9.6.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XXII


O corpo dela era mais-que-perfeito: os seios, jovens pêras alvas de bicos achocolatados, emoldurados pelos ombros arrredondados mais apolíneos que já existiram. Os cabelos voavam diante da tela interdimensional que continuava passando seu filme; os fios pareciam uma chuva de fogo negro e vermelho diante das montanhas brancas do Everest que agora surgiam na parede. O ventre subia e descia suavemente reclinado sobre o sofá; as pernas, semiflexionadas, tinham o movimento gracioso das grandes aves, mas sua carne era lisa e estranhamente quente (estará ela mesmo morta?, pensou ele). As mãos suplicavam,delicadas, que ele se deitasse sobre ela; os lábios estavam entreabertos e tremelicavam de modo quase imperceptível.
Ele a tomou nos braços e a beijou de novo, recriando o turbilhão em seu cérebro que o prostrara no parque. Beijou devagar o corpo todo, sugando cada poro daquele milagre, fazendo a língua rodopiar pelas aréolas e suas pontas arrebitadas, encostando seu nariz no doce veludo sob o umbigo. Quando a penetrou, sentiu o vórtice em sua cabeça gemer e acelerar, e não demorou muito os dois explodiram de prazer no exato instante em que o teto do apartamento sumiu, substituído por um céu estrelado de Van Gogh. Estavam num jardim com cercas-vivas em forma de labirinto.

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