4.1.02

Duas visões do adeus, este momento que chega quer queiramos ou não...

I

Adeus

Beijas-me incólume
E nada temes.
Mas nada sabes da dor que causaste!
Eu quero ir embora
Sumir no cristal dos olhares enfurecidos
Cuspir na garganta dos que amam
Morrer nos espinhos da roseira à beira do abismo.
Terás meu sangue, minha deusa.
Não o meu coração, seco e murcho.
Meu cadáver pertence ao vento;
Minha vida errante, aos cães do mato;
Meu amor, aos espelhos dos lagos perdidos.

II

Cuidados e Caronte

Tomas todos os cuidados comigo
Porque não queres me magoar, dizes;
De nada adianta.
Já percebi que não me desejas
E isso basta
para chamar o velho Caronte.
Adeus, querida
Melhor privar da companhia das sombras no Hades
Do que ser teu joguete ao sol, entre os chorosos ciprestes.

Vislumbrei uma nova vida ao te conhecer
Mas jamais supus que estava tão certo
em meus vaticínios.
Adeus: vou ao encontro de Eurídice
para consolá-la da perda de Orfeu.
E os beijos gélidos que então receberei
serão com certeza mais doces
que qualquer um dos teus.

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