30.4.02

Meu fardo

A noite cai
E com ela meu fardo incomensurável.
Coortes de olhares sitiam minhas baterias antiaéreas
E num som desconexo traduzo
As sete auras da loucura vã.
Minha poesia se transforma em dama da noite
E veste o véu da carne em chamas.

Eu nada sei, nada sinto, nada penso.

Afasto meus pêlos em desalinho da fronte que brilha
E deixo o sêmen escorrer pelo braço empenado de minha guitarra

Rusgas acentuam o descaso pelas sobras
A vida escorre junto com o tempo
De repente, o universo se desdobra
E eu tudo sei, tudo sinto, tudo engendro na manhã do meu desvario.
É uma linda ilusão.
Desperto para uma alvorada cinza.

Mas eu quero o crepúsculo
Eu desejo a luxúria do entardecer vermelho
E a languidez da noite aberta, retalhada.
A noite cai, mas não desabam mais minhas convicções incertas.
Elas apenas regeneram-se
Rebentam-se, explodem em cravos.

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