13.5.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO V


A redação.
­-- Estou pela 12 e pela 14. Anda, pessoal, está tudo atrasado!
­-- Zé, não é para mandar a matéria do ibope. Só depois do jornal da TV, certo?
­-- "... e está desaparecido há oito horas o helicóptero em que viajava o ator Marat Mello no Amapá..."
­-- Puta merda!
­-- Olha só o tamanho da matéria, porra. Eles estão sem pauta hoje. Até parece que o sujeito é presidente dos Estados Unidos.
­-- O presidente dos Estados Unidos ia adorar estar num helicóptero desaparecido neste momento. Aquele escândalo sexual...
­-- Quem pega um flash do Lucimar aqui pra mim? É da reunião do Copom.
­-- Já vai.
­-- Subi para a internet aquela notinha do descarrilamento.
­-- Quantos mortos? 53?
­-- Já subiu para 55.
­-- Bota na primeira página do Jornafax.
­-- Tá.
­-- Gente, tô indo. Se o Norberto Carlos morrer, me liguem numa hora humana.
Uma selva de computadores piscando em azul, amarelo, branco, vermelho. O auge do fechamento. Pessoas com caras cansadas ou tristonhas. Editores neuróticos. Café, café, café, cigarros, cigarros, cigarros. Más notícias. O mundo era feito de más notícias. Que imparcialidade que nada. Só as más notícias havia para o jornal. Ou as exóticas.
Jon conhecia aquilo bem. De repente ele avistou Sidney. Figuraça. Óculos, camisa verde quadriculada sobre a camiseta branca, jeans surrados. O que ele gostava nele era o jeito de cientista no jornalista. Só Alexandre Mondorinus, outro porralouca, tinha esse Dom do Desligamento além do Sidney. Mas Mondorinus parecia estar sempre viajando em ácido. Parecia um beatnik. Sidney não. Sidney parecia um professor aloprado. Era muito inteligente, completamente inseguro. Mas adorável.
­-- Sidney!
­-- Jon? Que faz aqui? Você não está de férias?
­-- Cara, preciso de um favor. Você ainda tem o Back Orifice X?
­-- Shh. Tenho. Por quê?
­-- Cara, descobre o endereço dessa mulher aqui.
­-- Tem que descolar o IP do computador da administradora do cartão, mané.
­-- Ah, você não consegue isso?
­-- Cadê minhas revistas de música?
­-- Eu devolvo tudo, prometo. Eu devolvo.
­-- Passa lá em casa amanhã. Dez da noite.
­-- Valeu.

Nenhum comentário: