31.5.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XIV


Ele obedeceu e ela sentou-se a seu lado, de repente séria. -- Você já ouviu falar de terapia de regressão?
-- Aquele negócio de vidas passadas, etc e tal...
-- Isso aí.
Ela fez uma pausa, então prosseguiu:
-- Bom, faz uns meses eu tive uns problemas pessoais. Terminei um longo namoro que me deixou mal pacas, entrei em depressão, parei de comer... você percebe o quadro. Como moro sozinha, resolvi chamar uma amiga para me fazer companhia. Fiz análise, tomei uns remedinhos e até melhorei um pouco, mas não estava satisfeita e a depressão, quando baixava, vinha como o martelo de Thor. Então, essa minha amiga, que é toda esotérica, sugeriu que eu fizesse uma regressão. Ela disse que conhecia um terapeuta sério, que ajudara outras pessoas, e que não custava nada tentar.
Jon assentiu.
-- Enfim, resolvi ir até lá e ver qual era. Conversei com o terapeuta, um certo Augusto Mendes, e ele me pareceu mesmo um bom sujeito. Deitei-me num divã e a sessão começou. Através de sugestão hipnótica, ele me fez primeiro relaxar e depois me induziu a uma espécie de estase. Não sei direito o que aconteceu a princípio, porque a gente meio que fica num limbo escuro e confortável. Até que olhei para meus pés descalços e me perguntei: "mas como posso estar descalça se calçava tênis há um segundo?" Aí vi a grama sob os pés. E a barra de um vestido rústico, bem sujo. Eu carregava uma cesta de frutas silvestres e podia sentir o mau cheiro de meu próprio corpo, que não devia ver um banho há milênios. De repente o campo visual se abriu e me achei no meio de um vasto pomar, onde várias outras mulheres vestidas como eu colhiam bagas. O sol baixava e ao longe via-se um castelo medieval -- novinho em folha, diga-se de passagem. E tive certeza: estava no ano de 1348. Na França.

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