27.5.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XI


Entrou no apartamento da General Glicério tremendo de frio com aquele vento encanado. Mas também podia ser medo.
­-- Daniela?
Encontrara a porta entreaberta. Na sala, ocupada por um singelo sofá marrom, não havia ninguém.
Silêncio.
­-- Olá?
Então ouviu um leve ressonar vindo da primeira porta à direita. Pé ante pé, foi até o umbral e olhou para dentro do aposento. Sobre um colchonete verde corroído, mal coberto por um lençol estampado, jazia Daniela. Estava completamente nua e tinha uma navalha na mão. Mas o que fez Jon sufocar um grito foi a enorme mancha vermelha espalhada sobre os seios e o pescoço. Ela se matara? Se havia tentado, não conseguira, pois ainda podia ver o peito subindo e descendo. Devia estar agonizando.
Correu até o telefone e discou atabalhoadamente para a polícia.
­-- Alô, socorro, quero comunicar... ­-- meio que berrou.
­-- Calma, estou aqui.
Aqueles dedos brancos interromperam a chamada. Ela estava lá, sorrindo, toda cheia de sangue, ainda segurando a navalha. Ele deu um grito de pavor e caiu sentado no sofá.
Ela riu.
­-- Calma, não vou machucar você. Não é sangue, veja, é só ketchup. ­-- Passou a mão no seio esquerdo e estendeu o dedo para que ele cheirasse. ­-- E eu estava me depilando na cama quando bateu um sono irresistível.
O ketchup fora resultado de uma noite de amor que misturara pizza e vinho, explicou ela. Jon, a essa altura tremendo como uma vara verde, sem poder se controlar, não teve reação. Logo depois mordeu o lábio de ciúme.
"Mas ciúme de quê, seu idiota?", perguntou-se.
­-- Vou tomar banho, espere um pouco.
Quinze minutos depois, ela voltou, envolta num vestido diáfano, rosa e branco. Convidou-o para tomar café.

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