7.6.02

O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO E O DESEJO

CAPÍTULO XX


Ela fez um gesto com a mão e uma espécie de tela meio informe surgiu na parede à sua frente. Assim que a imagem clareou, Jon viu Prometeu, exatamente como ela descrevera, e a águia ocupada em devorar seu fígado; criaturas dos trabalhos de Héracles; e alguns escritores como Artaud, Álvaro de Campos (mas não Pessoa) e Shelley. Não havia palavras para descrever o estranho mundo que contemplava; talvez bastasse dizer que a impressão que tais visões lhe causaram foi realmente indelével para o resto de sua vida. Não que ela o tivesse tornado um zumbi, como alguns cogumelos ou microgramas excessivos de LSD podem fazer; mas ele sabia que sua alma se regozijava a cada lembrança das criaturas e paisagens que se sucediam naquele holograma límbico. A beleza das ninfas entretidas em seus jogos naturalmente sensuais, a sabedoria das criações de Shakespeare (ver Julieta consolando Hamlet foi inesquecível), a pujante ousadia da irmandade de Tolkien e a fúria autoconfiante de Rolando e Ganelão em justas intermináveis, o lirismo invencível de Rubem Braga... E ele chorou quando viu a beleza imaculada da modelo do retrato oval de Allan Poe.

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