17.6.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XXVIII


Jon e Daniela ficaram em silêncio. Não podiam acreditar no que estavam ouvindo.
-- É o seu destino, seu fado -- disse a besta. -- Está escrito. Não há como fugir.
Jon tremia feito vara verde, mas ainda conseguia pensar. "Ora, se não tenho como fugir, que diabos! Por que desistir dela?" Mas tinha medo. Apoderava-se dele a sensação de fazer parte de uma ordem cósmica e colossal. Via-se, já, como o personagem de alguma tragédia neo-pós-grega, torturado pelas coisas que faz justamente porque TEM de fazê-las.
Olhou de novo para Daniela e de repente ela assomava associada às brumas cruéis do Destino. Pareceu-lhe feia e deformada. Pela primeira vez quis voltar no tempo e jamais tê-la conhecido.
Ela percebeu que ele titubeava. Agarrou seu braço, mas o Destino estalou os dedos e ela foi jogada para a parede oposta da câmara por uma corrente enregelante de ar.
-- Ele tem de fazer isso sozinho -- disse a voz na mente de Daniela. E ela sabia que assim era. Ficou ali, imóvel, ofegante, contemplando Jon.
Este precisou de toda a sua força de vontade para voltar seus olhos para ela. Da antiga beleza, restara apenas uma coisa meio amorfa que o medo criara. Mas seria medo? Ou era assim mesmo que Daniela ficava, sob a ótica da Sina? Ele não mais sabia.
Então seus olhos encontraram os dela.

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