25.11.01

Pelo menos, nesse fim de semana perdido, terminei de reler a biografia de Oscar Wilde do Richard Ellman. É sempre assim quando empresto a algum amigo um livro de Oscar (ou sobre ele): na hora da devolução, acabo relendo o volume. Já li várias outras biografias do genial irlandês, escritor que me acompanha todas as horas. Entre elas, as publicadas por Frank Harris, H. Montgomery Hyde, Hesketh Pearson, Philippe Julian e as memórias do filho mais novo de Wilde, Vyvyan Holland (1886-1967).
Mas o livro de Ellman é de longe o melhor, porque o necessário distanciamento do biógrafo torna Wilde quase um contemporâneo nosso. Ele discorre brilhantemente (e, em vários momentos, com uma ironia quase wildeana) sobre a vida do esteta-poeta-contista-romancista-dramaturgo-ensaísta-crítico-dândi-etc e demonstra de modo certeiro como a psique dual do homem se insere em todas as suas obras, mesmo nos momentos mais superficiais de suas comédias. No entanto, estou convencido de que a melhor peça que Wilde escreveu foi mesmo sua própria vida, com momentos divertidíssimos, lances sensacionais e uma tragédia absoluta no fim.
Um dos monentos cruciais do destino de Oscar (e destino era algo quase gravado em sua alma, ele que amava os gregos, em especial a Oréstia de Ésquilo) foi sua decisão de não fugir da Inglaterra quando soube que estava prestes a ser preso por "crimes contra a natureza"... Os biógrafos se debatem até hoje sobre esta questão. Uns dizem que ele fraquejou, outros que foi corajoso ao enfrentar a ira hipócrita da sociedade vitoriana; mas, a meu ver, Ellman está correto ao afirmar que, para alguém que fazia tanta questão de se mostrar um gentleman em sua vida pública (foi inclusive esta a "profissão" que designou para si em sua certidão de casamento, em 1884), ficar e agüentar o julgamento humilhante que o condenaria a dois anos de prisão com trabalhos forçados foi uma questão de dignidade pessoal (estava então comprometido com pessoas que se responsabilizaram por seus atos ao lhe obterem fiança), além de um inconsciente desejo de ser punido. Talvez, como sugere Ellman, ele visse a imortalidade chegando com o full circle de seu fado.
Ao mesmo tempo, estou lendo uma biografia de Mary Stuart, rainha da Escócia. Outra vida trágica. Mas isto é assunto para outro dia, quando for a hora de falar de reis e afins.

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