27.12.01



Finalmente descobri o que é estar só
Quando olhei em seus olhos e reconheci a Mentira
Usurpadora de córneas antes tão amadas.
Nenhuma prisão
Me deixaria mais sufocado e claustrofóbico
Do que aquele olhar.
Oh, deus, por que usamos palavras para mentir
Se o corpo mente antes por nós?

* * * * *

Trigais

Escuridão.
As teclas me levam à escuridão profunda,
Ao caos ardentemente desejado,
Ao sótão.
Desperto de um sono sem sonhos,
Um sono de olhos acordados e inertes,
E confronto de novo o nada.
Para que tentar? para que morrer de angústia
Se nem mesmo a chave possuo mais
Se nem mesmo o destino prega mais peças em nós
Se nem mesmo seus cabelos sussurram mais como sussurravam
Doces, dourados, qual campos de trigo, em meus ouvidos?
Onde está meu desejo, meus arrogantes trovões, meus dedos ágeis?
Em lugar nenhum; eis que se cumpriu a profecia.
Restou, enfim, o escuro, amado, não mais temido,
Caverna silenciosa, gostosa, lar dos nossos duendes coloridos,
Pelo bem do Outro esquecidos.

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