Elena, Dudu Feijó, Augusto e outros convivas. Arnaldo Bloch deu também uma rápida passada na área. Planeja-se uma grande festa ecoína em novembro, me informa o Fig.
Quero agradecer de todo o coração aos amigos e amigas que estão dando uma força à campanha do Cadafalso para transformar os bits de poesia nas páginas de um livro. Com essas ajudas valorosas, a gente uma hora chega lá.

31.8.03

Vou botar o bloco na rua.
Quem se habilita?

30.8.03

Encontro e instante

(para alguém que é pura vida, em todos os sentidos)

Despertou devagar numa praia grega
a lembrança do vinho com mel ainda em seus olhos
a dor de abandonar o sonho
como afastamos o cobertor tépido ao laçar a vida
todos os dias
para que nos arraste.

olhou o oceano perfeito
e sentiu-se velho.
então, sem mais, ela saiu da água
e mirou-o com toda a sua juventude irrequieta.

Ela se aproximou e sorriu, curiosa.
Sua pele era límpida como o marfim de Calecute
e suas palavras, melífluas e ansiosas
como o canto de certos pássaros
que ainda não perceberam seu cativeiro.

Ele ouviu maravilhado suas perguntas
e pensou em responder por artifícios.
Mas qual.
Lembrou-se de sua própria juventude distante
E preferiu fazê-la rir.

Ali, na areia onde pisara Apolo,
sua vida mudou de tom por um instante.
E ela o presenteou
com o esquecimento.
Pronto, pus mais uma família de comentários aí embaixo. Quando o Yaccs voltar, haverá duas opções para os amigos deste blog. Não dava mais para ficar só com um tipo de sistema.
Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft

Blogs, Universos em Prosa, um livro digital copyleft

Uma idéia muito legal da Rossana, de que tive a honra de participar com uma pequena declaração.

29.8.03



Na redação, a gALLera do Infoetc em foto de 2001: Luizinha, Cora, eu, Elis e Mr. Balbio.
Existem amigos que nos comovem mesmo à distância. É o caso de Alessandra Archer, com quem me sinto absolutamente incapaz de ficar chateado, mesmo sem vê-la há quase três meses. É impossível não adorar alguém capaz de escrever algo assim:

"Ela precisava falar sobre isso. Queria dizer que os sons a olhavam cabisbaixos. Às vezes desconfiavam que ela os ouvia. Mas como, se é absolutamente surda? Com os olhos castanhos avermelhados de choro ela os olhava sem calor. Queria ouvi-los, sim. Esforçava-se para entendê-los. E tudo o que conseguia era imprimir papéis e mais papéis cheios de histórias e poesias. Juntava letras com um teclado e considerava muito mais fácil do que abrir sua boca e cuspir palavras. Elaborava-as, buscando explicações para tudo o que não conseguiria nunca desenrolar em sua mudez doentia. talvez por isso seus textos vinham sempre com as mais belas e ousadas palavras. Contos tingidos de verde, aromatizados ou com sabor chocolate. Mas agora estava com um nó na garganta e só dispunha de cinco minutos para digitar qualquer coisa rápida, qualquer coisa que a desengasgasse por algum tempo. E iria fazê-lo. E estava certa de que conseguiria. E foi por isso que sua mãe a ouviu, pela primeira vez, dizendo que a amava."

Oh boy.
Este post foi feito sem fio, com a ajuda do Partner da Gradiente da tia Cora, definitivamente uma maravilha..

27.8.03

Mais uma ida e volta a Sampa, ontem, a trabalho. Estava um frio danado por lá. Felizmente o evento que fui cobrir aconteceu num hotel.
O curioso foi quando recebi o código para minha passagem para a ponte aérea: ele terminava com as letras "fique". Se eu fosse supersticioso, não voava de jeito nenhum. Mas, como acredito que a hora de se ir deste mundo já está registrada num alfarrábio qualquer em outra dimensão, não hesitei e segui em frente.
Valeu a pena: o trabalho foi tranqüilo e a companhia, agradável. Revi, além dos coleguinhas de SP, a moçada de Brasília, Recife e Belo Horizonte.

25.8.03

Entretanto, quando as hostes inimigas se aproximam, o sangue sobe junto com a determinação de resistir.
É hipnótica, vez por outra, a tentação de dizer adeus.

21.8.03

Pergunta para vocês:

Por que se diz que o amor não pode nascer de uma grande amizade, se todo amor verdadeiro se transforma, como o tempo, justamente numa amizade inabalável?

20.8.03

Lonely

O ciúme agitou-se em meus rins
na alvorada de tua decisão;
eu a queria inteira
queria a chave criptográfica de tua alma.

Mas quem há de ouvir os protestos de um poeta?
Quem leva a sério o encantador de palavras?
Teu amor me impregnou; foi meu erro.

E agora tu beijas teu futuro
e eu fito o horizonte
e choro sobre os palácios de brisa que ergui.

18.8.03

Mais uma semana "animada" no trabalho. Vou a SP e volto e tenho mil outras coisas para ver. Pelo menos o Mr. Balbio está de volta. May the Lord be praised! ;-)

14.8.03

Em agitada correria profissional nos últimos dias. A semana está recheada de matérias ;-).

11.8.03

Eu não costumo postar aqui qualquer tipo de corrente no estilo "fofinha". Mas a Alesinha, uma figura maravilhosa, me mandou um email que realmente me fez rir. Vou dividi-lo com vocês:

"Trate seu amor como você trata seu melhor amigo".

Sei que isso parece falta de romantismo, mas é o conselho mais certeiro.
Não era você que estava a fim de uma relação serena e plenamente satisfatória? Taí o caminho.
Vamos tentar elucidar como isso se dá na prática.
(...)
Você foi convidado para o casamento de uma prima distante que mora onde Judas perdeu as botas, você tem que ir porque ela chamou você pra padrinho.
Como é que os casais costumam combinar isso?
"Não tem como escapar, você vai comigo e pronto".
Ou seja, um põe o outro no programa de índio e nem quer saber de conversa.
É assim que você convidaria seu melhor amigo? Não. Você diria:
"Putz, tenho uma roubada pela frente que você não imagina. Me dá uma força, vem
comigo, ao menos a gente dá umas risadas...".
Ficou bem mais simpático, não ficou?

Como esta, tem milhões de situações chatas que você pode aliviar, apenas moderando o tom das palavras.

Pro seu marido:
"Você nunca repara em mim, não deu pra notar que cortei o cabelo? Será que sou invisível?"
Mas pra sua melhor amiga: "Ai, pelo visto meu cabelo ficou medonho e você está me poupando, né? Pode dizer a verdade, eu agüento".

Pra sua mulher:
"Você já se deu conta da podridão que está este sofá? Não dá pra ver que está na hora de trocar o tecido?"
Mas pra sua melhor amiga:
"Deixa a pizza por minha conta, eu pago, assim você economiza pra lavar o sofá. A não ser que este seja um novo estilo de decoração..." Risos, risos, risos.

8.8.03

Perguntinha: vocês não acham que os nossos irmãos argentinos estão se dando melhor por lá com o Kirchner no leme?
Também dei um alô para minha querida Alessandra Archer, que não vejo desde junho. É uma vergonha o tempo que a gente passa longe dos amigos neste mundo corrido e cercado de tarefas e dívidas por todos os lados...
Acabei de falar por telefone com o Gustones, que está acamado, praticamente imobilizado, por uma hérnia de disco terrível. Espero que você fique bom logo, meu caro, porque está fazendo falta para caramba.

7.8.03

Para quem curte ciência: entrevistei uma figura muito interessante para o "Informática etc" de segunda-feira. Acredito que vale a pena dar uma olhada no que ele diz.

E mais não conto, para não estragar a surpresa. ;-)
Vai com Deus, dr. Roberto. Faço minhas as palavras do Chico Anysio: que o Espírito ilumine seus herdeiros e lhes dê a mesma sabedoria, a mesma capacidade administrativa que o senhor teve.

* * *

A tristeza no Globo hoje me lembra a tristeza da Manchete quando perdeu Adolpho Bloch em 19 de novembro de 1995. Nunca mais vou esquecer essa data, porque no dia seguinte, meu sogro, que eu adorava, teve um enfarte fulminante. Foi um dos piores momentos da minha vida.

6.8.03

Transcrito do Globo de hoje. Pode ter passado desapercebido com Elio Gaspari e Zuenir Ventura na mesma página:

"Contas que não fecham

Antonio Conrado

Se você é um trabalhador da iniciativa privada e começou sua vida profissional antes de junho de 1989, contribuindo para receber 20 salários-mínimos quando se aposentasse, fique perplexo com o “espetáculo de injustiça” a que estamos assistindo.

Recorrendo a analogias na busca de maior clareza, pergunto se é justo você comprar, por exemplo, um apartamento de cinco quartos, pagar por diversos anos a respectiva prestação e, ao longo do tempo, o incorporador unilateralmente reduzir o tamanho do apartamento e a respectiva prestação para dois quartos.

Pergunto, respeitosamente, aos representantes dos três poderes da República que leram até aqui este despretensioso artigo: o que V. Ex. decidiria se um reclamante demandasse ou a manutenção do inicialmente acordado (cinco quartos) ou a devolução das prestações pagas em excesso (cinco versus dois quartos), ou algum critério mais justo tipo pró-rata?

Pois bem, acompanho com interesse as atuais pertinentes e necessárias discussões da reforma da Previdência e o direito de diferentes grupos defenderem os seus pleitos. É a democracia em pleno funcionamento.

Em nenhum momento, porém, li ou escutei algum membro de um partido político, de uma central sindical, do Judiciário, do Executivo, que se indignasse com a usurpação do direito e/ou expectativa de direito, nem com a apropriação indébita das contribuições feitas pelos trabalhadores que iniciaram, como disse anteriormente, sua vida profissional como empregado de uma empresa privada e pagando, insisto, contribuindo, para ter 20 salários de aposentadoria. Hoje, o teto dessas aposentadorias corresponde a 7,8 salários-mínimos.

Há jurisprudência firmada no sentido de que as condições de aposentadoria são definidas pela legislação em vigor na data de início da dita cuja. Portanto, hipoteticamente, por absurdo e no limite, se você quiser trabalhar 35 anos, e após 34 anos e 11 meses (a um mês de sua aposentadoria) mudasse a legislação com redução de sua pensão, seu benefício seria o novo valor e você receberia um sonoro adeus para aquelas contribuições pagas a maior.

Está aí uma bandeira que considero justa e que, respeitosamente, gostaria que fosse defendida pelos três poderes e pelas centrais sindicais: ou a devolução das contribuições corrigidas pagas a maior, ou a correção do benefício segundo um critério pró-rata em relação a todas as contribuições feitas. Teria uma sensação de proteção maior vendo um “radical” subindo em um caminhão de som e uma ameaça de greve de uma central sindical nessa defesa.

E para aqueles mais ligados à vida político-partidária, sugiro que alguém crie o PTIPRI, Partido dos Trabalhadores da Iniciativa Privada. Para os mais ligados ao mundo sindical, a fundação da CUTIPRI, Central Única dos Trabalhadores da Iniciativa Privada. Talvez as adesões fossem significativas."

5.8.03

La solitude est une belle chose; mais il faut quelqu'un pour vous dire que la solitude est une belle chose.

Balzac

3.8.03

Não seja esposa, nem mãe hoje. Seja apenas aquela namorada serelepe que me tirou do sério milhões de vezes. Seja inconseqüente, exuberante, engraçada, impetuosa. Faz de conta que a gente não sabe como a história termina e ainda acredita que pode muito bem não haver outro encontro amanhã, pela razão mais frívola. Não fale de sua família, nem da minha. Deixe o exame de vista da caçula para lá. Esconda os mangás da adolescente, só pra provocá-la. Não faça as contas -- matemática é antitesão.

Apenas venha cá, me abrace e cante comigo: let it roll, babe, roll... all night long.

1.8.03

Estava vendo um show do Queen na TV madrugada dessas, com a banda no auge da forma, cheia de eletricidade em seu rock and roll, quando eles tocaram "Tie your mother down". Fiquei rindo sozinho, lembrando de um show a que assisti nos anos 90 no Circo Voador, com uma banda tocando uma versão brasileira bem-humorada desta música, chamada "Traia o maridão"...

Eu estive na coletiva da banda no Rock in Rio I, em janeiro de 1985. Dos quatro, o mais simpático foi de longe o guitarrista Brian May, contando o porre que tomara no avião. May sempre me pareceu um elfo tocando guitarra, com aquela altura toda. O dele é um dos timbres mais singulares do rock.

31.7.03

Níver de Cora Rónai hoje. O Guardião dos Cadafalsos, que a adora, lhe envia muitos beijos, com desejos de felicidades todos os dias de sua vida.

29.7.03

Dia de ficar triste

Dia de ficar triste, hoje;
dia de desassossego e muxoxos
dia de tentar encher com a areia da nonchalance
a cratera que você acaba de abrir em minha testa
com meia-dúzia de palavras.

Ah, mas a vida do poeta é assim:
o eterno remoinho do amor perdido
dos afãs jogados às hienas
fecundando o pericárdio
e fazendo brotar novos versos
cheios de frescor e crueldade.

Aquele cujo amor é difuso como o jato do prisma
tem sob as melenas o sinal do sofrimento
e deve se quedar só,
à beira dos mares de ácido.

28.7.03

Estou melhor, após um fim de semana recolhido em casa.
Quando estava escolhendo os filmes a que ia assistir, me deparei com um DVD de um show da Donna Summer para o VH1. Não resisti. E o show é sensacional, com aquele balanço inesquecível dos anos 70, uma década em que até o bate-estaca se fazia com classe, harmonia e melodia. No repertório, "McArthur Park", "I Feel Love", "Bad Girls", "Dim All The Lights", "She Works Hard For The Money" e "Last Dance".

25.7.03

Ontem tive de voltar para casa mais cedo: fui vítima de terrível virose. Febre -- daquelas que dão ondas de arrepios na gente -- dores no corpo, garganta ardente, moleza geral. Fiquei na cama até anoitecer, acordei, jantei, dormi de novo. Acordei empapado de suor, felizmente sem febre. No fim de semana vou ver se me recupero mais.

23.7.03

Comprei ontem -- sabem aquelas compras compulsivas, sem titubear, em que a gente tira tudo que tem da carteira e dá na hora, porque é impossível resistir? -- o novo CD do superguitarrista de rua Sérgio Bap, um dos melhores guitarristas de blues que já ouvi na vida. Da primeira vez que o ouvi, estava na rua São José e fui arrastado até ele pelas invencíveis terças num solo genial. Ontem, passava pela Praça XV e eis que o homem estava lá. Não deu para resistir: comprei o volume 3 de sua coleção "Sentimental Blues". Já tenho o 1, agora só falta o 2. Mas isso não tardará ;-))

Deus, que país é esse onde um instrumentista como Bap fica tocando assim, na rua?

22.7.03

Mais Gide:

"Cada ação perfeita se acompanha de volúpia. É por onde reconheces que a devias ter feito. Não gosto nada dos que encaram como um mérito ter penosamente obrado, pois se era penoso teriam andado melhor fazendo outra coisa. A alegria que se encontra em ter agido é sinal da propriedade do trabalho."

(...)

"Não quero que me digas: vem, preparei-te tal ou qual alegria; não gosto mais senão das alegrias casuais, e as que minha voz faz que jorrem do rochedo. Escorrerão assim para nós, novas e fortes, como os vinhos fortes abundam no lagar."

21.7.03

O homem cordato

Os escribas narram atos de sangue
um tanto chocados
como se de fato existisse
o homem cordato
quando tal ser
é primo dos unicórnios.

Esquecem
ou fingem que esquecem
que no cerne somos todos bárbaros
e mesmo o mais são da espécie
pode abraçar a loucura das turbas.

Mesmo o sexo é um embate
onde se alternam o domínio e a entrega;
e há batalhas renhidas
de divisões inteiras de poros arrebitados
nos campos acidentados dos lençóis.

Passar-se-ão milhares de anos
até que tais almas forjadas por sabres e cimitarras
sejam realmente esculpidas pelo Espírito.
Mas talvez, então,
já não sejamos mais os arrogantes sapiens.

18.7.03

Longe

Hora de ficar longe
e raciocinar -- o melhor antídoto
para seus olhos.
Porque se ficar perto
eu vou querer chupá-los
até a última gota de córnea.

Você expressa no papel roto
o sentimento inevitável
-- mas não tangível --
e eu derramo bits de tristeza.

Por isso é hora do eu distante;
hora de sentar à escrivaninha
e fazer cálculos estéreis
e pensar no que comer
e olhar desenhos animados.

15.7.03

E Gustones, o superguitarman, está de volta ao bloguniverse. Long live rock and roll!
Niver da Maryzinha Fabriani hoje. Parabéns, querida. É sempre um deleite visitar sua página. Beijos do Guardião.

14.7.03

Fala, moçada. Voltei. Dei uma relaxada básica nas férias, resolvi alguns contratempos (infelizmente, férias também servem para isso) e mandei fazer uns óculos novos para blogar melhor aqui.

E vamos logo poetar, que é hora:

Saiba

O amor por você subiu no meu sangue
como um licor doce-amargo
e eu expulsei a vergonha
de meus lábios apertados:
pedi, implorei, gritei pelo seu beijo
-- não qualquer beijo,
mas Aquele que dissesse tudo
que nutrisse a tempestade
que eletrificasse o tato
que inundasse sua boca de poesia
como você veste minha alma friorenta
com suas palavras recheadas
da mais bela loucura
do mais puro desvario.

Ah! e você teve medo.
Perdoe.
Mea culpa, mea culpa.
Não posso esperar que me acompanhem
everest acima
ou vesúvio abaixo
sem uma grossa corda de cânhamo.

Mas saiba disto:
você me perturba
e invade meus sonhos
e me faz tremer de desejo.

27.6.03



(foto: Freefoto.com)

Vou tirar uns diazinhos de férias. Voltarei no dia 14/7, pronto para outra.

25.6.03

Em ótimo artigo no Observatório da Imprensa, Jaime Höfliger dá uma sacaneada na mídia por incentivar as privatizações nos anos 90 e agora chorar por estar nas mãos dos mesmos administradores "edwards-mãos-de-tesoura" que capricharam no "dowsizing". No meio do artigo, o melhor argumento contra os discípulos do mercado que defendem que a condução da economia deve ser algo sumamente técnico e jamais político. Leiam e se toquem...

"As árvores se conhecem pelos frutos; então, pergunto que frutos os economistas e administradores têm conseguido produzir operando um sistema que é o maior produtor de riquezas? Eu mesmo respondo: eles vêm produzindo a maior distribuição de miséria que se conhece. A esses estão entregues as empresas jornalísticas?

A política econômica não seria política se as decisões em seu âmbito fossem sempre estritamente técnicas. E a economia (com as exceções que confirmam a regra), convenhamos, por tudo e tanto que se tem visto, é o reino dos que abdicaram de pensar. Cabe à política conduzir a economia e não o inverso; a economia e a administração, assim como a Gramática do Verissimo, 'têm que apanhar todos os dias, para saber quem é que manda'."

24.6.03

Extraído ipsis literis do blog de Cora Rónai:

"O Antonio Caloni me mandou uma continha que dá o que pensar:

'Se um correntista tivesse depositado R$ 100 (cem reais) na Poupança num banco, no dia 1º de julho de 1994 (data de lançamento do real), ele teria hoje na conta a fantástica quantia de R$ 374 (trezentos e setenta e quatro reais).

Se esse mesmo correntista tivesse sacado R$ 100 (cem reais) no cheque especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$ 139.259 (cento e trinta e nove mil, duzentos e cinqüenta e nove reais), no mesmo banco.

Ou seja: com R$ 100 do cheque especial, ele ficaria devendo nove carros populares, e com o da poupança, conseguiria comprar apenas quatro pneus.

Não é a toa que o Bradesco teve quase R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais) de lucro liquido somente no 1º semestre, seguido de perto do Itaú e etc... Dá para comprar um outro banco por semestre!

E os juros?

VISA 10,40 % ao mês
CREDICARD 11,40 % ao mês
POUPANÇA 0,79 % ao mês.'

É. Há algo profundamente errado com o país."

Eu, como chefe de família e sustentáculo único de minha casa, assino um milhão de vezes embaixo.

23.6.03

Na última noite, em que me sentei a seu lado, senti uma onda irreprimível de amor tomar conta de mim. Você falava, e eu apenas a observava, sorrindo levemente. Você sempre teve tal efeito sobre mim, desde os dias em que fazíamos o Tempo parar.

20.6.03

Estou lendo "Os frutos da terra", de André Gide. Já comecei este livro outras vezes, mas sempre me dispersei e acabei lendo outra coisa. Agora que me toquei, através de um livro do Richard Ellman, que o personagem Ménalque representa Oscar Wilde (eu devia saber -- este nome está no poema "A esfinge", de Wilde), por quem Gide era fascinado, prometi a mim mesmo que iria até o fim. Aliás, Gide é outro de meus autores preferidos. Li dele "O imoralista", "Os moedeiros falsos" e "A volta do filho pródigo". Este último é uma porrada na alma.
Mas "Os frutos da terra" não fica atrás.
Vejam este trecho:

"Olha a noite como se o dia nela devesse morrer; e a manhã como se tudo nela nascesse.

Que tua visão seja nova a cada novo instante.

O sábio é quem com tudo se espanta.

(...) O menor instante de vida é mais forte que a morte, e a nega. A morte não é senão a permissão de outras vidas para que tudo se renove sem cessar; a fim de que nenhuma forma de vida se detenha mais tempo do que lhe é necessário para se dizer. Feliz o instante em que tua palavra retine. Durante o resto do tempo, escuta; mas, quando falares, não escutes mais."
Suponha que você esteja pensando em alguém, e que, sem mais nem menos, o número do telefone desse alguém pisque em seu celular. Ou que você atenda o telefone fixo, sem bina, e lá, do outro lado da linha, esteja a pessoa em que pensou.
Pergunta: é coincidência?
A nova interface de edição do Blogger está bela.
Embora alguns acentos ainda não tenham dado o ar da graça.

18.6.03

Por outro lado, espantar os males pode ser mais fácil do que a gente pensa. Se minha guitarra não tivesse sido roubada num infeliz incidente, eu estaria tocando com o Hélcio em algum canto e relaxando. Em noites pós-shows, sempre durmo o sono dos justos, deixando o peso do cotidiano nas cordas da guitarra.
Mas pode ser ainda mais simples. Uns chopes podem bastar. Preciso me lembrar disso antes de ir para casa, às vezes. Ou -- como foi o caso ontem -- a companhia, não planejada, de alguém jovem e entusiasmado, sorridente e confiante, que nos lembra que ainda vale a pena sonhar, de alguma forma. Um papo solto com alguém assim é um ótimo remédio.
Detesto quando não consigo controlar meu mau humor. Resultado: estrago um dia que poderia ter sido perfeito. Mas às vezes a gente não tem como guardar o aborrecimento, pode ser até pior. Contudo, eu sempre me sinto exausto depois que a raiva passa. E sempre constrangido. Wal tem mesmo um coração de ouro. Em certos momentos acho que vou virar um velho ranheta insuportável, que nem aquele hipocondríaco do Almeida, da tirinha do Urbano, o aposentado.
Felizmente, não sou um mal-humorado crônico. Só de vez em quando. No mais das vezes, fico numa boa. Li há muito tempo em algum lugar que o mau humor é uma forma de depressão, e acho que esse bem pode ser o caso.
Por outro lado, do jeito que a vida está nesse país o certo era a gente ficar explodindo de raiva 24 horas por dia. Principalmente no Estado do Rio. É preciso tomar uma dose de alienação para encarar a realidade da era Garotinho.

16.6.03

Há dois novos minicontos no Cadafalso II.
Sem você, só tenho as letras

Teu silêncio é torturante --
mais que o fel que destilas amiúde quando te cansas de mim.
Meu pecado capital é o orgulho
que sempre transborda condimentado pela ira.
Perdoa, pois,
este arremedo de ser humano sem deus.

Sem estas mal traçadas
eu seria apenas um amontoado de órgãos e secreções
um prisioneiro da jângal.
Não sei rezar, apenas escrevo e tateio o esplendor como Tânatos
para ao menos ouvir um fiapo de ressonar do Espírito.

E sem ti, claramente embaixadora de algum condado celestial,
mansamente enlouqueço
dentro do labirinto de carne, química e eletricidade.

13.6.03

Mudo

Olhar em seus olhos
e sentir a borrasca dentro de mim se apaziguar
examinar sem querer
a delicadeza de seu colo adornado
seus globos dourados e perscrutantes
e ouvir sua voz ponderada
como um bom vinho
tudo isso é mais que um aprendiz como eu
poderia desejar.

E o tempo todo o martelo da consciência
recai sobre as meninges:
"preciso dizer logo que a amei
desde Sempre
que a amarei
até o Nada
que não suporto a despedida."

Mas a coragem falta-me;
como o passo em falso do alpinista
na escarpa espancada pelo vento
emudeço
e me arrependo na madrugada.

12.6.03

Aháá!!! Voltou!! Oba!!!! Ziriguidum!!!! Esquidundundum!!!!
Acabei de descobrir que, nos Settings, na parte Formatting, o idioma estava selecionado como português de Portugal. Troquei-o para português do Brasil e voltaram os danados dos acentos...
Muito esquisito esses parâmetros do Blogger. Enfim...
vejamos se a acentuação voltará...
Ninguem gosta de fazer plantao. Nao sou excecao, mas considero que a pior parte de um plantao jornalistico eh a volta para casa no fim da noite de domingo ou no comeco da madrugada de segunda. Todo mundo estah dormindo quando vc chega em casa. Eh uma sensacao de solidao terrivel.
Acho que eu jamais poderia viver sozinho. Embora, como todo mundo, precise de uns momentos comigo mesmo, mesmo nesses momentos eh bom saber que tem alguem em algum lugar esperando por vc.
PS - Desculpem o linguajar telegrahfico, mas os acentos ainda nao voltaram...

9.6.03

Galera, estou demorando um pouco a postar aqui por causa desses acentos não formatados. Assim que o pessoal do Blogger resolver a parada, postarei normalmente...

6.6.03

Essas mudanças dão um desânimo...

5.6.03

por falar em bug, os acentos estão dando pau. O New Blogger (com o novo sistema Dano -- nome horroroso, por isnal) sugere um comando para botar no template, mas ele ainda não funcionou.... *#%@!!!!!
Assim não há inspiração poética que funcione..
Gente...
eu até pensei em tirar do ar posts desesperados abaixo, mas eles vão ficar lá, fazendo parte da história do Cadafalso. A Elis falou com a moçada lá no Silicon Valley e eles reportaram que esse negócio de os posts sumirem é mesmo um bug. Certamente haverá outros nesta migração para o novo ambiente do Google. Caramba, que sufoco.
Pelo jeito ainda vamos levar um bocado de sustos nesse mês de junho. Parafraseando o que dizia a Bette Davis, apertem os cintos que vai ser um mês turbulento. ;-)
aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!! Voltou tudo!!!! Oba!!!! êeeee!!!!
Novo teste
Não acredito nisso!! Dois anos de posts para tal fim?
Socorro!!! Sumiu tudo. Iaaaauu!!!
Gente, acabo de entrar na nova interface de postagem do Blogger. Meio esquisita, mas as fontes default para escrever os posts s?o maiores que antes, pelo menos. Mas os arquivos ficaram escondidos nos Settings e a gente n?o vê mais os ?ltimos posts que fez, embaixo. Além disso, fomos rebaixados à categoria "Blogger Basic"... Eu, hein?

2.6.03

Let the guitar

Você ainda não entendeu, não é?
Olhe mais de perto. Escute.
Ele está ribombando dentro da caixa torácica
esperando que você plugue seu beijo
como um acorde de slide.

Isso. Assim.
Agora ele explode com uma virada
à Ian Paice, à John Bonham, à Keith Moon.
Entra o baixo, latejando,
estalando em suas entranhas
e você começa a cantar sincopadamente.

A banda inteira evolui.
E então, como se mixada por Deus,
começa a tocar em sua cabeça
em seus seios
em suas coxas
em sua nuca
a sinfonia imaculada da natureza.

Depois, quando você cisma nua
e satisfeita
entre as pétalas,
a música divina, esquiva, se perde.
Mas tudo bem.
Só o que se quer como combustível
é um pouco de rock'n'roll para começar.

Está sentindo?
Eis no seu peito, agora,
o ritmo indômito.
Um, dois, três, quatro...

30.5.03

A história da inclusão dos chimpanzés na categoria "Homo" reacendeu o velho debate sobre a suposta superioridade da raça humana, que seria o objetivo final da evolução para alguns. Sinceramente, é um bocado de pretensão ver nesse esboço que é o ser humano algo superior aos animais capazes de se adaptar à vida na Terra sem precisar destruir tudo à sua volta. Se, como argumentam os cientistas, nós não nascemos "pré-programados", ao contrário de nossos companheiros do reino animal, pelo menos é preciso reconhecer que o "software" que vamos desenvolvendo ao longo dos anos ainda é rudimentar, chegado a vários "paus" e de código-fonte fechado e misterioso.

28.5.03

Desejas ser mais doce e frear a paixão; mas pode o açúcar abrandar as labaredas? Especialmente as tuas? Sê fiel a ti mesma, autêntica como sempre foste. Pois tens o brilho dos que crêem, e a honra de teus antepassados nos campos brumosos da eterna batalha. Eu, o escrevinhador cético, vejo em ti minha salvação, pois, se não creio no que crês, ao menos acredito em ti.

27.5.03

Andam gozando o vice Zé Alencar por esculhambar a política econômica do Lula. Mas, cá entre nós, ele é praticamente a única voz no Executivo que está sendo coerente com as propostas pelas quais foi eleito. Se esse governo, em algum momento, não der uma guinada, nem fizer algo diferente do príncipe da sociologia FHC, só nos restará votar em nanicos como PSTU e PCO ou anular o voto. Lulinha globalizado ninguém merece.

Pelo jeito, o Capitão Rodrigo estava certo quando dizia "hay gobierno, soy contra".

26.5.03

Atenção: este post é só para quem já viu "Matrix Reloaded".

Aqui, uma tradução do diálogo entre Neo e o Arquiteto da Matrix no filme, que vale a pena revisitar:

Neo - Quem é você?

Arquiteto - Sou o Arquiteto. Criei a Matrix. Esperava por você. Você tem muitas perguntas, e, embora o processo tenha alterado sua consciência, você permanece irrevogavelmente humano. Logo, algumas de minhas respostas você entenderá, e outras não. De fato, conquanto sua primeira pergunta seja pertinente, você pode não perceber que também é irrelevante.

Neo - Por que estou aqui?

Arquiteto - Sua vida é o resumo do que resta de uma equação desequilibrada, inerente à programação da Matrix. Você é a eventualidade de uma anomalia que, a despeito de meus esforços mais sinceros, não consegui eliminar do que, de outro modo, seria uma harmonia de precisão matemática. Por um lado, continua a ser um fardo evitar tal anomalia, ela não é inesperada, e portanto não está além de medidas de controle. O que levou você, inexoravelmente, a chegar até aqui.

Neo - Você não respondeu à minha pergunta.

Arquiteto - Absolutamente certo. Interessante. Foi mais rápido que os outros. A Matrix é mais velha do que você pensa. Prefiro contar desde o surgimento de uma anomalia integral até o surgimento da próxima. Esta é a sexta versão.

Neo - Há duas explicações possíveis: ou ninguém me contou, ou ninguém sabe.

Arquiteto - Precisamente. Como você já deve estar percebendo, a anomalia é sistêmica, criando flutuações mesmo nas equações mais simplistas.

Neo - Escolha. O problema é a escolha.

Arquiteto - A primeira Matrix que desenhei era, naturalmente, perfeita, era uma obra de arte, sem falhas, sublime. Um triunfo apenas igualado a seu fracasso monumental. A inevitabilidade de seu destino é patente para mim agora como uma conseqüência da imperfeição inerente a cada ser humano; por isso eu redesenhei a Matrix baseando-me na sua história para refletir mais acuradamente a diversidade grotesca de sua natureza. Entretanto, o fracasso me frustrou de novo. Desde então, passei a entender que a resposta me fugia porque exigia uma mente menor, ou talvez uma menos tomada pelos parâmetros da perfeição. Assim, a resposta foi encontrada por outro, um programa intuitivo inicialmente criado para investigar certos aspectos da psique humana. Se eu sou o pai da Matrix, ela seria indubitavelmente sua mãe.

Neo - The Oracle.

Arquiteto - Por favor... Como eu dizia, ela deu com uma solução pela qual 99.9% de todas as cobaias aceitavam o programa desde que lhes fosse dada uma escolha, mesmo que soubessem da escolha quase em nível inconsciente. Se por um lado tal resposta funcionou, por outro era fundamentalmente falha, criando assim a anomalia sistêmica (que de outro modo seria contraditória), que se não fosse vigiada poderia ameaçar o próprio sistema. Logo, aqueles que recusavam o programa, mesmo sendo minoria, se fossem deixados livres, constituiriam uma probabilidade crescente de desastre.

Neo - Isso diz respeito a Zion.

Arquiteto - Você está aqui porque Zion está prestes a ser destruída. Cada habitante morto, toda sua existência erradicada.

Neo - Conversa fiada.

Arquiteto - A negação é a mais previsível das reações humanas. Mas fique tranqüilo, esta será a sexta vez que eu a terei destruído, e já somos muito eficientes nisso. A função do Predestinado é retornar à Fonte, permitindo a disseminação temporária do código que você carrega, reinserindo o programa primal. Depois disso, você deverá selecionar da Matrix 23 indivíduos, 16 fêmeas e 7 machos, para reconstruir Zion. Se não cumprir o processo, isso resultará num crash cataclísmico do sistema, matando todo mundo conectado à Matrix, o que, junto com a exterminação de Zion, redundará na extinção da raça humana.

Neo - Você não vai deixar isso acontecer. Você precisa de seres humanos para sobreviver.

Arquiteto - Há níveis de sobrevivência que estamos preparados para aceitar. Mas a questão importante aqui é se você está ou não pronto para aceitar a responsabilidade pela morte de cada ser humano neste mundo. É interessante ler suas reações... Seus cinco antecessores eram, por design, baseados numa característica semelhante, uma afirmação que visava a criar uma ligação profunda com o resto de sua espécie. Mas, enquanto os outros experimentavam isso de um modo geral, sua experiência é bem mais específica. Vis-à-vis, o amor.

Neo - Trinity.

Arquiteto - A propósito, ela entrou na Matrix para salvar sua vida ao custo da dela.

Neo - Não!

Arquiteto - O que nos traz ao momento da verdade, onde a falha fundamental é expressa de modo definitivo, e a anomalia revelada como princípio e fim. Há duas portas. Aquela à sua direita leva à Fonte e à salvação de Zion. Aquela à sua esquerda leva de volta à Matrix, a ela, e ao fim de sua espécie. Como você disse, muito apropriadamente, o problema é a escolha. Mas já sabemos o que você vai fazer, não é? Eu já posso ver a reação em cadeia, os precursores químicos que sinalizam a chegada da emoção, desenhada especificamente para oprimir a lógica e a razão. Uma emoção que já o cega para a verdade simples e óbvia: ela vai morrer e não há nada que você possa fazer para impedir.

(Neo caminha para a porta à sua esquerda)

Arquiteto - Humpf. A esperança é a quintessência da ilusão humana -- simultaneamente fonte de sua maior força e sua maior fraqueza.

Neo (saindo) - Se eu fosse você, esperaria que não nos encontrássemos de novo.

Arquiteto - Não vamos nos encontrar.

23.5.03

"Os eus na rede se liberam de restrições cognitivas; mas esse suposto suplemento da alma não pode tomar o lugar dela, de nossa essência."

"Todo universo, enquanto tal, é uma rede, diz Leibniz. E a entrada na época das redes mudou a problemática da compreensão das identidades."

"O sentido é construído pelos atores para eles mesmos. Há mais individualidade, mais interiorização.".

"Com o apagamento dos lugares do eu e a multiplicação dos não-lugares, dá-se a renovação da tarefa filosófica."

"O apagamento dos lugares pode ser comparado à perda da dimensão do eu, pois ele perde a resistência ao mundo ao se liberar de parte de sua memória."

"O eu na rede está cada vez mais ávido de outros eus."

(Alguns pedaços das considerações de Jérôme Bindé, do departamento de análise da Unesco, no seminário "O eu em rede")

20.5.03

Estou com a cabeça girando. Estou cobrindo uma conferência sobre "o eu no ciberespaço" e mergulhei hoje nas idéias de dois filósofos da atualidade: Jean Baudrillard e Edgar Morin. Depois de refletir sobre o devir da realidade virtual, quase me senti dentro da própria Matrix ;-). Mas fiquei feliz com a conclusão de Morin de que a resistência à pulverização de nossa essência por bits e bytes está nos estados poéticos da alma. Fiquei imaginando que este pequeno Cadafalso aqui pode ser uma síntese maluca das duas coisas ;-)
Tudo me lembrou meus dias mais viajantes da Escola de Comunicação da Ufrj, na Praia Vermelha. Tardes e tardes mergulhado nesses questionamentos selvagens. Bons tempos.
Vi "X-Men 2" e gostei. Está, de fato, à altura do primeiro filme. E minha mutante favorita, a doce Vampira feita por Anna Paquin, está cada vez mais bonita...
Dos filmes inspirados em quadrinhos, sem dúvida é de longe a série mais bem-feita. Normalmente, eu esperaria mais para ver, porque ando sem paciência para ir a cinemas cheios de adolescentes barulhentos, mas não resisti. Além do mais, quando um filme é bom mesmo, ele silencia o cinema. Foi o que aconteceu com este aqui.

16.5.03

Como conto no Cadafalso II, estava em Buenos Aires, por isso a demora a postar aqui. Foi uma viagem muito interessante.
E, ao voltar, eis que o Cadafalso chega aos dez mil visitantes... Uma grata surpresa.
Obrigado de coração a todos os amigos deste blog.


O eclipse.
Ou a Lua num momento de timidez.
Enviado pela querida Crib.

Faz lembrar a letra de "Black Diamond", do Kiss:

Darkness will fall on the city
It seems to follow you too
And though you don't ask for pity
There's nothin' that you can do, no, no...



8.5.03

Últimos instantes de uma folha

Eu sou aquela folha dourada e crocante
que planou até seus cabelos
na tarde silenciosa do parque.

Eu sou o último suspiro de vida daquela folha;
alegre, rodopiante, irresponsável,
já tendo acenado para minhas irmãs,
corri pelo calçamento rachado
confraternizei com os insetos
e preparei-me para a transformação final.

Então o sol me fez uma última carícia
e você me viu
e me tomou em seus braços.
Você pode até pensar que me cheirou
mas fui eu que senti, pela primeira vez,
o perfume da Carne humana de perto
-- forte, avassalador, invencível, improvável --
e me apaixonei.

Ainda mais depois que a lágrima escorreu
por meu pecíolo
e me dei conta: você era prisioneira
dos caprichos daquele pulsar impiedoso que existe
em todos os animais...
Ah! mesmo presa a minha mãe por décadas e décadas
eu descobri em seu colo como fora livre, livre,
e ignorante da violência do Desejo.

Pura ironia --
eu, uma simples folha enrugada,
peguei, de algum modo, a doença dos humanos
e morri de uma ansiedade alienígena
estrebuchando sobre suas pernas
antes de descer ao chão
e tornar-me parte do processo.

2.5.03

Depois do fechamento de hoje do caderninho, vou tomar uma cerveja para relaxar e em seguida tirar alguns dias de folga. Volto, pronto para outra, no dia 8/5.