5.6.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XVII


-- O Prometeu do mito? -- perguntou Jon, incrédulo.
-- O próprio. Mas deixe-me ir até o fim. A águia demorou-se alguns minutos e alçou vôo novamente. Ofegante, ele se identificou e explicou porque eu estava ali: "Por ter morrido numa espécie de limbo espiritual, e não na realidade da Peste Negra", disse, "você veio parar no inconsciente coletivo que reúne seres míticos e personagens das grandes histórias de todos os tempos. Daniela -- este é seu nome, não? --, você está condenada a vagar por este limbo para todo o sempre... E desde já aviso: haverá boas companhias, como eu... mas também as criações mais terríveis da mente humana. Todas as epifanias e quimeras convivem aqui. E o pior é que algumas interferem nas outras...". "Aposto que é por isso que o Hércules ainda não te salvou por aqui, não?", perguntei por minha vez. Ele riu: "Ah, isso faz parte do mito. Hércules era o maior loroteiro da paróquia. Dos doze trabalhos ele só fez uns sete, pelo que me lembro. O resto, mandou um monte de 'laranjas' fazerem por ele..."
Jon ouvia e não sabia o que pensar. Mas suas pernas estavam paralisadas. Uma gota de suor salgou seu olho esquerdo. Daniela continuava:
-- Por fim, perguntei a ele se não tinha uma chance de retomar minha vida carnal. "Só se você achar uma conexão com o mundo vivo. E essa conexão tem de se encontrar com os três mestres que governam os limbos, e pedir por você."
A essa altura, Daniela olhou significativamente para Jon e, depois de um beijo em sua testa agora empapada de suor gelado, falou suavemente:
-- Adivinha quem é a conexão...
-- Aquele sujeito barbudo do elevador?
A risada de Daniela ecoou por todo o corpo de Jon.

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